Oliveira – Uma verdadeira mobilização social em prol da leitura tomou conta de Morro do Ferro. Distrito de Oliveira, no Centro-Oeste de Minas, o vilarejo tem pouco mais de 1,7mil habitantes e uma escola estadual. Foi lá que nasceu o projeto Cultura e Leitura, que tem como objetivo presentear cada família da comunidade com três obras literárias : uma acadêmica, uma infantil e outra de tema variado. A iniciativa deu tão certo que, com as doações recebidas, foi possível criar um centro de cultura, com biblioteca e escola de dança.
Os livros são repassados aos moradores pelas mãos dos alunos da Escola Estadual São João Batista. Estudantes dos 3 aos 18 anos participam do projeto, lançado oficialmente no dia 25 de outubro. Em dias alternados da semana, as salas de aula ficam vazias e as turmas percorrem as ruas do distrito fazendo as doações. Mais de duas dezenas de livros já foram distribuídas e a expectativa é que todas as 470 residências da comunidade recebam exemplares até o final de dezembro.
O diretor da escola, Antônio Ananias da Silveira Freitas, mais conhecido como Duga, conta que a iniciativa partiu de ex-alunos, que queriam valorizar a cultura em Morro do Ferro e acreditavam que a leitura seria o primeiro passo. “Desde agosto pensávamos no que fazer. Então, surgiu o projeto Cultura e Leitura. No início, a ideia era presentear cada morador com um livro, mas conseguimos tantas doações que poderemos entregar três exemplares em cada casa.”
Depois de traçar o objetivo do projeto, Duga e os idealizadores do Cultura e Leitura começaram a fazer contatos e pedir doações. Ex-professores, jornalistas, autores e empresas acharam a proposta interessante e decidiram ajudar. Em pouco tempo, cerca de 5 mil livros, dos mais variados temas, chegaram à escola, e o sonho de popularizar a leitura foi além do imaginado. “Conseguimos tantas obras, de tão diferentes temas, que mesmo depois de distribuir os livros entre os moradores será possível montar uma pequena biblioteca, que funcionará na Casa de Cultura. A inauguração está prevista para o próximo dia 30.”
Ex-aluno da escola, Demóstenes Romano foi um dos que ajudaram a idealizar o projeto. Satisfeito com o resultado, acredita que esse é o primeiro passo para transformar Morro do Ferro em um lugar ainda melhor para se viver. “O livro centraliza conhecimento. Por meio dele conseguimos sair do local para pensar de uma forma global. É o instrumento de conexão que temos para aprimorar e melhorar. A cultura eleva a autoestima, aumenta o poder do pensamento”, diz.
FORA DA ESTANTE
Leitor de livros sobre a Segunda Guerra Mundial, o estudante Guilherme Geraldo Pacheco, de 12 anos, participa do projeto e sabe exatamente como apreciar o prazer da boa leitura. “Leio dois livros por semana, geralmente. Acho interessante essa iniciativa da escola, mas isso só vai dar certo se a população quiser. Tem que ler para aprender e não deixar o livro na estante.”
Com muito bom humor, Francisco Alves Pereira, de 83 anos, morador do distrito, recebeu os livros e aproveitou para mostrar que ainda guarda as obras que lia na época de escola. Dois livretos finos, encapados com folhas da revista O Cruzeiro, que ele segura com muito orgulho e cuidado: “A leitura é uma coisa muito bonita. Tem que aproveitar o que a vida tem de bom. O livro é isso”.
Ex-professora da Escola Estadual São João Batista, Darci Gonçalves de Andrade, de 75 anos, se emociona ao ver uma turma de alunos se aproximando de sua casa. Orgulhosa, acredita que Morro do Ferro entra em uma nova era. “Ler é cultivar o aprendizado. O primeiro livro que li foi Iracema, de José de Alencar. Isso aos 8 anos, tamanha minha paixão. Acho importante esse projeto e, com certeza, nossa comunidade vai crescer culturalmente. A leitura abre a cabeça das pessoas.”