O violão de estimação de Denilson Fonseca de Souza se foi em uma corrida de táxi. O instrumento, adquirido em 1991, era o xodó do administrador, que conseguiu comprá-lo após juntar dinheiro com o irmão. “Usei para tocar no aniversário de 80 anos da minha mãe, tinha muita história com ele. Não tinha um arranhão”, lembra. O cuidado era tanto que decidiu reformá-lo. Depois de pegar o instrumento pronto, foi para um bar, de onde chamou um táxi. “Coloquei o violão no banco de trás e me sentei na frente. Quando entrei em casa, percebi que o tinha esquecido. Depois disso liguei em todas as cooperativas, fiz apelo pelo rádio e passei 18 dias ligando no Achados e Perdidos da BHTrans. Depois, desisti.” Mas essa não foi a única experiência do tipo. Denilson também já perdeu um cobertor e um conjunto de equipamentos de pesca da mesma forma.
O descaso com pertences deixados nos táxis é apenas uma das várias reclamações sobre o serviço em BH. “Muitos passam no sinal vermelho, não param para o pedestres. E tem os que nem respondem ao passageiro”, diz Marcela. Ao todo, 32 taxistas foram punidos com multa devido à falta de urbanidade e polidez com usuários, agentes de fiscalização e o público em geral em 2013. Um foi suspenso da atividade. Para alguns dos clientes do serviço, a falta de respeito e compreensão é frequente. “Eles se recusam a dar troco, dizem que não têm e nos obrigam a trocar o dinheiro. Já me levaram para trocar no posto de gasolina”, lembra o garçom Richard Carvalho dos Reis. Segundo ele, com idosos a situação se agrava. Deixar de dar o troco também é prática passível de multa, o que ocorreu com um taxista da cidade neste ano, de acordo com os dados da Ouvidoria.
Outro problema constante é a recusa dos taxistas em aceitar corridas baratas. Em 2013, foram 26 ocorrências do tipo registradas. E mesmo quem aceita percorrer pequenas distâncias reclama. Foi o que ocorreu com a professora Iara Alves Rosa, que pegou um táxi perto de casa à noite e teve que ouvir o motorista “resmungar” ao deixá-la no destino. “Ele não gostou quando viu que era pertinho. Fez um comentário e ficou injuriado, porque era um corrida curta. Mas era de noite. Como uma mulher anda sozinha no escuro? É perigoso”, diz.
Outro lado
Apesar de reconhecer que algumas acusações têm fundamento, a categoria se defende. Taxista há seis anos, Antônio Soares diz que não há espaço nas ruas para pegar passageiros sem infringir leis de trânsito. “Tento parar rápido, onde não atrapalhe. Procuro sinalizar o local também. Mas temos que correr o risco. Se eu não parar, outro para”, afirma ele, que reclama da falta de pontos de táxi na capital, além dos obstáculos na via, como caçambas.
Já os pertences esquecidos nos veículos são devolvidos rigorosamente pela maioria, segundo ele. “Acontece muito, e entrego na BHTrans. Quando é celular, a pessoa geralmente liga e marco para devolver”, diz. Soares lembra de um caso curioso, quando uma passageira esqueceu um smartphone em seu carro. “Eu não sabia como atender. O telefone não parava de tocar e tinha vários passageiros dando sinal. Parei, descobri quem era a dona e levei aonde ela pediu”, conta. Como recompensa, a mulher prometeu rezar muito pelo taxista para iluminar seus caminhos. “Achei bom, porque estava em falta com Deus.”
O taxista César Ramos também garante que devolver os objetos é o principal caminho. Quando um passageiro deixou o celular no banco de trás, ele descobriu que o homem era do Rio de Janeiro e enviou o aparelho para lá. “Muita gente não sabe, mas também tem casos em que a pessoa esquece, e a gente não vê. Vem um outro passageiro, acha e leva”, diz. De toda forma, ficar com os pertences alheios não é uma boa opção, diz ele. E brinca: “Uma vez, uma moça largou sapatos de salto alto. A primeira coisa que fiz foi devolver. Se minha mulher visse, podia pensar outras coisas”.