Uma lista de 11 pessoas atacadas pela Gostosa do Horto. Pode parecer piada, mas se trata de uma cadela vira-lata que tem dado o que falar no bairro da Região Leste de BH, principalmente na Rua Manoel Caillaux. Os ataques começaram há cerca de um mês, quando a cachorra teve cinco filhotes e passou a protegê-los. O dono do animal, da ninhada e de mais três cães adultos é o morador de rua Vinícius Dias Campos. Avisado do problema, ele disse: “cachorro é bicho para criar solto”.
A ninhada da cadela está no barraco de dois quartos, sala e cozinha no passeio do Residencial Bougainvillea. “A cachorra tem de cuidar dos filhotes. Como vou deixar ela amarrada o tempo todo?”, questiona o morador de rua. A musicista Patrícia Valente Fortini, mordida na quinta-feira, ainda tem a marca das dentadas no pé. “Estava passando pela rua e ela veio, de repente, e me atacou”, contou.
Vinícius promete doar os pequenos cães assim que eles desmamarem. Até lá, a Praça Estevão Lunardi – no cruzamento da Manoel Caillaux com a Avenida Silviano Brandão – continua a ser o quintal dos nove animais.
Patrícia disse ter reclamado na Regional Leste e no Centro de Zoonoses no mesmo em que foi mordida. “De nada adiantou. Me deram dois telefones para ligar, mas sempre dá ocupado. Estamos reféns desses cães e dos moradores de rua”, reclama a mulher, que tomou a vacina antirrábica. A exemplo dela, quatro pessoas mordidas pelo cão também se vacinaram no Centro de Saúde Horto, segundo a Secretaria de Saúde.
O problema repercutiu também no restaurante Cantina da Ana. A proprietária, a empresária Ana Lúcia Bréscia, de 67, foi mordida no pé pela cadela. “Além de denunciar à prefeitura inúmeras vezes, tentei até conversar com moradores de rua, mas eles são agressivos”, disse.
Os transtornos no entorno da Praça Estevão Lunardi não se resumem aos ataques de Gostosa. A presença dos moradores de rua também incomoda a população pela obstrução do passeio com sofás, panelas, colchões, carrinho de supermercado e pela própria estrutura do barraco montada no local. “Ficou impossível de passar pelo passeio do nosso próprio prédio”, reclama a síndica, Maria Aparecida Braga.
Vinícius disse que é usuário de crack e maconha, mas não rouba nem trafica para conseguir a droga. “Durante o dia é um lugar tenso e à noite é ainda pior. Está perigoso demais”, afirma a síndica. O tema será um dos assuntos da reunião de condomínio marcada para hoje. Moradores pensam em cercar o prédio e não descartam a realização de um protesto na Silviano Brandão para cobrar providências.
A coordenadora do Comitê de Acompanhamento e Monitoramento da População em Situação de Rua, Soraya Romina, informou que diversas abordagens foram feitas aos moradores de rua na região. Mas, segundo ela, eles não podem ser levados à força ou ter pertences recolhidos . Segundo Soraia, serão feitos esforços com equipes do programa Consultório de Rua – de atendimento a usuários de álcool e outras drogas – e com entidades sociais para criar novas estratégias de atendimento. “Também vamos acionar o setor de Zoonoses para evitar que os cães mordam as pessoas. Essa é uma situação de saúde pública”, diz Soraya.
De acordo com a Secretaria de Saúde, a Gerência de Controle de Zoonoses da Regional Leste não recolhe animais que estão sob guarda de moradores de rua.