Municípios do interior de Minas enfrentam dificuldades para controlar um trânsito cada vez mais engarrafado e perigoso. A disparada na frota de veículos – o número cresceu 123% em 10 anos, percentual superior ao registrado em Belo Horizonte, de 96% – provoca gargalos típicos de metrópoles e evidencia a falta de estrutura para lidar com o problema. Segundo o Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG), o total de veículos registrados no estado, excluindo a capital, subiu de 3,1 milhões em 2003 para pouco mais de 7 milhões até julho deste ano. Em contrapartida, houve pouca evolução no efetivo para fiscalizar motoristas. Apenas 52 das 853 cidades mineiras contam com agentes municipais de trânsito e mesmo prefeituras que dispõem do serviço reconhecem que há pouco pessoal.
O resultado é uma sobrecarga no trabalho de policiais militares de tentar coibir excessos. “Em muitas cidades o policial acaba sendo a autoridade, às vezes única, do trânsito”, reconhece o tenente-coronel Alberto Luiz, chefe da Comunicação da PM. No caso de policiais militares, o efetivo até aumentou, de 37,6 mil em 2004 para 44,7 mil este ano, segundo o Ministério da Justiça. Mas a corporação diz que o incremento não ocorreu para cuidar do trânsito. “O aumento do efetivo é para o enfrentamento da criminalidade”, disse o tenente-coronel Alberto Luiz.
Em Montes Claros, a frota cresceu 8,2% em um ano: de 160.082 mil para 173.269, média de um veículos por 2,1 habitantes. O rápido crescimento da frota, combinado com ruas estreitas, falta de educação de motoristas e de fiscalização, contribui para acidentes. Segundo o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), são registrados na cidade em média 19 acidentes por dia. A maioria, segundo o Samu, envolve motocicletas, que respondem por mais de 40% da frota do município. Em todo o estado, o número de mortes por acidentes de trânsito cresceu: entre 2003 e 2011, por exemplo, os óbitos registrados em hospitais conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) passaram de 3.072 para 4.691, alta de 52,7%. A estatística exclui mortes em hospitais não ligados ao SUS e óbitos ocorridos no local do acidente.
A Empresa Municipal de Trânsito de Montes Claros (Mctrans) conta hoje com 30 agentes para a fiscalização do trânsito em toda a área urbana. A presidente da MCtrans, Ivana Colen, reconhece que o número é “insuficiente”. “Como qualquer outra cidade de médio e grande porte, Montes Claros tem vários problemas no trânsito”, diz Ivana. “Por ser polo regional e estudantil, nossa cidade tem a situação agravada por receber muitos veículos de outros municípios do Norte de Minas, trazendo pessoas que vêm em busca de tratamento de saúde e outros serviços”, acrescenta. Para tentar minimizar o problema, a MCtrans promete fazer concurso para dobrar o número de agentes até o início do ano que vem. “Vamos preencher 30 vagas de imediato, mas serão classificados 90. Os outros 60 serão chamados posteriormente”, diz a presidente da empresa.
Acidentes
Em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, o número de agentes subiu de 20 para 36 entre 2009 e 2013, mas autoridades reconhecem que o número não é o ideal para coibir infrações e reduzir ocorrências. Há uma semana, um acidente chocou a cidade: um jovem de 17 anos atropelou e matou uma mulher de 33. Ela estava no passeio, com o filho de 15, e teve que pular na frente do veículo para salvar o garoto. Este ano, 2.719 acidentes foram registrados, com 729 vítimas e 12 mortes. A cidade tem 116 mil veículos, quase o dobro dos 65 mil registrados há cinco anos.
“Nem todo município tem ruas largas, preparadas para receber esse fluxo de veículos. Divinópolis é uma cidade que tem o traçado razoável, e ainda assim sofremos”, diz o secretário de Trânsito e Transporte, Simoniades Quadros. “As facilidades para adquirir um automóvel cresceram muito e as pessoas aproveitaram. Estamos sofrendo as consequências disso”, completa. Um dos indicativos de que o trânsito precisa de reforço na fiscalização é a quantidade de infrações cometidas pelos motoristas. Entre 2011 e 2012, as multas passaram de 23.788 para quase 45 mil. A maior parte dos condutores é multada por falar ao celular, estacionar em desacordo com a regulamentação e não usar o cinto de segurança.
Simoniades Quadros acredita que somente uma mudança de comportamento, com incentivo ao tranporte coletivo, bicicletas e caminhadas, poderá melhorar a situação. “Enquanto isso não acontece, fazemos obras e alterações no trânsito”, diz.