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Estado de Minas

Prédios em três regiões da capital estão ameaçados

Problemas são atribuídos a obras em terrenos próximos. No Bairro Cruzeiro, rua é monitorada 24 horas por dia por força-tarefa


postado em 26/12/2013 06:00 / atualizado em 26/12/2013 07:40

Na Rua Cabo Verde, temporal da noite aumentou erosão e construtora terá de fazer aterro de emergência(foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Na Rua Cabo Verde, temporal da noite aumentou erosão e construtora terá de fazer aterro de emergência (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)

Em consequência do grande volume de chuva acumulado no mês, o Natal foi de destruição e medo para muitos belo-horizontinos. Na Rua Cabo Verde, no Bairro Cruzeiro, Região Centro-Sul da capital, o asfalto afundou mais de um metro desde a noite anterior e o muro de arrimo de um prédio em construção ameaça desabar, levando junto parte da via e ameaçando imóveis vizinhos. No Bairro Pirajá, Nordeste de BH, a estrutura de um edifício vizinho a uma área em construção sofreu desmoronamento parcial. Tanto o imóvel atingido quanto um vizinho foram interditados. Na Rua Teresa Mota Valadares, no Buritis, Região Oeste, parte de um terreno cedeu e assusta moradores de um prédio. Houve prejuízos também na Grande BH. Em Sabará, uma casa desabou, ferindo duas pessoas. Vários barrancos deslizaram e mais de 30 casas haviam sido interditadas até a tarde de ontem.


No Cruzeiro, moradores de três edifícios estão apreensivos e muitos foram para casas de parentes temendo uma tragédia. O medo de que o muro de arrimo ceda fez com que a maioria moradores dos prédios nos números 308 , 297 e 289 deixassem seus apartamentos. Depois de vistoria técnica, feita na tarde de ontem pelo engenheiro Euler Magalhães, da Associação Brasileira de Mecânica do Solo (AMBS), considerado um dos maiores especialistas do país nesse tipo de trabalho, o coordenador municipal de Defesa Civil, Alexandre Lucas Alves, informou que os moradores poderiam permanecer em seus apartamentos.

O especialista confirmou que ocorreu um acidente de engenharia, embora tenha dito que é necessário investigar as causas. Segundo ele, um processo de instabilidade no terreno acarreta trincas em direção aos prédios nos números 297 e 289. Os riscos serão monitorados 24 horas por dia para que, na iminência de desabamento, as famílias que permanecem ao local possam ser retiradas. Como o muro da obra em andamento pode tombar, a Defesa Civil, orientada por Euler Magalhães, determinou que seja providenciado um aterro em caráter emergencial.

No dia em que a terra começou a deslizar, na tarde de terça-feira, os moradores da Rua Cabo Verde haviam sido orientados por bombeiros a deixar o local, mas a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) não interditou os imóveis. Apesar dos estragos na rua, as estruturas dos prédios aparentemente não haviam sido afetadas.

(foto: Marcos Michelin/EM.D.A Press)
(foto: Marcos Michelin/EM.D.A Press)
Um posto de comando formado por Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Copasa e Cemig vai operar 24 horas por dia na Rua Cabo Verde para garantir a segurança do local e dos moradores. A Construtora Edifica, responsável pela obra, escavou o terreno para construir três pavimentos abaixo do nível da rua. As trincas no asfalto apareceram há cerca de um ano, quando os trabalhos começaram, segundo os vizinhos. A Comdec informou que no início deste ano a obra foi autuada por danos no passeio e no asfalto.

O engenheiro da Comdec Eduardo Pedersoli avaliou que os prédios não correm risco de desabamento. Mas fez um alerta: “Se o muro de arrimo desabar, a situação piora”. Os vizinhos têm permissão de continuar em suas casas, mas devem passar a noite fora, por questão de segurança. “A perícia vai avaliar se a obra é responsável pelos danos. Ela já vinha causando interferência na rua antes”, reforçou Eduardo.

Os bombeiros isolaram toda a rua em frente ao terreno e apenas o passeio do outro lado está liberado para passagem de pedestres. Sacos de areia foram colocados para desviar a água da enxurrada. Terça-feira, um poste da Cemig ameaçava cair e foi transferido. Os moradores ficaram sem energia até as 22h. Ontem, um segundo poste ameaçava cair.

O proprietário da construtora Edifica, Rogério Valadares, admitiu que a obra já havia sido notificada, mas disse que o problema foi sanado. Ele informou que fará as obras emergenciais de contenção do terreno e colocará uma máquina para fazer escavações onde ele cedeu, a fim de identificar as causas do deslizamento. Para ele, podem ser problemas relativos à drenagem ou à rede esgoto na região.

