Jornal Estado de Minas

Passageiros da capital reclamam de serviço prestado pelos taxistas

Objetos deixados nos carros que não são devolvidos, tratamento inadequado e problemas com troco são as principais reclamações

Juliana Ferreira
O violão de estimação de Denilson Fonseca de Souza se foi em uma corrida de táxi
O instrumento, adquirido em 1991, era o xodó do administrador, que conseguiu comprá-lo após juntar dinheiro com o irmão“Usei para tocar no aniversário de 80 anos da minha mãe, tinha muita história com eleNão tinha um arranhão”, lembraO cuidado era tanto que decidiu reformá-loDepois de pegar o instrumento pronto, foi para um bar, de onde chamou um táxi“Coloquei o violão no banco de trás e me sentei na frenteQuando entrei em casa, percebi que o tinha esquecidoDepois disso liguei em todas as cooperativas, fiz apelo pelo rádio e passei 18 dias ligando no Achados e Perdidos da BHTransDepois, desisti.” Mas essa não foi a única experiência do tipoDenilson também já perdeu um cobertor e um conjunto de equipamentos de pesca da mesma forma.

Segundo a Ouvidoria-Geral do Município, somente duas multas foram geradas neste ano para taxistas que deixaram de entregar ao passageiro ou à BHTrans, em um prazo máximo de dois dias, objetos esquecidos no carro
Mesmo assim, o problema é citado como recorrente tanto por integrantes da categoria quantos por usuáriosA estudante Marcela Guedes também não conseguiu reaver o celular esquecido no banco de um carroComo só pede as corridas por aplicativo, ligou para a prefeitura e deu o número da placa e o nome do motorista, que disse não ter encontrado nenhum aparelho no veículo.

O descaso com pertences deixados nos táxis é apenas uma das várias reclamações sobre o serviço em BH“Muitos passam no sinal vermelho, não param para o pedestresE tem os que nem respondem ao passageiro”, diz MarcelaAo todo, 32 taxistas foram punidos com multa devido à falta de urbanidade e polidez com usuários, agentes de fiscalização e o público em geral em 2013Um foi suspenso da atividadePara alguns dos clientes do serviço, a falta de respeito e compreensão é frequente“Eles se recusam a dar troco, dizem que não têm e nos obrigam a trocar o dinheiroJá me levaram para trocar no posto de gasolina”, lembra o garçom Richard Carvalho dos Reis
Segundo ele, com idosos a situação se agravaDeixar de dar o troco também é prática passível de multa, o que ocorreu com um taxista da cidade neste ano, de acordo com os dados da Ouvidoria.

Outro problema constante é a recusa dos taxistas em aceitar corridas baratasEm 2013, foram 26 ocorrências do tipo registradasE mesmo quem aceita percorrer pequenas distâncias reclamaFoi o que ocorreu com a professora Iara Alves Rosa, que pegou um táxi perto de casa à noite e teve que ouvir o motorista “resmungar” ao deixá-la no destino“Ele não gostou quando viu que era pertinhoFez um comentário e ficou injuriado, porque era um corrida curtaMas era de noiteComo uma mulher anda sozinha no escuro? É perigoso”, diz.

Outro lado

Apesar de reconhecer que algumas acusações têm fundamento, a categoria se defendeTaxista há seis anos, Antônio Soares diz que não há espaço nas ruas para pegar passageiros sem infringir leis de trânsito“Tento parar rápido, onde não atrapalheProcuro sinalizar o local tambémMas temos que correr o riscoSe eu não parar, outro para”, afirma ele, que reclama da falta de pontos de táxi na capital, além dos obstáculos na via, como caçambas.

Já os pertences esquecidos nos veículos são devolvidos rigorosamente pela maioria, segundo ele“Acontece muito, e entrego na BHTransQuando é celular, a pessoa geralmente liga e marco para devolver”, dizSoares lembra de um caso curioso, quando uma passageira esqueceu um smartphone em seu carro“Eu não sabia como atenderO telefone não parava de tocar e tinha vários passageiros dando sinalParei, descobri quem era a dona e levei aonde ela pediu”, contaComo recompensa, a mulher prometeu rezar muito pelo taxista para iluminar seus caminhos“Achei bom, porque estava em falta com Deus.”

O taxista César Ramos também garante que devolver os objetos é o principal caminhoQuando um passageiro deixou o celular no banco de trás, ele descobriu que o homem era do Rio de Janeiro e enviou o aparelho para lá“Muita gente não sabe, mas também tem casos em que a pessoa esquece, e a gente não vêVem um outro passageiro, acha e leva”, dizDe toda forma, ficar com os pertences alheios não é uma boa opção, diz eleE brinca: “Uma vez, uma moça largou sapatos de salto altoA primeira coisa que fiz foi devolverSe minha mulher visse, podia pensar outras coisas”

- Foto: Arte EM