A passageira do ônibus da linha 4156 (Santa Luzia-Belo Horizonte) que levou um tiro na cabeça durante assalto na manhã de ontem tinha acabado de aceitar a gentileza de uma jovem que cedeu o lugar para ela se sentar. A auxiliar de serviços gerais Maria Marques Cândido da Silva, de 46 anos, chegou a ser levada com vida para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), mas não resistiu e morreu cinco horas depois. Os tiros foram disparados por um sargento do 22º Batalhão da PM, que estava fardado e armado, e matou os dois assaltantes. Há suspeita de que um dos tiros transpassou o corpo de um dos suspeitos e acertou a mulher. A empregada doméstica de 26 anos que poderia ter sido morta no lugar dela disse estar abalada e sem condições de comentar o que ocorreu.
O crime foi às 5h25, no km 13 da MG-020, no Bairro Ribeiro de Abreu, Região Nordeste de Belo Horizonte. O ônibus estava lotado, com muitos passageiros em pé. As luzes internas do veículo estavam apagadas, pois muitos dormiam, e foram despertados pelos gritos de um dos ladrões. “Passa o celular, passa o dinheiro, passa tudo, senão muita gente vai morrer aqui”, gritava o homem armado com um revólver calibre 32, falando palavrões, acompanhado de outro com uma réplica de pistola. Os dois acabavam de recolher objetos de valor e dinheiro quando um deles percebeu o sargento no último banco, sentado atrás da porta traseira. Temendo ser morto, o policial conta que sacou sua arma e disparou três tiros. Os dois assaltantes, Maciel Cândido Rosa, de 19, e Cleiton dos Santos Silva, de 21, morreram na hora.
Maria era casada pela segunda vez e deixou seis filhos. Ela havia se mudado de Várzea da Palma, Norte de Minas, para Santa Luzia, região metropolitana, para tentar uma vida melhor para a família. Estava feliz por ter conseguido emprego há oito meses numa empresa de vigilância patrimonial em que trabalha o cunhado, no Bairro Belvedere, Região Centro-Sul da capital. “Estava comprando as coisinhas dela”, comentou o cunhado, Uílton Barbosa, de 40. “Uma boa mãe, trabalhadeira, brincalhona e muito dedicada à família. Saía de casa às 4h30 e só voltava à noite. A gente sai para trabalhar e não sabe se volta vivo”, lamentou o supervisor de segurança, que não quis comentar a ação do PM. “Não quero julgar ninguém. Trabalho com segurança e eu também temo pela minha vida se estivesse fardado dentro de um ônibus com dois bandidos armados”, disse.
Um passageiro de 29 anos contou que o sargento sempre pegava o ônibus no ponto final e no mesmo horário. “Se o ônibus não tivesse lotado, os bandidos o teriam visto antes. Poderia ter havido um confronto com muitos passageiros entre eles”, comentou. “O ladrão com o revólver estava muito agitado, xingando muito. O outro, da arma de brinquedo, parecia iniciante no crime, apavorado”, disse o rapaz. “O da arma de verdade pediu meu dinheiro e celular. Eu disse que já tinha entregue para o outro e ele tomou minha mochila e levou tudo. As pessoas eram obrigadas a entregar tudo, até as alianças”, disse o passageiro. Ele conta que o PM acertou primeiro o ladrão que portava arma de brinquedo. O segundo assaltante, que tentou atirar e o revólver falhou, levou um tiro no peito e quando pulava a roleta para fugir pela porta da frente levou o segundo tiro pelas costas. “Pulou com o ônibus em movimento e acho que já caiu morto na estrada”, comentou.
AÇÃO CORRETA O tenente da PM Cássio Pires, que atendeu a ocorrência, conta que antes de ser descoberto pelos ladrões o sargento já havia telefonado pedindo reforço policial. “A ação do sargento foi correta. Ele evitou um confronto até o último momento. Quando foi identificado pelo autor e não teve mais alternativa, ele atirou para proteger a sua vida e evitar um confronto maior”, disse o tenente. O sargento, que tem 15 anos de profissão, foi autuado em flagrante pela morte dos ladrões e permanecerá preso à disposição da Justiça Militar, em alguma unidade da PM. “Somente o laudo vai dizer de onde partiu o tiro que matou a passageira”, disse o tenente.