Luciane Evans
Poucos dias depois de instaladas em espaços públicos de Belo Horizonte, obras criadas por artistas internacionais já são vítimas do vandalismo. Quem esteve ontem na Praça do Papa, no Bairro Mangabeiras, na Região Centro-Sul da capital, para ver a novidade levou um susto: em vez de água num grande barco, há lixo e pichações. “Demos um presente para a capital e, em poucos dias, ele vai embora. Se as pessoas estão recebendo a visita dessa forma é triste. Tem de prezar pelo bom senso”, lamenta o curador da exposição, Marcello Dantas.
O BHÁsia, evento internacional de arte pública, chegou à cidade no dia 12 e se estende até 8 de dezembro. Em vários pontos da capital foram colocadas megainstalações criadas por artistas da Índia, China e Japão. O projeto passou no ano passado pelo Rio de Janeiro, onde, de acordo com o curador, não houve depredações nem vandalismo. “No Rio não tivemos esse problema como em BH”, explicou.
Instalada na Praça da Papa, a obra do indiano Subodh Gupta mostra uma enorme embarcação repleta d’água. A ideia era que a estrutura recebesse, além de seu próprio “oceano”, objetos do dia a dia doados pelos moradores. Mas não foi o que viram Maria José Siqueira e Elvira Carneiro. De Vitória (ES), elas chegaram no sábado a BH e quiseram ver as obras de perto. Ontem, foram à Praça do Papa. “Estou decepcionada com o barco. Não há água. Há lixo dentro dele. Quando a população vai ter educação?”, criticou Maria. Pai dos pequenos Vitor, de 8 anos, e Carolina, de 7, o comerciante Weider Linardi diz que a sujeira no barco foi a primeira coisa que chamou a atenção dos meninos. “Mesmo instalada em um bairro da Zona Sul, há esse problema. Muitas pessoas não sabem viver em comunidade”, lamentou.
A falta de água na embarcação, segundo ele, foi devida um problema de infiltração. “Houve um vazamento, mas isso será resolvido nesta semana. Colocaremos 90 mil litros de água”, assegura.
OUTRAS OBRAS Na Barragem Santa Lúcia, no Bairro São Bento, na Região Centro-Sul, onde foi instalada uma ilha, concebida pela artista chinesa Jennifer Wen Ma, não há registro de vandalismo. Porém, os pedalinhos que facilitam o acesso para os apreciadores da obra precisam de manutenção. “Há volante quebrado, mas isso é porque, para passar por entre a obra, muitas pessoas acabam batendo no pedalinho”, contou o monitor Amarildo Jorge da Silva.
Não há ocorrência de depredação na torre com uma casa no topo na Praça da Rodoviária, no Centro, do japonês Tatzu Nishi. Na Praça da Liberdade, a estrutura do artista chinês Zhang Huan está ainda em construção e deve ser inaugurada esta semana. “Existe muito mais gente curtindo do que pichando, rindo do que jogando lixo nas obras. Estamos no lucro”, conclui Marcello Dantas.
SERVIÇO
Ilha de Encantamento, de Jennifer Wen Ma
Ilha flutuante artificial composta de vegetação, madeira, terra e tinta nanquim preta
Local: Barragem Santa Lúcia
Visitação: Passeio de pedalinho através e ao redor da ilha todos os dias, das 10h às 18h
Deste corpo para outro, de Subodh Gupta
Barco de madeira repleto de água, com utensílios de cozinha, de alumínio; 18m de comprimento, 5m de largura
Local: Praça do Papa
Visitação: Todos os dias, aberto 24h
A correnteza de modernização, de Tatzu Nishi
Casa instalada em cima de chaminé metálica, revestida de tijolos, que produz fumaça;
Localização: Rodoviária, na Praça Rio Branco, 100, no Centro da capital
Visitação: Todos os dias, aberto 24h
O dragão azul-celeste, tigre branco, pássaro vermelho e tartaruga negra vivem em minério de ferro, de Zhang Huan
Estrutura metálica revestida de placas pré-moldadas de minério de ferro; piso de vidro iluminado
Local: Praça da Liberdade
Visitação: A inauguração será esta semana