Jornal Estado de Minas

Cães maltratados e abandonados em clínica veterinária no início do mês no Barreiro são adotados

Preferência por filhotes dificulta o encontro de novo dono para animais adultos

Tiago de Holanda

Janine Horta adotou a cadela Chuchu, que foi encontrada muito magra e faminta na clínica - Foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS

Sem água nem alimento, muito magros, presos em pequenos compartimentos de cimento e grades de metal, em meio a urina e fezes espalhadas pelo chãoEssa era a situação de nove cães resgatados no dia 1° pela Polícia Militar de Meio Ambiente de Belo Horizonte em uma clínica veterinária no Bairro Tirol, no BarreiroQuatro voltaram para os donos e cinco foram encaminhados para adoçãoA boa notícia é que todos encontraram novo larO último da fila foi a rotweiller Gaia, entregue ontem ao técnico em informática João Carlos Felisberto, de 33 anosA casa tem quintal grande, onde o animal pode correr entre árvores.

Ao decidir adotar Gaia, João Carlos não sabia dos maus-tratos“É triste saber de algo assimA gente acaba sofrendo por tabela”, lamentouO fato de a fêmea ser adulta (2 anos e meio) foi uma das razões para o rapaz acolhê-la“Sei que seria muito complicado alguém pegá-la, já que as pessoas geralmente preferem filhotesAlém disso, muita gente fica com receio de criar um rotweiller por achar que é um cão bravo, têm uma visão meio deturpada”, afirmou
Na nova casa, no Bairro Buritis, Região Leste, a cadela dividirá com outros sete cães os 700 metros quadrados do quintal“É quase uma minichácaraVou tratá-la com muito carinho”, disse.

Gaia estava na Clínica Cães e Amigos, no Bairro Aeroporto, na Região da Pampulha, onde ficaram também os outros cães resgatados cujos donos não apareceram: um dálmata macho e quatro fêmeas (uma pitbull, duas vira-latas e a rotweiller)Eles passaram por exames médicosGaia estava com câncer de mama em estágio avançado“A doença não havia sido tratadaTivemos de retirar as mamas com tumores”, contou Janine Ramos, diretora da ONG Asas e Amigos da Serra, mantida pela clínica.

Quando chegaram à clínica, os cães demonstraram muito medo, segundo Janine“Eles estavam subnutridos, dava para ver todos os ossos da costelaTiveram de tomar complementos polivitamínicosAssim que chegaram à clínica, comeram bastante
Todos teriam morrido em poucos dias se tivessem continuado naquele abandono”, contou

A pitbull tinha uma ferida na boca que deixava exposta parte da dentiçãoO dálmata estava com ferimentos recentes em duas patasComo eram cães com sinais de maus-tratos, não se esperava que fossem adotados tão cedoA primeira a receber novo dono foi uma vira-latas manca“Uma das patas está torta, como se tivesse sido fraturada e o osso não tivesse calcificado corretamente”, afirmou.

A cadela coxa foi batizada como Chuchu pela nova dona, a jornalista Janine Horta, de 43 anos“No início, ela estava muito magra e medrosa, mas ficou à vontade quando viu que estamos cuidando delaEstava muito magra, quase pele e osso, mas já engordou bem”, afirmou Janine, que tem cinco cães em casa, no Bairro Concórdia, Nordeste de BH, todos de raça indefinida e resgatados da ruaChuchu está morando no apartamento da mãe da jornalista, com outros dois cachorros e três gatos

DIFICULDADE Os cães resgatados da clínica no Tirol foram adotados em menos tempo que o normal, ajudados pela divulgação que o caso teve na imprensa e na internetAlguns animais postos para adoção, porém, nem chegam a arrumar novo lar“A maior dificuldade é em relação aos adultosA maioria das pessoas só quer filhote”, informou Mailce Mendes, presidente da ONG BastAdotar

A situação pode estar mudando, a julgar pelo resultado de uma feira de adoção realizada ontem pela ONG no câmpus Pampulha da UFMG, em parceria com a ONG Asas e Amigos da Serra e o Hospital Veterinário da universidadeDos cerca de 20 cães expostos, nove ganharam novos donos“Foi um número fantástico, bem superior ao esperado, considerando que são animais adultos”, aponta.

A estudante de ciências sociais Pricilla Caixeta, de 21 anos, decidiu adotar o vira-latas Amarelinho, de 2 anos“Ele é dócil, lindo, ruivo”, elogiou a moçaO cão vai morar na casa da mãe de Pricilla, em Patos de Minas, no Alto Paranaíba“Ele é muito agitado e lá tem um quintal grande”, dizE acrescentou: “É difícil cuidar de cachorro, mas vale a penaEle é companheiro, tem um amor incondicionalAcaba fazendo parte da família”.


ENQUANTO ISSO...
...Veterinário está foragido

O dono da clínica no Bairro Tirol, veterinário Orlando Antônio de Oliveira Júnior, está foragidoEle fugiu depois de saber que havia um mandado de prisão contra ele por não pagamento de pensão alimentícia, segundo a delegada de Meio Ambiente Andrea PochmannO crime de maus-tratos a animais domésticos pode ser punido com detenção de três meses a um ano, e multa, prevê a Lei 9.605, de 1998O Conselho Regional de Medicina Veterinária poderá instaurar processo ético contra Orlando Júnior, segundo o chefe do setor de fiscalização do órgão, Messias Francisco Lobo Júnior“Estamos levantando informações na Polícia Civil, Centro de Controle de Zoonoses de BH e Vigilância SanitáriaSe tiver ocorrido falta de ética profissional, os conselheiros e a diretoria executiva do conselho abrirão o processo”, explicouOrlando já é investigado em outro processo, baseado na “denúncia feita por uma pessoa que usou os serviços dele”, disse, que não informou detalhes.