A Polícia Civil detalhou nesta quinta-feira a fraude no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2013 praticada por uma quadrilha que burlou vestibulares de medicina em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. De acordo com delegado Fernando Lima, chefe das investigações, o líder do grupo criminoso, José Cláudio de Oliveira, 41 anos, subornou um fiscal do exame em Barbacena, na Zona da Mata de Minas, pagando R$ 10 mil – R$ 5 mil para cada dia de prova – para ter acesso ao caderno amarelo.
José Cláudio fotografou o caderno e enviou para os chamados “pilotos”, membros da quadrilha responsáveis pela correção da prova. Ele recebeu de volta o gabarito da prova amarela e disparou via SMS e ponto eletrônico para os candidatos que haviam pagado pelo serviço. A polícia acredita que entre 100 e 150 pessoas, pagaram valores de R$ 70 a R$ 100 mil, para se beneficiar das respostas do Enem. A princípio os envolvidos seriam todos candidatos com pretensão em estudar medicina, mas ainda será apurado se há outros cursos.
A quadrilha tinha todos os detalhes da fraude muito bem amarrados. Mesmo com a medida de segurança de quatro cores de caderno e uma frase em cada uma das provas, os criminosos conseguiram garantir o golpe. Todos os candidatos combinados com a quadrilha, marcavam no gabarito que estavam com o caderno amarelo, mesmo estando com exame de outra cor. Seria função do fiscal de prova verificar essa marcação na folha de respostas, mas nem sempre era feita essa vigilância.
Segundo delegado Fernando Lima, a quadrilha aproveitou a falta de detectores de metais na fiscalização do Enem, o que favoreceu o uso de escutas pelos candidatos envolvidos na fraude. A Polícia Federal vai entrar no caso a partir de agora.
Entre as informações e documentos repassados pela Polícia Civil à Polícia Federal estão dois cadernos amarelos que foram apreendidos com José Cláudio. Também há cerca de 30 gravações de conversas entre José Cláudio e o servidor público aposentado Quintino Ribeiro Neto, de 63 anos, que também liderava a quadrilha. Há ainda mensagens de SMS contendo parte dos gabaritos e outras em que eles comemoram o índice de acerto das provas.
De acordo com a polícia, Quintino - um dos “corretores” da quadrilha – atuava há 20 anos com fraudes em vestibulares. As polícias Civil e Federal vão apurar se ele participou de golpes em outros anos do Enem.
A quadrilha foi descoberta durante as investigações da Operação Hemostase, que apurou irregularidades em vestibulares para vagas de medicina em 11 insituições de ensino. Ao todo, 36 pessoas foram indiciadas, sendo que 21 foram presas e cinco permanecem detidas – entre elas José Cláudio.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) informou, em nota, que "a segurança do Enem é realizada, antes durante e após a aplicação das provas, com o acompanhamento da Polícia Federal, o que tem permitido, ao longo dos anos, o aprimoramento do processo. No caso especifico, o Inep está acompanhando, juntamente com a Polícia Federal, os desdobramentos da Operação Hemostase. Até o momento, de acordo com a Policia Federal, não existe qualquer elemento que indique, mesmo de forma pontual, que qualquer candidato tenha sido beneficiado. O Inep reforça que as investigações devem ocorrer com todo rigor necessário. Conforme prevê o edital do exame, os candidatos identificados, que tiverem utilizado aparelhos eletrônicos durante as provas, serão eliminados”.