A reunião do Conselho Municipal de Política Urbana (Compur) de Belo Horizonte para discutir o projeto Nova BH terminou ontem com a intervenção da polícia, depois de desentendimento entre o secretário-adjunto de Política Urbana, Marcelo Faulhaber, e manifestantes contrários ao texto. O projeto - que prevê uma operação urbana com negociação do direito de construir, aumento da altura de prédios em dois grandes eixos da cidade, com contrapartida de mais serviços e área públicas - foi retirado de pauta por pedido de vistas e só volta a ser discutido no Compur no fim de dezembro.
No dia 25, o Ministério Público estadual emitiu parecer em que recomenda aos conselheiros do Compur que "se abstenham de votar e aprovar" o projeto Nova BH. Os promotores querem o esclarecimento de pontos relativos à proposta. O MP suspeita, por exemplo, que a prefeitura tenha realizado dois processos licitatórios, com objetos distintos, para contratar as empresas que elaborariam estudos em separado para os eixos Pedro I/Antônio Carlos e Leste-Oeste, contemplados no Nova BH, para, em seguida, unificar os levantamentos sem "explicação aparente", conforme diz o parecer.
Ao longo de toda a reunião de ontem do Compur, realizada no prédio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, na Avenida Afonso Pena, 4.000, manifestantes criticaram o projeto e rebateram declarações de representantes da prefeitura no conselho que defendiam o projeto. Marcelo Faulhaber, que já foi secretário municipal de Desenvolvimento Econômico da capital, ao deixar a mesa entrou em confronto direto com os manifestantes. "Não tenho medo de vocês", disse. Ao ser chamado de "safado", ele fez um gesto obsceno para a arquiteta Fernanda Maia, 32 anos, que acompanhava o encontro.
Colegas da manifestante chamaram a polícia e passaram a gritar "Volta para o Rio". Faulhaber é carioca e já trabalhou no governo do prefeito da cidade, Eduardo Paes (PMDB). Mesmo depois de retornar à mesa, o secretário continuou a responder a insultos dos manifestantes. O presidente do Compur e atual secretário de Desenvolvimento Econômico de Belo Horizonte, o ex-prefeito de Juiz de Fora Custódio Mattos, pediu para que Faulhaber parasse. Mas o secretário só deixou de responder aos manifestantes na segunda intervenção do presidente do conselho.
Os policiais chegaram minutos depois do encerramento da reunião e pediram para que Faulhaber fosse à delegacia. O secretário afirmou que só iria se o prefeito Marcio Lacerda fosse acionado. Os policiais, então, decidiram chamar a arquiteta envolvida no episódio para colher dados para registro de boletim de ocorrência.
Apesar de poder participar das reuniões do Compur, Faulhaber não tem direito a voto no conselho. Não foi a primeira vez que o secretário entrou em atrito com manifestantes. Durante audiência pública para discutir a construção da nova sede da prefeitura no Bairro Lagoinha, na Região Noroeste, Faulhaber teria dito que as pessoas que participam desse tipo de reunião são as que perderam as eleições.