Destaque no acervo do Memorial da América Latina ficou exposto em BH nos últimos dias

As atenções dos mineiros se voltaram ontem para o Memorial da América Latina, em São Paulo, que tem como destaque do seu acervo o painel Tiradentes, considerado uma das obras mais célebres de Cândido Portinari (1903-1962) que teve em exposição, até no último domingo no Cine Theatro Brasil, em Belo Horizonte, o monumental Guerra e Paz.

Com 18m de comprimento por 3m de altura, a obra Tiradentes ficava no Colégio Cataguases, atual Escola Estadual Manuel Inácio Peixoto, em Cataguases, na Zona da Mata mineira. Hoje está no Salão Atos do memorial, espaço que fica a cerca de 200m da área em que o incêndio começou.

O quadro foi pintado há 63 anos especialmente para a escola por encomenda do então proprietário do estabelecimento de ensino, Francisco Inácio Peixoto. A sugestão para a realização da pintura partiu do arquiteto Oscar Niemeyer (também autor do projeto de construção do colégio edificado entre 1945 e 1949. Em 1975, a obra foi adquirida pelo governo paulista, que a levou para a sua sede, o Palácio Bandeirantes, e posteriormente a transferiu para o memorial inaugurado há 23 anos e erguido com projeto de Niemeyer (1907-2012).

O filho do artista, João Cândido, já disse ao Estado de Minas que até hoje “os mineiros sentem a dor da perda desse tesouro, como se fosse uma ferida aberta”. A escola, o segundo projeto de Niemeyer na cidade, conta ainda com paisagismo de Roberto Burle Marx, painel de pastilhas de Paulo Werneck e a escultura O pensador de Jan Zach. Com o painel Tiradentes, o artista natural de Brodowski (SP) conquistou, em 1950, durante o 2º Congresso dos Partidários da Paz, em Varsóvia, na Polônia, a Medalha Internacional de Ouro da Paz, sendo representado pelo escritor baiano Jorge Amado (1912-2001). Um detalhe curioso do quadro é que o rosto do mártir Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, até então retratado à imagem e semelhança de Jesus Cristo, foi inspirado no líder comunista Luiz Carlos Prestes (1898-1990).

Sobre o seu trabalho em Cataguases, Niemeyer declarou: “Lembro-me, com muita satisfação, do projeto de um ginásio que realizei para Cataguases. Eu próprio, sempre empenhado em promover a boa integração entre a arquitetura moderna e as artes plásticas, recomendei o Tiradentes ao Portinari. Consegui convencer o meu amigo Peixoto a adotar minha ideia, colocando esse belíssimo mural na extensa parede de 20 metros de comprimento por mim projetada”.

Minas tem mais de 300 obras de autoria de Portinari, distribuídas em coleções particulares e prédios públicos. Os destaques vão para monumentos modernistas no conjunto arquitetônico da Pampulha, a exemplo da Igreja de São Francisco de Assis, Iate Tênis Clube e Pampulha Iate Clube (PIC), que tem o painel Peixes, e trabalhos em Cataguases e Juiz de Fora, na Zona da Mata. Há alguns anos, surgiu a ideia de se produzir uma réplica do painel Tiradentes, mas a proposta não foi adiante.