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Estado de Minas

Sem fiscalização, frota de carros cresce 123% no interior de Minas

Só 52 cidades têm agentes de trânsito, o que sobrecarrega trabalho da PM


postado em 21/10/2013 06:00 / atualizado em 21/10/2013 07:15

Municípios do interior de Minas enfrentam dificuldades para controlar um trânsito cada vez mais engarrafado e perigoso. A disparada na frota de veículos – o número cresceu 123% em 10 anos, percentual superior ao registrado em Belo Horizonte, de 96% – provoca gargalos típicos de metrópoles e evidencia a falta de estrutura para lidar com o problema. Segundo o Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG), o total de veículos registrados no estado, excluindo a capital, subiu de 3,1 milhões em 2003 para pouco mais de 7 milhões até julho deste ano. Em contrapartida, houve pouca evolução no efetivo para fiscalizar motoristas. Apenas 52 das 853 cidades mineiras contam com agentes municipais de trânsito e mesmo prefeituras que dispõem do serviço reconhecem que há pouco pessoal.

O resultado é uma sobrecarga no trabalho de policiais militares de tentar coibir excessos. “Em muitas cidades o policial acaba sendo a autoridade, às vezes única, do trânsito”, reconhece o tenente-coronel Alberto Luiz, chefe da Comunicação da PM. No caso de policiais militares, o efetivo até aumentou, de 37,6 mil em 2004 para 44,7 mil este ano, segundo o Ministério da Justiça. Mas a corporação diz que o incremento não ocorreu para cuidar do trânsito. “O aumento do efetivo é para o enfrentamento da criminalidade”, disse o tenente-coronel Alberto Luiz.

Em cidades que registraram grande crescimento de frota, a fiscalização falha é uma das principais reclamações de motoristas. “Todos os dias fico 40 minutos parada no trânsito da Avenida João César de Oliveira e não tem fiscalização nenhuma. Não tem ninguém para organizar o trânsito”, reclama a dona de casa Eliane Amaral, de 40, moradora de Contagem, na Grande BH. Segundo o Detran-MG, a cidade tinha 130 mil veículos em 2003 e chegou a 289 mil em julho deste ano. Em Montes Claros, no Norte do estado, as queixas também se multiplicam. “No fim de tarde fico mais de meia hora parado no engarrafamento”, diz o entregador de gás Lucas Santos Gonçalves, referindo-se à Avenida João XXIII, um das vias mais movimentadas da cidade.

Em Montes Claros, a frota cresceu 8,2% em um ano: de 160.082 mil para 173.269, média de um veículos por 2,1 habitantes. O rápido crescimento da frota, combinado com ruas estreitas, falta de educação de motoristas e de fiscalização, contribui para acidentes. Segundo o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), são registrados na cidade em média 19 acidentes por dia. A maioria, segundo o Samu, envolve motocicletas, que respondem por mais de 40% da frota do município. Em todo o estado, o número de mortes por acidentes de trânsito cresceu: entre 2003 e 2011, por exemplo, os óbitos registrados em hospitais conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) passaram de 3.072 para 4.691, alta de 52,7%. A estatística exclui mortes em hospitais não ligados ao SUS e óbitos ocorridos no local do acidente.

A Empresa Municipal de Trânsito de Montes Claros (Mctrans) conta hoje com 30 agentes para a fiscalização do trânsito em toda a área urbana. A presidente da MCtrans, Ivana Colen, reconhece que o número é “insuficiente”. “Como qualquer outra cidade de médio e grande porte, Montes Claros tem vários problemas no trânsito”, diz Ivana. “Por ser polo regional e estudantil, nossa cidade tem a situação agravada por receber muitos veículos de outros municípios do Norte de Minas, trazendo pessoas que vêm em busca de tratamento de saúde e outros serviços”, acrescenta. Para tentar minimizar o problema, a MCtrans promete fazer concurso para dobrar o número de agentes até o início do ano que vem. “Vamos preencher 30 vagas de imediato, mas serão classificados 90. Os outros 60 serão chamados posteriormente”, diz a presidente da empresa.

Acidentes

Em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, o número de agentes subiu de 20 para 36 entre 2009 e 2013, mas autoridades reconhecem que o número não é o ideal para coibir infrações e reduzir ocorrências. Há uma semana, um acidente chocou a cidade: um jovem de 17 anos atropelou e matou uma mulher de 33. Ela estava no passeio, com o filho de 15, e teve que pular na frente do veículo para salvar o garoto. Este ano, 2.719 acidentes foram registrados, com 729 vítimas e 12 mortes. A cidade tem 116 mil veículos, quase o dobro dos 65 mil registrados há cinco anos.

“Nem todo município tem ruas largas, preparadas para receber esse fluxo de veículos. Divinópolis é uma cidade que tem o traçado razoável, e ainda assim sofremos”, diz o secretário de Trânsito e Transporte, Simoniades Quadros. “As facilidades para adquirir um automóvel cresceram muito e as pessoas aproveitaram. Estamos sofrendo as consequências disso”, completa. Um dos indicativos de que o trânsito precisa de reforço na fiscalização é a quantidade de infrações cometidas pelos motoristas. Entre 2011 e 2012, as multas passaram de 23.788 para quase 45 mil. A maior parte dos condutores é multada por falar ao celular, estacionar em desacordo com a regulamentação e não usar o cinto de segurança.

Simoniades Quadros acredita que somente uma mudança de comportamento, com incentivo ao tranporte coletivo, bicicletas e caminhadas, poderá melhorar a situação. “Enquanto isso não acontece, fazemos obras e alterações no trânsito”, diz.

(foto: ARTE EM)
(foto: ARTE EM)


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