Não só o patrimônio de mais de R$ 10 milhões da empresária Kênia Mara de Souza, de 39 anos, de Belo Horizonte, impressiona, como também a extensa ficha criminal que ela tem. Proprietária de uma grande empresa do ramo de aluguel e venda de transformadores trifásicos, além de imóveis, lotes e veículos de luxo, ela foi apresentada ontem no Departamento de Investigações de Crimes contra o Patrimônio e presa em 6 de novembro no Bairro Castelo, Região da Pampulha. A mulher está sendo investigada como mandante de três assassinatos, nos quais teria participação ativa. Dois deles, cometidos em fevereiro e maio deste ano, estariam ligados a uma batalha jurídica envolvendo um terreno no Bairro Caiçara, na Região Noroeste de BH. O outro crime seria um latrocínio (roubo seguido de morte) ocorrido em 19 outubro.
A vítima do latrocínio, o caminhoneiro José Carlos de Lima, de 49, foi morta com um tiro no rosto durante o roubo de dois transformadores que trouxe de São Paulo para entregar numa empresa às margens do Anel Rodoviário. O corpo do motorista foi encontrado, horas depois do sequestra, na Avenida Renato Azeredo, no Bairro Santa Paula, em Ribeirão das Neves, na Grande BH. De acordo com a Polícia Civil, os equipamentos roubados a mando de Kênia, avaliados em R$ 360 mil, estavam escondidos num galpão da empresa dela, no Bairro Castelo, Região da Pampulha.
O ex-funcionário dela David de Oliveira, de 22, apontado como um dos autores pela morte do caminhoneiro, também foi apresentado. Kênia Mara já estava sendo investigada pela 6ª Delegacia de Homicídios quando investigadores da Delegacia Especializada de Furtos, Roubos, Antissequestro e Organizações Criminosas (Deroc) começaram a fazer levantamentos sobre a participação dela no assassinato de José Carlos de Lima.
CARGA VALIOSA
O delegado Hugo Arrudas disse que eles descobriram que a entrega dos transformadores em BH era uma transição sigilosa por se tratar de uma carga valiosa. “Kênia contratou o David para roubar os transformadores e a carreta e o cavalo mecânico que os transportou de São Paulo. Ela determinou que David contratasse um comparsa. Foi a própria Kênia quem levou os dois homens até o local onde os equipamentos seriam descarregados. Eles sequestraram o caminhoneiro e roubaram a carga e o veículo”, contou Hugo Arruda.
Durante os trabalhos sobre o latrocínio, a equipe do Deroc descobriu que Kênia Mara já estava sob investigação pelo assassinato do comerciante Fábio Baptista Mello, dono de uma venda de peixe, em 24 de maio, no Bonfim, Nordeste de BH. A vítima brigava na Justiça com Kênia por causa da reintegração de posse de um terreno no Caiçara. Nos levantamentos sobre a morte do comerciante, o nome de Kênia também surgiu como suspeita de mandante do assassinato de um homem que era testemunha de Fábio no processo de reintegração de posse do terreno no Caiçara. A Polícia Civil informou que além dos três assassinatos, Kênia Mara responde a processo por uso de documentos falsos, falsificações de documentos públicos e formação de quadrilha.
O advogado da empresária Kênia Mara de Souza, Paulo Roberto Pagne Moreira, disse que sua cliente negou qualquer envolvimento do latrocínio e como ele não teve acesso ao processo dos outros dois assassinatos, ele não poderia se pronunciar. Moreira disse que irá entrar com pedido de habeas corpus. A empresária está presa no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) Centro-Sul.