“Vou conseguir consertar todo o mal que eu fiz”. Essa é a vontade da gerente de lanchonete Renata Soares da Costa, de 19 anos, que confessou ter doado o próprio filho de dois meses de idade para um casal do Rio de Janeiro. A mulher afirma que vive com medo e, desde o ocorrido, perdeu contatos com amigos e parentes. Em entrevista ao EM.com.br, ela contou que tem a esperança de conseguir na Justiça o direito da guarda compartilhada com o ex-companheiro, o vigilante Johney Lima Santos Nulhia, de 24 anos. Costa contou também que entregou o bebê no momento em que estava com “perturbação na cabeça”.
Depois que deixou a prisão, Renata está morando em uma casa cujo endereço é mantido em sigilo. Ela diz que saiu poucas vezes à rua depois de ter entregue o pequeno Arthur ao casal de adolescentes no entorno da rodoviária de Belo Horizonte. “Estou muito desesperada, porque tudo que eu tinha na minha vida eu perdi. Perdi acesso ao meu filho, à família que eu tinha dentro de casa, o acesso à sociedade, e a minha casa. Acho que não precisava chegar nesse extremo. A única coisa que tenho é a roupa do corpo. Não tenho quase nem roupa para vestir”, diz a gerente. Para ela, tudo isso não será problema se ela conseguir reaver o contato com o filho. “A partir do momento que terei acesso novamente ao meu filho, tudo vem depois. Eu batalho e consigo tudo de novo”, conta.
A gerente contou que a ideia de doar o filho aconteceu em um momento em que estava passando por problemas psicológicos e dúvidas. Ela afirmou que teve uma relação extraconjugal em novembro do ano passado e, quando Arthur nasceu, viu que ele possuía algumas características do amante. Por isso, desconfiou da paternidade. “Na verdade, primeiro erro depois dessa história foi que não conversei com ninguém e não pedi a opinião de ninguém. Agi com pertubação na minha cabeça. Eu ficava sozinha lá em casa e tinha apenas pensamento ruim. Eu acho que preciso de um tratamento psicológico sim e vou correr atrás disso. Pois se eu estiver com qualquer problema, eu vou tratar porque quero ter acesso ao meu filho”, afirmou a jovem.
Agora, mais tranquila, Renata diz que poderia ter agido de outra maneira. “Agora que consegui enxergar a gravidade da situação. Todos estão conversando comigo e por isso eu entendi que eu precisava apenas fazer o exame de DNA. Poderia ter feito o exame por minha conta sem que ninguém ficasse sabendo. Infelizmente, fiz da pior maneira possível, mas vou correr atrás disso e vou conseguir consertar todo o mal que eu fiz”.
A advogada de Renata, Claudinéia de Souza Gonçalves de Araújo, afirmou que vai entrar com uma ação cautelar para que sua cliente possa amamentar o filho, o que não está acontecendo desde de que ela deixou a cadeia. “A Organização Mundial de Saúde recomenda que o bebê seja amamentado em seio materno até os seis meses de idade, e isso não está acontecendo. Esse é um direito do Arthur”, disse em relação à recomendação da OMS. A defensora também vai pedir que o Ministério Público não deixe que a criança fique sendo exposta. “A criança não pode ser expostas desta maneira na mídia. Estranhei que nenhum promotor não levantou isso. Por isso, vou entrar com uma medida de proteção”, comentou.
Entenda o caso
A mãe da criança procurou a polícia por volta de 14h de sábado, quando estava no Centro de BH para comprar um presente para a cunhada. Renata disse que foi abordada por um casal de orientais, que estava acompanhado de um brasileiro armado. Os três tomaram o bebê do colo da mãe e fugiram em um carro preto.
Na versão da mulher, o rapto aconteceu próximo à passarela do metrô da Estação da Lagoinha, no Centro de BH. A mãe desceu do trem, andou pela passarela de pedestres até a esquina das ruas 21 de Abril com Oiapoque, na região dos shoppings populares.
Na última segunda-feira, a Polícia Civil pressionou a mãe da criança depois de receber uma denúncia anônima. Conforme o delegado Vanderson Gomes, chefe do Departamento de Operações Especiais da Polícia Civil (Deoesp), Renata confessou o crime e disse que entregou o bebê para um casal do Rio de Janeiro nas imediações da rodoviária de Belo Horizonte, na tarde do último sábado.
Depois da confissão da mãe, a polícia mineira acionou a Delegacia Antissequestro (DAS) do Rio de Janeiro. Com as informações, os agentes conseguiram encontrar a criança em uma casa em Vila Valqueire, entre Jacarepaguá e Bangu. O casal de adolescentes foi detido.
Segundo a Polícia Civil, a negociação da entrega da criança aconteceu através de um site. Desde o dia 4 de novembro, Renata trocou 97 e-mails com o casal carioca que recebeu o bebê. Ela afirmou que entregou o bebê, pois tinha dúvidas em relação a paternidade. Na última segunda-feira, um exame de DNA comprovou que o vigilante é pai do garoto.