Jornal Estado de Minas

Vida revirada depois de emprestar documentos

Homem empresta documentos ao cunhado e acaba vítima de estelionato

Acusado de estelionato, foi preso por policiais federais, passou cinco dias na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, mas tudo é um engano

Daniel Camargos
  "Estou com medo. Estou dormindo mal, comendo mal e ansioso demais. Não sei o que me espera" - Eduardo Afonso da Silva, ajudante de serviços gerais - Foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press
Eduardo Afonso da Silva, de 51 anos, é ajudante de um escritório de advocacia em Santa Luzia, na Grande BHDivide o tempo entre o trabalho, em que faz serviços gerais, e os cuidados com um irmão deficiente auditivoNos últimos dias viu sua vida reviradaAcusado de estelionato, foi preso por policiais federais, passou cinco dias na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, e não consegue ter sono tranquilo“Eu chorei demais”, lembra Eduardo, sobre o momento em que foi detidoEle diz que chorou tanto que os policiais federais ficaram com dó e não o algemaramO agente penitenciário não teve coragem de raspar a cabeça dele, como é praxe no presídio“Cortou bem baixinho, mas não raspou”, detalha


O caso que resultou no drama de Eduardo teve início há quase 20 anos, quando ele emprestou documentos para um cunhado, que não está mais casado com a irmã deleEnquanto levava uma vida tranquila, em Santa Luzia, os documentos dele foram usados para abertura da empresa GM

CComércio Beneficiamento Ltda., que venceu uma licitação na Paraíba para fornecer merenda escolar por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)

Sem colocar a mão em um centavo da empresa e até sem saber que ela existia, Eduardo teve o nome envolvido em uma denúncia de estelionatoA empresa e ele foram acusados de terem fornecido à Conab 187 toneladas de flocos de milho précozido impróprios ao consumo humano“Os agentes da PF chegaram aqui no escritório procurando-o e levamos um susto”, lembra o advogado Hugo Werneck, do escritório Mário Werneck Associados, que se solidarizou com a causa do funcionárioOs advogados dividiram as despesas, enviaram um representante a João Pessoa, capital da Paraíba, e conseguiram o relaxamento da prisão, mas foi inevitável que Eduardo passasse cinco dias detido

Ingênuo

Werneck destaca que os outros acusados no mesmo processo conseguiram desmembrar o nome de Eduardo para ser julgado separadamenteTodos foram absolvidos e Eduardo teve a prisão decretada, pois tinha o endereço desconhecido pela Justiça Federal da Paraíba“Ele foi ingênuo de fornecer os documentos, mas teve muita sorte de estar aqui no escritório no momento da prisão”, destaca o advogado, que conseguiu com sua equipe que Eduardo fosse solto e está fazendo a defesa dele

“Quando fiquei sabendo fiquei muito preocupada

Ele é um rapaz muito bom, conheço-o desde meninoÉ ingênuoEle nunca faria uma coisa dessas”, afirma a vizinha de Eduardo, Marlene Moreira dos SantosA boa índole dele foi descoberta, inclusive, pelos cinco presos que dividiram a cela com ele, alguns acusados de homicídio“Eles só me chamavam de coroinha”, lembra Eduardo, que diz ter sido muito bem tratado pelos colegas de celaEnquanto o processo não é encerrado, ele desabafa: “Estou com medoEstou dormindo mal, comendo mal e ansioso demaisNão sei o que me espera”, lamenta Eduardo