"Quanto tá Itaperuna, Cida?", perguntou a cliente, referindo-se ao câmpus da Universidade Iguaçu (Unig) em Itaperuna, no interior fluminense. Ela queria saber quanto teria de pagar para conseguir uma vaga na graduação de medicina sem precisar se preocupar em ter bom desempenho no vestibular. “Tá 120 (mil reais)”, respondeu Maria
Aparecida Calazani, que ficaria com uma parte do dinheiro e daria o resto para um funcionário da instituição. “É adiantado, não é?”, tornou a questionar a primeira. “Tem que ser tudo adiantado, para o nome sair na lista. É só você confiar em mim. Com certeza, vai entrar”, garantiu a golpista.
A conversa está em uma das escutas telefônicas incluídas na investigação da Polícia Civil de Caratinga, no Vale do Rio Doce, que até amanhã pretende concluir o inquérito e pedir à Justiça a quebra do sigilo bancário de 21 suspeitos de participação no esquema que fraudava vestibulares de medicina em ao menos 11 faculdades particulares, oito em Minas e três no Rio de Janeiro.
Segundo o delegado Fernando Lima, as contas-correntes dos envolvidos estão bloqueadas desde o dia 3, quando forma presos em operação simultânea nos dois estados. “Também há contas que seriam de laranjas”, diz.
Maria Aparecida, de 37 anos, é apontada pela polícia como uma das coordenadoras da quadrilha. Ela era um dos “corretores”, pessoas responsáveis por atrair candidatos às vagas e oferecer o serviço. A venda direta de vaga era uma das modalidades de fraude e ocorria em pelo menos três das 11 instituições. Havia também uso de celulares, por meio dos quais os candidatos recebiam respostas em mensagens de texto, e utilização de pontos eletrônicos.
Dos 21 integrantes do bando presos, nove já foram soltos e deverão responder ao processo em liberdade, segundo outro delegado que trabalha no caso, Diogo Medeiros. A polícia liberou dois suspeitos no mesmo dia da operação e decidiu não pedir a prorrogação da prisão temporária de outros sete, soltos no sábado.