A gestação começa quando a família decide que vai entrar na fila para adotarOs candidatos passam por entrevistas no Juizado da Infância e da Juventude, enfrentam testes, até que especialistas atestem que eles estão realmente interessados em acolherO nome vai para a fila, que anda à medida que o perfil do pequeno se encaixa no dos futuros paisO parto ocorre de repente, quando uma assistente social liga e diz: “Temos uma criança para você”E lá vai a família conhecer quem tanto esperaNesse momento, segundo relatos de mães que adotaram, nasce um amor inexplicável
A prioridade na vida de Flávia Ribeiro Batista, de 36 anos, supervisora de atendimento, e do marido, o dentista José Guilherme Pace, de 39, era ter um filho adotivo antes do biológicoNem chegaram a tentar a gravidez, trataram logo de entrar na fila da adoçãoIsso ocorreu em dezembro de 2011Durante seis meses eles participaram de encontros e palestras, e enfrentaram muita papelada até serem considerados aptos a tirar uma criança de um abrigo e levar para casaForam mais nove meses até o telefone tocar e o casal correr para o juizado, depois para o lar Mães de Maria, no Bairro Prado, onde estava Samuel, então com 4 mesesFlávia o pegou no colo, ele a olhou com seus olhos grandes e os dois saíram dali mãe e filho“Amo o Samuel desde aquele momento, da hora em que o viÉ um amor diferente, sublime”, disse.
O pequeno, agora com 1 ano e 2 meses, já fez o que todas as crianças gostam no Natal: ver de perto o Papai NoelFlávia conta que, como trabalha em um shopping no Hipercentro, sempre acompanhou a decoração e a chegada do Bom VelhinhoVia outras mães levando seus filhos para conhecê-lo e sonhava com o momento em que faria o mesmo
ACOLHIMENTO À PRIMEIRA VISTA Ricardo Salomão, de 44, e Rosângela Souza Bezerra, de 36, vivem a mesma emoçãoEles tentaram engravidar, mas diante da dificuldade, optaram pela adoçãoO perfil definido era de uma criança de até 3 anosSexo e cor ou raça não importavamOs dois entraram em férias e se preparavam para viajar quando a assistente social ligou dando a notícia de que havia uma filha para elesChegaram ao juizado, tiveram informações sobre ela e o processo e partiram para o abrigo, no Bairro Concórdia“Eduarda tinha acabado de acordar, um pouco mal-humoradaQuando a vi, pensei na hora: ‘Quero ela para mim’Falo que se tivesse uma filha biológica ela não se pareceria tanto com a minha família”, disse Rosângela, que é professora de educação infantil em Nova Lima
Como Duda já tinha 1 ano e oito meses, foi preciso que o casal fizesse visitas constantes antes de levá-la para casaEra terça-feira, 22 de junho, quando a pequena deixou seus colegas de abrigo para ter um pai, uma mãe e uma nova família, dessa vez disposta a cuidar dela com carinho e prover seu futuroO Natal será na casa da mãe de Ricardo, em Ribeirão Preto (SP)Os parentes de Rosângela são de Manaus (AM), onde Duda já foi e conheceu a todos“Este ano comprei uma árvore maior e montamos juntasÉ uma coisa que ninguém explica, parece que ela sempre viveu aqui”, disse a mãeTanto Flávia quanto Rosângela conseguiram licença-maternidade de quatro meses para ficar com os filhos adotivos
Mas neste dia em que várias famílias recém-formadas se preparam para viver uma noite mágica, muitas crianças continuam em abrigos espalhados pelo país, à espera de um pai ou uma mãeSegundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no Cadastro Nacional de Adoção (CNA), são 5.407 crianças e adolescentes cadastrados no Brasil, 37,47% delas com irmãos que também têm o nome na listaEm Minas, até o início de dezembro eram 634 pequenos em abrigos, segundo dados do CNANa outra ponta estão 29.944 pretendentes a pais no paísO Tribunal de Justiça de Minas Gerais informou que não tem dados sobre adoção em 2013, mas de 2010 a 2012 os números tiveram quedaForam 284 adoções em 2010, 237 no ano seguinte e 184 em 2012Os dados deste ano devem ser divulgados em janeiro.