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Estado de Minas

Viva o amor no embalo do Poetinha

Vinicius de Moraes completaria hoje 100 anos, festejados com romantismo nas ruas e praças por casais de enamorados, provando que os Poemas e canções ultrapassam limites do tempo


postado em 19/10/2013 06:00 / atualizado em 19/10/2013 08:32

“Se você quer ser minha namorada/Ah, que linda namorada/Você poderia ser…”. Quem apurar o ouvido, e sentir um quê de nostalgia, quase poderá relembrar da voz de Nana Caymmi cantando de maneira tranquila, sem pressa, com bossa, a música Minha namorada. Belo Horizonte estaria mais romântica, inspirada pelo centenário de Vinicius de Moraes, o poeta das letras de amor? Na tarde de ontem, nas praças, ruas e bares da cidade, parecia não existir tempo ruim para casais apaixonados. Até mesmo debaixo de chuva, era possível flagrar o encontro de sombrinhas de flores miúdas, grudadas em cinzentos guarda-chuvas. Só as mãos restavam de fora, entrelaçadas, molhando na garoa persistente. Casais desavisados dividiam a marquise, sem se importar com a presença alheia. Trocavam carinhos.

“Só esperei ela crescer um pouco para eu me aproximar. Não é, amor?”, brinca Tiago Avelar da Silveira, de 25 anos, que conhece desde a infância a namorada Camila Tatiana de Jesus e Silva, estudante de enfermagem, de 24 anos. “Não, meu bem! Você é apenas um ano mais velho do que eu!”, sorri Camila. Os dois se entreolham, cúmplices. Correm juntos na chuva, atravessando o sinal de trânsito. Interrompem a pressa para trocar um selinho. E tornam a fugir da chuva, juntos.

São eles os “namorados públicos”, como descreveu o próprio Vinicius, em uma crônica com esse título. “Da mesma forma que os monumentos históricos ou artísticos, as belezas naturais, os bailes e cafés, os parques e jardins, os casais de namorados são coisa que pertencem ao patrimônio de uma cidade. Uma cidade sem namorados públicos não é uma verdadeira cidade”, ensinou o Poetinha, que teria ganhado o apelido no diminutivo de um dos parceiros de composições, o maestro Tom Jobim.

Em outro cenário inesperado, a rodoviária da capital, um casal troca beijos furtivos, sentado em desconfortáveis cadeiras de plástico. “É a primeira viagem de férias, depois de oito anos sem folga”, explica o pedreiro Michael Martins, de 25 anos, que vai passar 15 dias em Vitória (ES), na companhia de Natália Amâncio, de 23. Os dois estão em clima de lua de mel. Depois de se familiarizar com a letra de Minha namorada, Martins declara-se para a moça: “Não tenho força de expressão para dizer o que sinto, mas essa poesia é tudo o que eu gostaria de dizer.” “Você não precisa dizer nada… É só ficar assim, pertinho de mim”, elogia a moça, tímida.



Se viesse hoje a Belo Horizonte, Vinicius talvez estivesse agora sentado em uma mesa de bar no Bairro Santa Tereza ou em um dos cafés na Região da Savassi. Tomaria um uísque duplo, ou quem sabe a garrafa inteira. Encantado pelo desfile de beleza das mulheres de Minas, ele provavelmente engataria mais um caso na sua lista de nove casamentos. Nenhum deles durou mais de 10 anos e o mais curto não passou de um ano. Ele mesmo se explicou, no mais conhecido poema, Soneto da fidelidade, que se tornaria o hino dos casamentos atuais. “Eu possa lhe dizer do amor (que tive)/Que não seja imortal, posto que é chama./Mas que seja infinito enquanto dure”.

