No teste da balança, nota baixa para alunos de escolas particulares de Belo Horizonte, que carregam muitos “quilinhos” além dos cadernos, livros e apostilas nas mochilas. As instituições privadas concentram o maior percentual de crianças e adolescentes acima do peso na capital – 39% dos estudantes do 2º ao 6ª ano do ensino fundamental. É o que revela a pesquisa “Prevalência do excesso de peso em escolares do município de Belo Horizonte”, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O sobrepeso e a obesidade estão presentes, sobretudo, entre os meninos de 5 a 9 anos de colégios particulares, mas o alerta é geral. Segundo o estudo, quase um terço dos alunos precisam emagrecer e fazer as pazes com uma vida saudável, longe dos salgadinhos, frituras e guloseimas.
O cuidado com a balança desde cedo é questão de saúde, como reforça o nutrólogo e pediatra Joel Lamounier, professor da UFMG e um dos orientadores da dissertação. “A obesidade é só a ponta de um iceberg. Metade das crianças obesas tende a ser adultos obesos”, afirma. As complicações podem começar a aparecer já na infância. “O excesso de peso favorece doenças cardiovasculares e diabetes”, reforça.
O problema é mais acentuado nas escolas particulares, que têm 39% dos alunos acima do peso, contra 26% das públicas, estaduais e municipais. Os meninos estão mais gordinhos do que as meninas, com, respectivamente, 35% e 27% de pessoas com sobrepeso e obesidade. De acordo com a dissertação, os quilos a mais prevalecem entre as crianças de 5 a 9 anos. “A questão é prevenir o mais cedo possível”, afirma a pesquisadora, que concluiu o estudo este ano. Renata Abreu destaca que o excesso de peso está ligado ao contexto familiar, à genética, aos hábitos de vida, mas há estudos que apontam influência do fator econômico. “Talvez na escola particular, pela questão socioeconômica, o percentual seja mais alto. Há mais facilidade de acesso aos alimentos, principalmente industrializados, os meninos têm mais videogames, geralmente vão de carro para a escola”, diz.
O presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais, Emiro Barbini, não se assustou com o resultado. “Os meninos têm mais facilidade de ir a fast food e comprar guloseimas”, afirma ele, reforçando que a Lei da Merenda Saudável, de 2009, tem ajudado a mudar o panorama. “As escolas se envolvem mais com a questão, mas os pais também precisam participar. A família é determinante”, ressalta.