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Estado de Minas O PERIGO CORRE AO LADO

Apenas cinco das 25 obras previstas para conter enchentes foram feitas em BH

Desde 2011 prefeitura não avançou, mesmo com a trégua de temporais no período


postado em 05/11/2013 06:00 / atualizado em 05/11/2013 07:35

Crianças às margens do Córrego Pampulha, no Bairro São Bernardo, Norte de BH. Chegada da temporada de chuva causa preocupação devido ao risco de inundações e falta de obras(foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS)
Crianças às margens do Córrego Pampulha, no Bairro São Bernardo, Norte de BH. Chegada da temporada de chuva causa preocupação devido ao risco de inundações e falta de obras (foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS)


Nem a folga que os temporais deram a Belo Horizonte, que não enfrenta inundações e desastres de maiores proporções causados por chuva desde 2011, foi aproveitada pela prefeitura para acelerar o Programa de Recuperação Ambiental de Belo Horizonte (Drenurbs). Há dois anos, a capital registrou precipitações pluviométricas que bateram o recorde histórico e só em dezembro chegaram a acumular 720 milímetros. De lá para cá, apenas cinco (20%) das 25 obras do Drenurbs previstas para conter córregos e melhorar a drenagem urbana foram feitas, segundo levantamento exclusivo do Estado de Minas na Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap). De R$ 1,5 bilhão estipulado para concluir o programa, que tem projetos de melhorias na Pampulha, avenidas Antônio Carlos, Cristiano Machado e Prudente de Morais e Rua Francisco Sá, apenas R$ 120,1 milhões (7,8%) foram gastos.


Estão em execução outras sete obras, com custo estimado de R$ 370 milhões, 24,3% do orçamento necessário para a conclusão do programa. São intervenções em áreas sensíveis e densamente povoadas, como a Avenida Várzea da Palma, em Venda Nova, córregos da Serra (Centro-Sul), Santa Terezinha (Pampulha) e Bonsucesso (Barreiro), que deverão se arrastar até 2015.

A maioria das bacias de contenção, adequações de drenagem e ampliação da capacidade de cursos d’água está incluída em 13 projetos básicos e executivos que podem se arrastar até 2016 e consumir R$ 1,03 bilhão. É nessa fase que estão obras prioritárias como o a ampliação dos canais dos córregos Cachoeirinha e Pampulha, na região das avenidas Cristiano Machado, Antônio Carlos e aeroporto da Pampulha. O projeto emergencial foi aprovado em 2012 pelo governo federal e inclui a retirada de 1.300 famílias e implantação de um parque linear para conter as cheias e revitalizar a região.

O problema é que a intervenção está prevista para começar só no ano que vem e terminar no segundo semestre de 2016. Uma situação que irrita moradores que já estão fartos de conviver com o perigo de inundações. “Minha mãe precisou do barco dos bombeiros para ser resgatada de casa em 2011, quando o córrego subiu por causa da chuva. Agora, vamos ter de esperar mais três anos para alguém fazer alguma coisa. É muito desprezo por quem vive à beira do perigo”, reclamou o pedreiro Ricardo Wagner de Souza, de 42 anos. Ele e o irmão, o motorista Paulo Roberto de Souza, de 48, contam que já perderam eletrodomésticos e mantimentos em inundações. “A gente paga IPTU, todas as contas, somos os últimos a ser lembrados. E moramos praticamente à beira da Cristiano Machado, uma das avenidas mais importantes da cidade”, criticou o irmão dele.

Mesma situação ocorre nos bairros Vila Aeroporto, São Tomás e São Bernardo, onde boa parte das casas foi demolida para dar lugar a uma unidade do Vila Viva à beira do curso d’água. “Quando chove muito a água entra nas nossas casas, invade o hall do aeroporto e quase inunda a pista de pouso. É muito triste a gente passar a noite sem dormir, com medo de que a chuva faça o córrego levar tudo o que você juntou na vida”, disse o aposentado Manuel Anderson dos Santos, de 58, há 30 vivendo na beira do riacho que passa atrás do aeroporto.

 Na avaliação do especialista em engenharia hidráulica e professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Bruno Rabelo Versiani, o Drenurbs deveria ser prioridade. “É uma das políticas mais urgentes numa cidade do porte de Belo Horizonte, já que todos os anos ocorrem problemas em regiões críticas como as avenidas Vilarinho e Prudente de Morais”, afirma.

Para ele, a implantação das bacias de retenção e as desapropriações previstas no Drenurbs é cara, mas essencial para trazer maior segurança para quem vive, trabalha e trafega nas áreas sob risco de inundação

A Sudecap afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não tinha condições de avaliar ontem os números e as informações levantados pelo EM, apesar de a fonte da apuração ser um relatório oficial do próprio órgão.

Chegada da temporada de chuva causa preocupação devido ao risco de inundações e falta de obras(foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS)
Chegada da temporada de chuva causa preocupação devido ao risco de inundações e falta de obras (foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS)


Integração de cursos d’água


O Programa de Recuperação Ambiental de BH (Drenurbs) foi apresentado em 2001 para integrar cursos d’água e evitar enchentes. A área de abrangência é de 51% da área total do município, envolvendo 47 sub-bacias, onde vivem 45% da população de BH. Em 2001, foram feitos diagnóstico hidrológico, cadastros de macro e microdrenagem, avaliação estrutural dos canais e implantação de um sistema de informações geográficas para a drenagem urbana. Foi lançada também a carta de inundações com indicações de locais com maior probabilidade de enchentes. Os principais objetivos são a despoluição de 73 córregos e 47 bacias, redução de riscos de inundações; controle de sedimentos e integração dos recursos hídricos naturais ao cenário urbano.



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