 

 

Ramon e Talita


Ramon Gonçalves Moreno, de 24 anos, que abraça a namorada como se fosse um bibelô.(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Ramon Gonçalves Moreno, de 24 anos, que abraça a namorada como se fosse um bibelô. (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Entre as praças públicas modernas, estão atualmente as praças de alimentação dos shopping centers. Os casais se encontram nas filas do cinema, tomam sorvete, descem juntos as escadas rolantes, abraçados. É o caso do desenvolvedor de sistemas Ramon Gonçalves Moreno, de 24 anos, que abraça a namorada como se fosse um bibelô. Baixinha, a vendedora de seguros Thalyta Rodrigues Lana, de 19, conta que ambos acabavam de comentar que, apesar de estarem juntos há apenas cinco meses, já parecem ter anos de convivência. Ela ostenta no pescoço um colar com coroa de rainha, oferecido pelo namorado com 15 dias de relacionamento. “Foi o primeiro presente que ele me deu”, derrete-se a menina, que por ser chocólatra, já ganhou quilos e quilos de chocolate.

MINHA NAMORADA

Se você quer ser minha namorada
Ah, que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exatamente essa coisinha
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ser

Tiago e Camila

 

Há quatro anos,Tiago declarou-se para Camila. Deu certo, apesar de os dois serem ciumentos(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Há quatro anos,Tiago declarou-se para Camila. Deu certo, apesar de os dois serem ciumentos (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Desde a infância, Tiago sempre teve uma paixão pela irmã mais nova do colega Luiz Felipe. Com longos cabelos tingidos de louro e olhos verdes, Camila se faz de durona. Jura que nunca havia percebido as intenções do rapaz. Há quatro anos, Tiago declarou-se. Deu certo, apesar de os dois serem ciumentos. “Gostei dessa parte da música em que ela é somente minha”, diz Tiago, brincalhão. “Você é o mais ciumento, Tiago?” “Nenhum de nós dois dá motivos para isso”, afirma o rapaz. Camila sai em defesa do namorado: “Entendo o que ele quis dizer: não é um sentimento de posse, mas de se sentir bem ao lado do outro, de querer estar sempre perto, até o fim da vida”. Os dois fazem juramento de passar a ter ciúmes controlados. Até que a morte os separe.

Minha até morrer

 Você tem que me fazer um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber por quê

Diogo e Gabriela


Gabriela mostra que mandou escrever Diego atrás do pescoço, ao lado de um coração.(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Gabriela mostra que mandou escrever Diego atrás do pescoço, ao lado de um coração. (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Sobrinha-neta do cineasta Helvécio Ratton, a estudante Gabriela Ratton, de 18 anos, sonha trabalhar com filmes publicitários. Ela se mudou para BH e deixou para trás na terra natal, São João del-Rei, o namorado de dois anos, o empresário Diego Batista, de 24. Para demonstrar o amor recíproco, os dois decidiram tatuar no próprio corpo o nome um do outro. Gabriela mostra que mandou escrever Diego atrás do pescoço, ao lado de um coração. Diego escreveu Gabriela na perna direita. Para não deixar dúvidas, imprimiu na pele uma caveira, símbolo da eternidade. “Ela é minha amada pra valer. Eu pertenço a ela e ela a mim”, diz ele.

Amada pra valer

Porém, se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer


Ariane e Fernando


A publicitária de São Paulo Ariane Barbosa de Lima Nakano, de 27, apaixonou-se aos 18 anos pelo designer Fernando Alves Nakano, de 28.(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
A publicitária de São Paulo Ariane Barbosa de Lima Nakano, de 27, apaixonou-se aos 18 anos pelo designer Fernando Alves Nakano, de 28. (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
A publicitária de São Paulo Ariane Barbosa de Lima Nakano, de 27, apaixonou-se aos 18 anos pelo designer Fernando Alves Nakano, de 28. O relacionamento, porém, não seguiu em frente. A vida deu várias voltas, ele quase se casou e ela, também. Há três meses, os dois se reencontraram por acaso, no Facebook. Fernando, muito formal, cumprimentou Ariane. Começaram a conversar pela rede social. No mês seguinte, encontraram-se no aniversário dela. “A química foi muito forte. Ele não me pediu em namoro nem nada. Pediu logo para me casar com ele”, contou a moça, que se casou no dia 4. Em lua de mel, tiraram fotos românticas no coreto da Praça da Liberdade.

Amiga, companheira

Você tem que vir comigo em meu caminho
E talvez o meu caminho seja triste pra você
Os seus olhos têm que ser só dos meus olhos
Os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem que ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois


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