(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Ex-estudantes da Fafich revelam assédio de professor

Centro Acadêmico de Ciências Sociais ouve antigos alunos para reforçar denúncias contra o professor afastado. Ele diz que acusações são infundadas e que nunca recebeu reclamações


postado em 25/10/2013 06:00 / atualizado em 25/10/2013 06:41

Ex-estudantes estão sendo ouvidos pelo Centro Acadêmico de Ciências Sociais da UFMG para informar se enfrentaram problemas de assédio moral e sexual nas aulas do professor Francisco Coelho dos Santos. Quatro confirmaram ter tido problemas, segundo a entidade, que pretende provar que o assédio é recorrente há pelo menos 10 anos. O professor está afastado da disciplina sociologia 2 para ser investigado por uma comissão de sindicância da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), que recebeu denúncias de alunos do curso de ciências sociais. Em entrevista ao EM ontem, Santos disse que as denúncias são infundadas e “cheias de inverdades”.


O diretor da Fafich, Jorge Alexandre Neves, confirmou que uma professora do curso de antropologia e uma de história foram escolhidas para compor a sindicância. Um aluno de filosofia também integra o grupo, que diz ter encontrado “incongruências”na denúncia, como a alegação de que Santos já havia sido afastado de turmas de outros anos. “Isso não procede. Nunca houve processo formal contra ele”, disse Neves. A comissão deve ouvir os envolvidos no caso nos próximos dias e encerrar a investigação em um mês.

O Centro Acadêmico de Ciências Sociais, no entanto, manteve a versão de que o professor já foi afastado anteriormente por comentários machistas e de cunho sexual. Segundo a secretária do órgão, Fernanda Maria Caldeira, não há registro porque a retirada dele da sala de aula foi decidida em conversas informais com o colegiado, sem processo administrativo.

Diretor da Fafich, Jorge Alexandre Neves diz que não houve processo formal anterior contra o professor. Paredes da escola foram usadas pelos alunos para denunciar declarações consideradas constrangedoras
Diretor da Fafich, Jorge Alexandre Neves diz que não houve processo formal anterior contra o professor. Paredes da escola foram usadas pelos alunos para denunciar declarações consideradas constrangedoras
Segundo a secretária, quatro ex-estudantes disseram ter sido vítimas de abuso verbal do professor. Uma aluna de 2004 disse ter ouvido “barbaridades”: “Ele falou que queria que minha relação com ele fosse na horizontal na mesa dele. Disse que tinha cara de boazinha, mas que apostava que em minhas relações íntimas eu era bem danada”.

Ela contou ainda que outros professores não levavam suas denúncias adiante, dizendo que tudo não passava de brincadeiras que não deveriam ser levadas a sério. O material será mostrado à sindicância durante os depoimentos.

DEFESA

Há 16 anos na UFMG, Francisco Coelho dos Santos disse que se sente muito “embaraçado” com a situação, pois os estudantes não têm compromisso com a verdade. “As pessoas estão dizendo o que querem, sem se importar com o que realmente aconteceu. Por isso, há uma grande dificuldade para eu me posicionar”, explica.

 Santos diz que já estava ciente de que as denúncias eram infundadas quando se afastou da disciplina sociologia 2, ministrada ao segundo período. “Eu já sabia que havia muita inverdade no que estão falando. Mas é uma situação muito desigual, porque a pessoa que se sente prejudicada pode guardar anonimato, eu não”.

Ele afirmou ainda que nunca tinha recebido reclamações sobre suas aulas antes e que continua comparecendo às outras turmas em vários cursos normalmente. Sobre a carta lida aos estudantes, na terça-feira, o professor negou que tenha assumido a culpa. “Falei apenas que há um grande mal-entendido e que lastimava que a aluna pudesse estar se sentindo prejudicada. Não tinha intenção alguma de causar prejuízo”, finalizou.

LIMITES

O caso na UFMG faz com que especialistas alertem para a perda do senso de autoridade de professores nas salas de aula. O pedagogo e consultor educacional Guilherme José Barbosa diz que, desde os anos 1960, quando houve a tentativa de acabar com o autoritarismo, a nova relação criada com os alunos não manteve o respeito que havia anteriormente. “Entramos na era da tirania dos filhos e alunos. À medida que o professor tenta sair do papel autoritário, esquece o limite e se torna um igual. Tem que haver distinção”, explicou.

Barbosa disse que, na sociedade atual, não há espaço para brincadeiras: “Isso é um grande risco que não podemos correr. O foco da aula não pode ser perdido”. Segundo ele, foi exatamente isso que aconteceu com Coelho. “Tenho a sensação de que houve perda de limite”.

O Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte e Montes Claros informou que não faz orientações sobre a metodologia na aula. O órgão informou que não vai se manifestar sobre o caso até o fim das investigações.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)