Não existe outra forma: ou se acaba com a dengue, ou ela acaba com as pessoas. É com esse slogan que a Secretaria de Estado de Saúde (SES) lançou ontem a campanha contra a doença que assolou Minas Gerais neste ano e bateu recorde de infestação, com quase 350 mil contaminados pelo vírus. A única solução definitiva para o problema, segundo o secretário da pasta, Antônio Jorge de Souza Marques, é o desenvolvimento de uma vacina, o que só deve ocorrer daqui a no mínimo cinco anos. Um período considerado de risco para o governo, que anunciou um investimento de R$ 65 milhões no combate à dengue em 2014, quando ainda há chances de uma epidemia do mesmo porte devido às condições climáticas favoráveis e à suscetibilidade da população ao tipo 4 da doença. A fim de evitar que a capital sofra do mal, que já causou 111 mortos, durante a realização da Copa do Mundo, pondo em risco os visitantes, a secretaria confirmou a ampliação do Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti (Liraa) para 135 municípios de Minas, além da elaboração de planos de contingência em 797 cidades. O reforço no combate à dengue é uma resposta ao pior ano da história de Minas em relação ao enfrentamento ao vírus. Foram 344.366 casos confirmados, segundo a SES, e 111 mortes, o que superou a pior crise até então, em 2010, com 194.636 infectados e 106 óbitos. A projeção da secretaria é que pelo menos 188 mortes sejam confirmadas em 2013. Em Uberaba, no Triângulo, 20 pessoas não resistiram ao vírus. A capital vem em seguida, com oito vítimas. “Tivemos a maior ação e o pior resultado em números. A dengue é um desafio de toda a sociedade, e ano a ano estamos intensificando as ações. Os municípios estão preparados, o que foi uma cobrança muito forte do governo do estado”, explicou o secretário Antônio Marques sobre os planos de contingência aprovados em 90% dos municípios mineiros. A realização do Liraa em mais 74 cidades deve dar também um panorama sobre as principais formas de contaminação: “Ele mostra que 80% dos focos estão nas casas, em pneus, garrafas, na cozinha. A água parada é nosso grande inimigo”, explicou. Hoje, a única cidade com alta incidência é Morada Nova de Minas, na Região Central do estado.
OFENSIVA A participação da sociedade contra o mosquito será estimulada por uma campanha publicitária que já está nas ruas de BH em formas de folhetos, outdoors, busdoors e cartazes no metrô, além de propagandas no rádio e em jornais. Ao todo, serão investidos R$ 5 milhões somente em comunicação e mobilização da população. Também segue em curso a força-tarefa que nos últimos três anos foi a 278 municípios, e o Dengue Móvel, que faz a troca de entulho por material escolar. As ações fazem parte do Programa Estadual de Controle Permanente da Dengue, lançado em 2010, com o apoio do Exército, Aeronáutica, Ministério da Saúde e prefeituras.
Os fatores apontados pelo governo para o crescimento assustador de casos são o reaparecimento do sorotipo 4, que não circulava em Minas havia 30 anos, as condições climáticas favoráveis e a troca de gestões em 83% das prefeituras. “Os municípios negligenciaram o último ciclo do combate. Eu testemunhei a interrupção de coleta de lixo. Mas estamos atentos, e hoje a reação dos municípios é de muita prontidão”, garantiu o secretário, que aguarda uma posição do Ministério da Saúde sobre o fundo tripartite para a contratação de agentes de endemia. A intenção é que o estado, o governo federal e o piso de vigilância das cidades invistam, cada um, R$ 35 milhões em ações de combate aos mosquito da dengue.