Jornal Estado de Minas

Desde fevereiro, grupo de moradores do Sagrada Família reza em praça da capital

De terço nas mãos, faça chuva ou frio, homens, mulheres e jovens se encontram

Gustavo Werneck
- Foto: Tulio Santos/EM/D.A Press

Muito antes de o papa Francisco conclamar no Brasil católicos de todo o mundo a levar a Igreja para a rua, eles já estavam láDe terço na mão, unidos pelas palavras de fé e confiantes no poder da oraçãoDesde fevereiro, sempre na segunda quarta-feira do mês, um grupo de moradores do Sagrada Família e bairros vizinhos, na Região Leste de Belo Horizonte, reza na Praça Nilo Peçanha, sem se incomodar com a chuva, friagem, barulho dos carros e movimento no comércio.

Na noite gelada de anteontem não foi diferenteMais de 50 pessoas de todas as idades, de adolescentes a cabeças bem grisalhas, se reuniram diante da imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, que terá seu dia comemorado amanhãA ideia surgiu com o Terço dos Homens, existente há mais de um ano na Paróquia Sagrada Família, e chegou à praça em iniciativa que atrai pedestres, comerciantes e até mendigos.

Logo depois da missa das 19h, celebrada na igreja do bairro, famílias inteiras, amigos e integrantes do Terço dos Homens seguiram para a praçaDe forma espontânea, formaram uma roda, enquanto dois coordenadores, Arnaldo Loss e Davi Teodoro, cobriam uma pequena mesa para receber a imagem da padroeira do grupoPoucos minutos antes de começar a recitação do terço, o silêncio se tornou profundo, num momento de preparação para o contato com o divinoDepois cantaram e leram um trecho do evangelho“Apoio totalmente essa ideia de rezar na ruaContagia muita genteÉ uma experiência de piedade, devoção a Nossa Senhora
O grupo de leigos atua em obras sociais ajudando os necessitados”, afirma o titular da Paróquia Sagrada Família, padre José Januário Moreira.


Famílias

“Desde o início, pensamos numa forma de expandir o grupo de oração, que começou com 30 homensReservamos uma  quarta-feira do mês para um encontro com as famílias”, explicou Davi, radialista e assessor parlamentarA proposta se fortaleceu com o sonho de Washington Pereira Mendes, coordenador de merchandising, de levar o terço para as ruas, sempre das 20h às 21h“Mesmo sendo um dia de futebol, temos sempre participação masculinaNa campanha da Copa Libertadores vieram muitos atleticanosEles paravam, rezavam e depois seguiam para o Estádio IndependênciaSe estiver chovendo, rezamos do mesmo jeito”, disse Arnaldo.

Com a camisa do grupo de oração, Washington, casado e pai de dois filhos, observou que rezar também é assunto de homem“Muitos têm vergonha de chorar, de pegar o terço, principalmente em públicoDevemos manifestar a nossa religião e a praça é um lugar bem apropriado”, afirmouTambém com a camisa do grupo, o aposentado Paulo Sérgio Cotta Barra, de 57, lembra que o momento de oração é muito especial, pois “estamos falando com Deus”.

Espírito renovado
O casal Francisco de Assis Ribeiro, de 73 anos, e Rosiléa do Nascimento Ribeiro, de 68, comemorava 50 anos de união e escolheu rezar na praça ao lado dos amigos

“Estamos divulgando a nossa religião”, disse Francisco, que recebia os cumprimentos pelas bodas de ouroPara Rosiléa, é uma satisfação estar na praça“Daqui, podemos pedir para o mundo”, ressaltou, enquanto observava, com alegria, dois moradores de rua beijando a imagem de Nossa Senhora Aparecida“Confio no lá de cima”, comentou o mendigo, apontando o dedo para o céu e recolhendo seus pertences.

Marcos Vinícius da Silva e Marilda de Freitas da Silva, pais de um filho, celebravam 15 anos de casados“É a primeira vez que venho rezar aquiHoje está muito frio, mas a emoção é mais forte”, disse Marilda“Viemos para Deus nos abençoar”, ressaltou o marido, que faz parte do Terço dos Homens desde o início da formaçãoDurante a reza, o estudante Raphael Moreira, de 16, ficou abraçado aos pais, Marcelo Alves e Jane Alves: “Acho muito legal rezar com a família e outras pessoas aqui na Nilo PeçanhaParece que a gente sai renovado”, disse.

Protegida com casaco de couro e cachecol, a técnica em comunicação visual Luísa Carvalho, de 24, vê nitidamente o sentido de evangelização, tantas vezes proclamado pelo papa Francisco, durante visita ao Rio de Janeiro e a Aparecida, em julho, durante a Jornada Mundial da JuventudeAo lado, o amigo Henrique Wagner, de 25, estudante de direito, comentava que nunca viu nada igual“Já vi o Terço dos Homens, mas jamais na ruaÉ muito bonito”, afirmou o paraibano de João Pessoa há um ano residindo em BHOs mais jovens põem fé na iniciativaSem ligar para a baixa temperatura, Vitor de Castro Araújo, de 15, resumiu a noite de quarta-feira“A fé esquenta.”