Jornal Estado de Minas

Empresários do Santo Antônio pressionam contra o abandono de casas tombadas

Eles querem resolver situação caótica em casas tombadas pelo patrimônio municipal e planejam até fechar a entrada de imóveis para barrar depedração

Jorge Macedo - especial para o EM
Shirley Pacelli e Tiago de Holanda

Interiores dos imóveis, que já serviram de cenário para o filme O menino maluquinho, estão destruídos - Foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press.


Empresários vizinhos de cinco casas na Rua Congonhas, no Bairro Santo Antônio, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, querem resolver por conta própria a situação deplorável dos imóveis tombados pelo patrimônio municipal e já planejam até fechar a entrada das moradias, entre os números 487 e 511A, já que vidros quebrados, lixo acumulado e um forte odor de fezes humanas compõem o cenário local“Se até terça-feira os proprietários não tomarem alguma providência, vou fechar todas as entradas”, avisou o empresário Eduardo Ferraz Pereira, proprietário da boate Revista Viva, localizada a poucos metros.

Ontem, Pereira retirou dois moradores de rua de dentro do casarão, no nº 503“Não dou conta maisAgora estão tentando arrancar o portão”, desabafou, indignado, ao Estado de MinasA revolta do empresário em relação à situação dos imóveis é tamanha que ele já planejava fechar as entradas das casas com a ajuda de um pedreiroA ideia foi abortada, por enquanto, pois seu advogado o alertou de que ele poderia ser denunciado por fazer obras não autorizadas em bens tombadosPereira afirma que a construtora proprietária dos imóveis foi comunicada do problema e não se manifestou até o momentoDe mãos atadas, restou a ele fazer uma denúncia acerca da depredação no Patrimônio Histórico Municipal

Com um escritório em frente aos casarões, o advogado Francisco Maia conta que nessa semana sua sócia flagrou um homem consumindo crack  em seu portão, em plena luz do dia, por volta das 17h“A insegurança está grandeOs funcionários têm medo de sair
Está uma vergonhaÉ preciso tomar providência”, disseMaria Cecília Alves, servidora pública que mora na Rua Carangola, esquina com Congonhas, afirma que passou a ter medo de sair à noite“Acho um absurdo que as casas tombadas sejam destruídas dessa forma”, ressaltou.

 

No interior dos imóveis é possível perceber que a depredação em seis meses de abandono foi ainda maiorNa edificação do nº 503, onde chegou-se a abrigar um outlet, as portas de vidro foram quebradas, os interruptores foram arrancados e até o teto de gesso foi destruído para levar as telhas da casaNo nº 495, antigo lounge Club Andaluz, que se integra ao imóvel do nº 487, há restos de comida que atraem moscas, cacos de vidro espalhados pelo chão e o revestimento acústico foi arrancadoArmações de janelas, lâmpadas e seu bocais, vasos sanitários, torneiras e portas também foram furtados

Com a ajuda de Leandro Pimenta, chef e proprietário do The LAB Gastronomia, na Rua Congonhas, Pereira chegou fazer a limpeza nas entrada das casas, na tentativa de amenizar o odor exalado dos imóveisO trabalho não adiantou porque, no dia seguinte, o passeio amanheceu sujo novamente“O que a gente quer é apoio para conseguir revitalizar o local

Se não arrumarmos parceiros, nós mesmos fazemosPrecisamos é que os órgãos responsáveis notifiquem os proprietáriosO bairro tem tradição gastronômica e culturalNão podemos permanecer assim”, reclama Pimenta

Segundo ele, nos últimos três meses o movimento do restaurante caiu 30%“Um cliente meu teve o carro arrombadoAs pessoas ficam com medo de vir à ruaAlguns estabelecimentos comerciais já foram fechados por causa dessa situação”, explicaDono de um bar e restaurante vizinho, Oficina de Ideias, Evander Simão diz que seu faturamento teve queda de 40% nos últimos noventa dias“Esse problema está nos prejudicandoAlguns clientes meus já tiveram os carros arrombados O meu bar foi arrombado duas vezes entre julho e agostoEu sei que eles roubam para comprar droga”, aponta Simão.

CENÁRIO
As casas da Rua Congonhas serviram de cenário para a gravação de O menino maluquinho (1995), filme de Helvécio Ratton, baseado na obra do cartunista mineiro ZiraldoFoi também nesse tradicional quarteirão que o escritor mineiro Guimarães Rosa passou a infância, quando morou em uma casa na esquina das ruas Congonhas e Leopoldina, onde depois funcionou o famoso Bar do Lulu e hoje existe o Butiquim Santo Antônio

 

Enquanto isso...

…Reunião no
Luiz Estrela

Se no Bairro Santo Antônio imóveis tombados pelo patrimônio municipal estão sendo depredados, no Santa Efigênia, na Região Leste, a realidade é diferenteJovens de BH transformaram um casarão abandonado há cerca de 30 anos, pelo poder público, no Espaço Comum Luiz Estrela, centro de cultura e arte situado na Rua ManausO prédio pertence à Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), que o cedeu à Fundação Educacional Lucas Machado (Feluma), mantenedora da Faculdade de Ciências MédicasUm abaixo-assinado a favor do espaço está circulando pelas ruas do bairroDepois de a Polícia Militar tentar e não cumprir reintegração de posse, a pedido da Justiça e reivindicada pela Feluma, foi marcada uma reunião entre o governo de Minas e integrantes do Luiz Estrela amanhã, às 10hNa quarta-feira, às 9h30, haverá audiência pública na Assembleia Legislativa