Os dois policiais civis baleados por um PM na tarde passada no Bairro Juliana, Região Norte de Belo Horizonte, passam bem nesta quarta-feira. Segundo a assessoria de imprensa do Hospital Risoleta Neves, ao dar entrada, os policiais foram levados imediatamente ao pronto atendimento da equipe cirúrgica. O investigador Marcelo Batista Bento permanece internado no local. Ele está consciente, o estado de saúde dele é estável e não há previsão de alta. Ele não corre risco de morrer. O escrivão Marcelo Gonçalves Ferreira foi transferido na noite de terça-feira para o Hospital Vera Cruz, também consciente e estável. Conforme a instituição, ele deu entrada às 23h e recebeu alta às 7h desta quarta.
A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) informou, por meio de nota divulgada ontem, que as corregedoria das polícias Civil e Militar estão envolvidas nas investigações do caso. Na tarde de ontem, após o caso, os ânimos entre representantes das duas corporações ficaram acirrados. O quarteirão da Rua João Samaha, na esquina com a Rua Dr. Álvaro Camargos, no Bairro São João Batista, em Venda Nova, foi tomado por cerca de 120 policiais, que apontaram armas mutuamente, inclusive metralhadoras e fuzis. Comerciantes fecharam as portas e moradores ficaram assustados.
O tiroteio começou no Bairro Juliana, onde o escrivão, o investigador e outro policial da 3º Delegacia de Vespasiano, na Grande BH, foram abordar um suspeito que desceu de uma moto e entrou em uma papelaria na Rua Cheflera. Os civis usavam viatura descaracterizada para investigar um traficante e pensaram que o motociclista cometeria um assalto. O motorista da viatura foi até a loja e abordou o rapaz. Nesse momento, o cabo Samuel Cabral de Oliveira Andrade, de 30 anos, que é marido da dona da papelaria e mora ao lado da loja, viu o escrivão atravessando a rua com uma arma para dar apoio ao colega.
Pensando que o civil era bandido, o militar atirou e o atingiu no ombro. Marcelo trocou tiros com Samuel, que usava pistola calibre 380. Um tiro do PM acertou também o investigador Marcelo Bento, dentro da viatura descaracterizada. Apenas após a confusão eles perceberam o mal-entendido. “Ele chegou atirando, sem se identificar. Quando fui atingido, pensei que era um comparsa do homem que tinha reagido. Só depois de atirar é que o PM se identificou”, disse Marcelo. Os dois policiais foram levados para o Hospital Risoleta Neves, sem risco de morrer.
Policiais das duas corporações chegaram ao local, onde os ânimos ficaram exaltados. Militares queriam que o cabo, que está de atestado médico com entorse num tornozelo, fosse levado para o 13º BPM, no Bairro Planalto, onde é lotado. Os civis exigiam que o caso fosse registrado na 7ª Delegacia de Venda Nova. Após bate-boca, ficou acertado que a ocorrência seria enfim registrada na delegacia.
A dois quarteirões da delegacia, a viatura da PM que conduzia o cabo mudou de rumo e entrou na João Samaha. Viaturas da Civil fecharam o veículo militar, os policiais apontaram armas reciprocamente e discutiram. A confusão durou cerca de 30 minutos até que a coronel Cláudia Romualdo, comandante do Policiamento da Capital, e a delegada Talita Martins Soares, da Divisão Especializada de Operações Especiais (Deoesp), se entenderam. O cabo, o motociclista e outro civil seguiram para a delegacia de Venda Nova.
Segundo a Polícia Civil, a investigação definirá se o cabo será indiciado por dupla tentativa de homicídio. Ele responderá na Justiça comum, já que não estava de serviço. O subcorregedor da Civil, Elder Dângelo, informou que, se militares apresentarem queixas formais contra os civis, eles podem ser punidos.
Abordado pelos policiais civis, Alex Goulart, de 23 anos, contou na delegacia que o primeiro disparo foi dado pelo cabo, que não se identificou. Ele tem passagem por tráfico de drogas, estava sem habilitação e documento da moto e disse que foi à loja comprar cartão de celular.