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Estado de Minas

Uma família de Natal: conheça as crianças que ganharam de presente um novo lar

A emoção dos novos pais que enfim passarão o Natal com os filhos adotivos, depois da longa gestação representada por encontros, entrevistas e uma lista de exigências legais


postado em 25/12/2013 06:00 / atualizado em 25/12/2013 08:01

José Guilherme e Flávia com Samuel: o presente que veio em forma de futuro(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
José Guilherme e Flávia com Samuel: o presente que veio em forma de futuro (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Samuel, Eduarda, Diego, Robert e outros, muitos outros... É longa a lista de crianças que viviam acolhidas em abrigos, abandonadas pelos pais biológicos ou órfãs, à espera da adoção, e que neste ano comemoram o Natal com um presente precioso: nada menos que uma família. Um lar com mãe, pai, alguns irmãos, tios, avós e tudo o que têm direito. Ganharam uma árvore enfeitada de bolinhas, especialmente por elas e para elas, e lembranças deixadas no imaginário de cada um pelo Papai Noel. Vínculos que nascem na esperança de que dali elas nunca mais saiam e estejam sempre amparadas.

A gestação começa quando a família decide que vai entrar na fila para adotar. Os candidatos passam por entrevistas no Juizado da Infância e da Juventude, enfrentam testes, até que especialistas atestem que eles estão realmente interessados em acolher. O nome vai para a fila, que anda à medida que o perfil do pequeno se encaixa no dos futuros pais. O parto ocorre de repente, quando uma assistente social liga e diz: “Temos uma criança para você”. E lá vai a família conhecer quem tanto espera. Nesse momento, segundo relatos de mães que adotaram, nasce um amor inexplicável. Nesta noite, esses novos pais e filhos passam juntos o primeiro Natal, data que terá mais festa, mais luz, muito mais esperança.

A prioridade na vida de Flávia Ribeiro Batista, de 36 anos, supervisora de atendimento, e do marido, o dentista José Guilherme Pace, de 39, era ter um filho adotivo antes do biológico. Nem chegaram a tentar a gravidez, trataram logo de entrar na fila da adoção. Isso ocorreu em dezembro de 2011. Durante seis meses eles participaram de encontros e palestras, e enfrentaram muita papelada até serem considerados aptos a tirar uma criança de um abrigo e levar para casa. Foram mais nove meses até o telefone tocar e o casal correr para o juizado, depois para o lar Mães de Maria, no Bairro Prado, onde estava Samuel, então com 4 meses. Flávia o pegou no colo, ele a olhou com seus olhos grandes e os dois saíram dali mãe e filho. “Amo o Samuel desde aquele momento, da hora em que o vi. É um amor diferente, sublime”, disse.

O pequeno, agora com 1 ano e 2 meses, já fez o que todas as crianças gostam no Natal: ver de perto o Papai Noel. Flávia conta que, como trabalha em um shopping no Hipercentro, sempre acompanhou a decoração e a chegada do Bom Velhinho. Via outras mães levando seus filhos para conhecê-lo e sonhava com o momento em que faria o mesmo. O Natal será na casa da família, em Belo Horizonte, com Samuel correndo, brincando e abrindo presentes com primos e amigos. “É o Natal mais esperado”, disse o pai.

ACOLHIMENTO À PRIMEIRA VISTA Ricardo Salomão, de 44, e Rosângela Souza Bezerra, de 36, vivem a mesma emoção. Eles tentaram engravidar, mas diante da dificuldade, optaram pela adoção. O perfil definido era de uma criança de até 3 anos. Sexo e cor ou raça não importavam. Os dois entraram em férias e se preparavam para viajar quando a assistente social ligou dando a notícia de que havia uma filha para eles. Chegaram ao juizado, tiveram informações sobre ela e o processo e partiram para o abrigo, no Bairro Concórdia. “Eduarda tinha acabado de acordar, um pouco mal-humorada. Quando a vi, pensei na hora: ‘Quero ela para mim’. Falo que se tivesse uma filha biológica ela não se pareceria tanto com a minha família”, disse Rosângela, que é professora de educação infantil em Nova Lima.

Como Duda já tinha 1 ano e oito meses, foi preciso que o casal fizesse visitas constantes antes de levá-la para casa. Era terça-feira, 22 de junho, quando a pequena deixou seus colegas de abrigo para ter um pai, uma mãe e uma nova família, dessa vez disposta a cuidar dela com carinho e prover seu futuro. O Natal será na casa da mãe de Ricardo, em Ribeirão Preto (SP). Os parentes de Rosângela são de Manaus (AM), onde Duda já foi e conheceu a todos. “Este ano comprei uma árvore maior e montamos juntas. É uma coisa que ninguém explica, parece que ela sempre viveu aqui”, disse a mãe. Tanto Flávia quanto Rosângela conseguiram licença-maternidade de quatro meses para ficar com os filhos adotivos.

Mas neste dia em que várias famílias recém-formadas se preparam para viver uma noite mágica, muitas crianças continuam em abrigos espalhados pelo país, à espera de um pai ou uma mãe. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no Cadastro Nacional de Adoção (CNA), são 5.407 crianças e adolescentes cadastrados no Brasil, 37,47% delas com irmãos que também têm o nome na lista. Em Minas, até o início de dezembro eram 634 pequenos em abrigos, segundo dados do CNA. Na outra ponta estão 29.944 pretendentes a pais no país. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais informou que não tem dados sobre adoção em 2013, mas de 2010 a 2012 os números tiveram queda. Foram 284 adoções em 2010, 237 no ano seguinte e 184 em 2012. Os dados deste ano devem ser divulgados em janeiro.


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