Imagine se a metade da população mineira, cerca de 9,6 milhões de pessoas, não estudasse nem trabalhasse. Pois esse é o contingente de jovens entre 15 e 29 anos no país que não frequentavam a escola e tampouco estavam inseridos no mercado de trabalho em 2012. Conhecido como geração "nem nem", eles correspondem a quase um em cada cinco jovens brasileiros nessa faixa etária (19,6%). Em Minas Gerais, a parcela é um pouco mais tímida, mas ainda assim surpreende: um em cada seis mineiros entre 15 e 29 anos (17,1%) nessa idade está longe da sala de aula e não tem emprego. Na região metropolitana de Belo Horizonte, eles correspondem a 15% dos jovens.
A maior parte são mulheres (70,3%), sendo que 58,4% tinham pelo menos um filho. A maior proporção dos jovens se encontrava entre os 18 aos 24 anos. Nessa faixa etária, eles somavam 23,4% do total. Enquanto no Brasil, a parcela "nem nem" se manteve estável em relação à pesquisa do ano passado, em Minas, eles cresceram no intervalo de um ano, passando de 20,5% para 21,1%. Boa notícia na RMBH, que diminuiu a parcela de desocupados nessa faixa etária de 18,7% para 16,8%.
"Há várias hipóteses que podemos levantar. A maternidade pode ter alguma relevância no fato de as mulheres não trabalharem. Além disso, o jovem pode ter saído da escola porque não interessava e não ter conseguido ocupação porque a formação escolar era insuficiente", afirma o analista do IBGE em Minas Antônio Braz. O especialista explica que a geração "nem nem" ficou conhecida, principalmente, depois da crise que assolou a Europa. "Muitos jovens com nível alto de formação perderam o emprego", conta.
Ontem foi mais um dia de frustração para André Nascimento Ribeiro, de 25 anos, morador do Bairro Lagoinha, na Região Noroeste de Belo Horizonte. Como vem fazendo nos últimos cinco meses, o jovem, com disposição e a carteira profissional nas mãos, foi à unidade do Sistema Nacional de Emprego (Sine), na Praça Sete, na esperança de conseguir uma ocupação. Com o ensino médio concluído, André conta que a situação não está boa. "Moro com meus pais e minha irmã, tenho algum dinheiro guardado para viver um tempo, mas meu objetivo é conseguir logo um trabalho", disse o jovem, que já trabalhou num cartório.
A jovem Isabella Caroline Henrique de Souza, de 18, moradora do Bairro Copacabana, na Região de Venda Nova, também está em compasso de espera. Ela interrompeu os estudos no segundo ano do ensino médio, devido à mudança de endereço da família, deixou o emprego como promotora de vendas e agora tem entrevista de emprego marcada para terça-feira. "Os empregadores pedem experiência, o que, na minha idade, é praticamente impossível. Dessa forma, há poucas oportunidades".
Enquanto há a turma da geração nem nem que vai à luta, uma parte prefere esperar sentada. Ou deitada. Ao meio-dia, quando não está dormindo, R., de 25 anos, joga videogame. "Estou dando um tempo, ando com preguiça", afirma o jovem morador da Zona Sul da capital. Sem ânimo até para ir à academia de ginástica, R. diz que não concluiu o curso de administração de empresas, pago pelos pais em faculdade particular. "Qualquer horas eu termino", resume a história.
Essa geração também revela as marcas das dificuldades da educação no país. De acordo com a pesquisa, entre os "nem nem" de 18 a 24 anos - que, na teoria, teriam que estar com o diploma do ensino médio nas mãos -, 43,2% não tinham concluído os últimos anos da educação básica. Entre as pessoas de 15 a 17 anos que não frequentavam a escola e não trabalhavam, 56,7% não tinham ensino fundamental completo. Em tese, nessa idade, eles já deveriam estar no ensino médio.