Jornal Estado de Minas

Cerca de 50 pessoas se reúnem em piquenique em Lourdes contra expulsão de mendigos

A mobilização pelas redes sociais de mais de 2 mil pessoas para uma manifestação contra a polêmica tentativa de inibir a presença de moradores de rua não chegou forte às ruas

Jorge Macedo - especial para o EM
Juliana Ferreira


Além de alimentação, moradores de rua ganharam do movimento roupas e calçados - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press

A mobilização pelas redes sociais de mais de 2 mil pessoas para uma manifestação contra a polêmica tentativa de inibir a presença de moradores de rua no Bairro Lourdes, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, não chegou forte às ruasO piquenique  pela manutenção de mendigos na Praça Marília de Dirceu reuniu cerca 50 pessoas ontem à tardeCartazes com os dizeres “Menos intolerância, mais amor” e “Higienização é crime” foram afixados no local, onde foram servidos biscoitos, salgados, doces, feijão-tropeiro e frutasTambém foram distribuídos calçados e roupas

O pequeno comparecimento dos que confirmaram presença ao evento criado no Facebook não deu a visibilidade esperada pelos organizadores“Na semana passada, em quatro horas 1 mil pessoas disseram que viriamMas a gente não tem controle sobre issoVemos que há muitos a favor da causa, mas na hora de fazer acontecer não aparecem”, conta Pedro Castro, de 25 anos, integrante do Ato a Favor dos Moradores de Rua (Amor)Segundo ele, o objetivo é chamar a atenção da administração pública para ações sociais que atendam essa população com dignidade

O Comitê de Acompanhamento e Monitoramento da Política Municipal para a População em Situação de Rua informou que monitora as ações que ferem os direitos dessas pessoasA iniciativa da Associação dos Moradores do Bairro de Lourdes (Amalou), que recomendou a comerciantes não dar dinheiro, comida ou agasalhosos mendigos, além de providenciar a instalação de mais esguichos na praça, que seriam usados para espantar quem se deita nos bancos, recebeu críticas
A coordenadora do comitê, Soraya Romina, diz que vai procurar a associação para discutir o problemaO presidente da Amalou, Jeferson Rios, não foi encontrado ontem para comentar o assunto.

RESPEITO “Estamos ficando sem espaçoFico triste, porque não sujamos nada, só queremos descansar”, disse ontem o morador de rua Djalma de Souza Fernandes, de 51Há cinco meses na praça, ele trabalha como catador de material reciclável e ganhacera de R$ 10 por diaDiz ter escolhido o bairro por se onde mais encontra lixo“Já dormi em abrigo, mas é muita sujeiraE faça chuva ou sol, temos de passar o dia na rua”, dizSeu companheiro Leandro Jorge Rangel, de 28, afirma que está ali porque não teve outra opção

A biblioteconomista Rosângela Alves Maciel, de 58, considerou o ato na praça um desabafo“Sou a favor da dignidade, não importa onde eles estejam
Merecem atenção, carinho e respeitoTalvez sejam felizes na rua”, disse

LIMINAR Fiscais das nove regionais da Prefeitura de Belo Horizonte já estão sendo preparados para voltar a confiscar objetos de moradores de rua que estejam obstruindo viasOs agentes estavam com medo de agir devido à multa de R$ 10 mil imposta pela liminar judicial, que proíbe recolhimento de pertences pessoaisSoraya Romina diz que a instrução do comitê definiu como objeto pessoal tudo aquilo que o indivíduo consiga carregarOs grupos de fiscais vão agir em conjunto com a Polícia Militar.