A dona de casa Simone Malaquias dos Santos, de 35 anos, de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, exibe uma caixa de madeira em que caberia um gato“Ratoeira aqui tem que ser deste tamanho para aguentar”, dizNão fosse o terreno acidentado, a moradora do Bairro Nossa Senhora de Fátima poderia a ver, a cerca de 500 metros de sua casa, caminhões despejando o lixo de aproximadamente 30 cidades no município em que viveO destino dos detritos é o aterro sanitário que fica do outro lado do Rio das Velhas, em uma área de 265 hectaresSomente de Belo Horizonte, o volume diário despejado é de 3 mil toneladas de resíduos, o equivalente a 2.700 carros populares.
Simone mora com dois filhos no Nossa Senhora de Fátima há 18 anosO aterro vizinho, chamado Macaúbas, começou a ser implantando em 2003Antes, diz a moradora, não havia problemas com ratos, considerados excelentes nadadores, principalmente os de maior porteA vizinha Maria Cândida, uma costureira de 42 anos, faz a mesma reclamação“Minha casa chegou a ser infestada pelos ratosConversei com um médico, que me mandou queimar tudo com que eles tiveram contato na casaPerdi quilos de tecido”, afirma
A Vital Engenharia, que também é dona do aterro de Sabará, fornece cestas básicas para a população do Nossa Senhora de FátimaO atual prefeito da cidade, Diógenes Fantini (PMDB), afirma que a empresa, com a prática, “faz um agrado às lideranças comunitárias e à população do bairro”“Em uma cidade pobre, fazem esse tipo de atenuação do impacto da atividade deles”, afirmaDiógenes critica o contrato, com duração de 30 anos, fechado com a Vital pela prefeituraO termo foi assinado durante a administração de seu rival na política local, Wander Borges (PSB).
A contrapartida acordada com o município foi a mesma que a empresa assinou com Santana do Paraíso: o direito de processar o lixo da própria cidade no aterro, sem custosDe Belo Horizonte, que responde por dois terços de todo o volume diário enviado a Sabará, a empresa cobra R$ 33 por toneladaSegundo Diógenes Fantini, o valor, para cidades com entregas menores, oscila entre R$ 85 e R$ 115 a toneladaEntre os municípios que também operam com o Aterro Macaúbas estão Pedro Leopoldo, Lagoa Santa, Itaguara, Ibirité e Matozinhos.
No aterro, a movimentação de caminhões é constante“Temos muitos problemas no município com o trânsito dos veículos que transportam o lixo de outras cidades para cáO chorume (líquido que se forma pela decomposição do material orgânico) escorre pelas ruas
Para o prefeito, a obrigação de cuidar dos seus resíduos deveria ser de cada cidade“O Bairro Capitão Eduardo, em Belo Horizonte, não quis o aterro; Itaúna (Centro-Oeste de Minas) e Esmeraldas (Grande BH) também recusaramO empreendimento acabou vindo para SabaráMas não queremos que nossa cidade se transforme no depósito de lixo da Região Metropolitana de Belo HorizonteJá somos o destino do esgoto de toda a região”, afirma o prefeito, se referindo ao Rio das Velhas, que corta a cidade e recebe águas do Ribeirão Arrudas, destino da maior parte do esgoto da capital
O ex-prefeito de Sabará Wander Borges (PSB) afirma que a negociação para a implantação do aterro foi vantajosa para a cidade“Ganhamos um terreno de 120 mil metros quadrados às margens da BR-381 para construção de um Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet)”, dizWander afirma ainda que o Imposto Sobre Serviços (ISS) cobrado na operação do aterro gera recursos para a prefeitura“A questão é econômico-finaneiraCom mais dinheiro em caixa, é possível trabalhar mais para a população”, dizA Vital Engenharia não se manifestou sobre as perguntas enviadas pela reportagem do Estado de Minas sobre o funcionamento e impactos ambientais e sociais do aterro de Sabará, nem sobre o localizado em Santana do Paraíso