A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) pode ser responsabilizada por dano moral coletivo devido a trotes de caráter preconceituoso nos seus câmpus, como o ocorrido em março na Faculdade de Direito, quando fotos com veteranos e calouros fazendo alusões ao nazismo e em atitude racista provocaram a abertura de processo administrativo que investiga quatro estudantes. A possível punição da instituição foi confirmada pelo Ministério Público Federal (MPF), que deve se reunir nos próximos dias com o reitor Clélio Campolina e seu provável sucessor, Jaime Arturo Ramírez, que ainda precisa ter o nome confirmado pelo Ministério da Educação.
As ações foram definidas depois de audiência pública na manhã de ontem, na Faculdade de Direito. Representantes de estudantes e professores acusaram a reitoria de ser omissa em relação aos trotes e a outros casos que reacenderam a discussão sobre o desrespeito no câmpus, com o de um professor de sociologia afastado de uma disciplina sob suspeita de assédio sexual e o de um cartaz de uma festa do curso de veterinária com a imagem de uma vaca com corpo de mulher.
“Em fevereiro de 2011, o MPF fez recomendações à UFMG sobre medidas para minimizar os efeitos do trotes. Passados dois anos, o trote se mostrou com grau de preconceito maior. Os trotes são uma prática que deve ser abolida na faculdade”, disse o procurador, que concordou com o pedido do Diretório Central dos Estudantes (DCE) para a criação de uma ouvidoria que acolha as denúncias e tenha assessoria jurídica.
REGIMENTO
O regimento geral da UFMG não menciona especificamente os trotes, mas os que ocorrem são investigados pela instituição, segundo revelou a vice-reitoria Rocksane de Carvalho Norton ao Estado de Minas. “Qualquer forma de opressão, constrangimento ou violência por parte da comunidade acadêmica é proibida pelo regimento. Os trotes que chegam ao conhecimento das diretorias de unidade ou da reitoria são alvo de processos administrativos disciplinares. Já tivemos alunos punidos com suspensão e advertência”, explica. Ela reconhece que as providências não conseguiram acabar com a prática. “É insuportável conviver com os trotes, mas eles continuam ocorrendo, a despeito de todas as medidas que a gente vem tomando”, reforça.
O Conselho Universitário da UFMG, formado por estudantes, professores e servidores, discute uma resolução para proibir os trotes. Foi formada uma comissão específica para elaborar o documento, que deve ser aprovado nas próximas reuniões do conselho. Ele estabelece penas em acordo com as previstas no regimento geral: advertência, suspensão e exclusão.
Rocksane de Carvalho rechaça a acusação de que a reitoria vem sendo omissa. “No caso lamentável do professor de sociologia, por exemplo, a diretoria da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas abriu uma sindicância para apurar os fatos. O mesmo foi feito no caso do cartaz feito por alunos da Faculdade de Veterinária. A reitoria só tomaria alguma atitude se esses diretores não tivessem cumprido seu papel”, ressalta.
Como ficou?
Escola de direito
Resultado só em dezembro
Só em dezembro a Faculdade de Direito da UFMG deve divulgar o resultado do processo administrativo que investiga quatro veteranos do curso, acusados de atos nazistas e racistas em um trote em março. O processo foi aberto depois que professores recorreram contra a decisão da sindicância de indiciar 198 estudantes, entre vítimas, veteranos e a diretoria do Centro Acadêmico Afonso Pena (Caap). A sindicância, presidida pelo professor Hermes Vilchez Guerrero, concluiu que houve apenas desobediência à Portaria 34/2011, que proíbe festas e consumo de bebida alcoólica no câmpus. Ao final, a comissão recomendou oito dias de suspensão a 67 alunos do segundo período e aos integrantes da diretoria do Caap, além de uma advertência oral aos calouros. As penas não foram impostas.