Moradores vizinhos, no entanto, acusam a construtora de negligenciar sinais de que a obra não estava de acordo com as características do terreno. “Eles não fizeram um estudo apropriado da região, que é conhecida por ter minas de água”, afirmou Samuel Albuquerque, de 30 anos, morador de um prédio ao lado dos que estão em risco.

A garantia da Comdec de que os edifícios não correm risco não convenceu os moradores. A bancária aposentada Maria do Carmo Neves, de 62, foi a única a passar a noite, com dois filhos, no apartamento, na esquina com Muzambinho. “Chovia muito. Passei a madrugada inteira apreensiva, na janela. Não tivemos Natal”, reclamou.

Defesa civil ignora chamado
A lateral de um terreno em obras deslizou ontem e provocou a destruição parcial de um imóvel vizinho, no Bairro Pirajá, Região Nordeste de BH. No número 122 da Rua Américo Campolina Resende, um prédio de três andares perdeu parte do muro de divisa com o terreno, o corredor que levava a uma área nos fundos e a escada de acesso aos pavimentos superiores, além de ter os pilares de sustentação das varandas abalados. A Defesa Civil municipal interditou não apenas o edifício, que tem alto risco de ruir, mas também o imóvel no número 50, que pode ser atingido se houver desabamento. Ao menos três pessoas ficaram desalojadas. O órgão confirma que foi alertado sobre o perigo, mas informou não ter enviado agentes ao local por ter dado prioridade a outras solicitações.

O imóvel no número 122 pertence a dois irmãos. O aposentado Vicente de Paula Batista, de 51 anos, mora no térreo, enquanto o funcionário público Edison Batista, de 41, vive no terceiro pavimento – o segundo estava desocupado. Por voltar das 6h de ontem, eles acordaram com o grande estrondo provocado pela queda de parte do edifício. Vicente conseguiu sair com facilidade. O irmão foi às pressas para o segundo andar, mas percebeu que a escada que conduz ao térreo também havia caído. “Fiquei em pânico, com medo de que o prédio inteiro começasse a desmoronar”, contou. O barulho acordou vizinhos, e um deles ajudou Edison com uma escada. Ele desceu com uma mala, único pertence que carregou.

No terreno cujo talude deslizou será erguido um edifício residencial de 12 pavimentos. A construtora responsável, Pro Domo, é acusada pelos irmãos de não ter feito a estrutura de contenção. “Tivemos o azar de ter tido essa chuvarada. A construtora assumiu toda a responsabilidade e disse que vai disponibilizar um apartamento para eu morar, por enquanto”, disse Vicente. Edison demonstrava mais aborrecimento, mas admitia uma possível negociação. “Eles cavaram o terreno e deviam ter feito a contenção. Botaram uma estrutura de madeira, mas não preencheram com concreto. Alertamos que ia deslizar. Quiseram adiantar o lado deles e fizeram pouco caso do nosso imóvel”, queixou-se ele, que pretendia ficar na casa da mãe até tudo se resolver.

Além de terem de deixar o prédio, Edison e Vicente foram notificados pela Defesa Civil a contratarem profissional habilitado a realizar laudo técnico sobre a estrutura do imóvel e as possíveis causas do incidente. Em 23 de dezembro, Edison relatou o risco de deslizamento ao órgão municipal, que, por meio de sua assessoria de imprensa, confirma ter registrado a solicitação de vistoria. O funcionário público informou que parte do muro de divisa com o terreno já havia caído e o restante tinha várias trincas, segundo a assessoria.

Em nota, a Defesa Civil admite que não foi ao local e alega que “atende as solicitações por ordem de prioridade”. Nos últimos dias, “devido ao grande volume de chuvas na capital, foi registrada grande quantidade de solicitações, que estão sendo atendidas por todas as equipes durante as 24 horas do dia”, prossegue a texto. O órgão pede para a população “adotar imediatas ações de proteção individual até que as vistorias e avaliações possam ser realizadas”. Nenhum representante da construtora Pro Domo foi encontrado para comentar o assunto.No Bairro Cabana do Pai Tomaz, Região Oeste da capital, uma pedra se soltou de um barranco e rolou até atingir uma casa de três andares.

Por volta das 2h de ontem, o jardineiro João Lourenço da Costa, de 47, e sua mulher, Márcia do Carmo, de 43, moradores do primeiro pavimento, acordaram com o barulho do choque, que deixou várias trincas na parede da cozinha. A ocorrência foi atendida por técnicos da Regional Oeste, que recomendaram os moradores a não pernoitarem na casa. A Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel) deve vistoriar o imóvel hoje.

BURITIS
Moradores do prédio no número 209 da Rua Teresa Mota Valadares, no Buritis, Região Oeste, também estão assustados. A terra em um lote vizinho cedeu e parte da garagem do condomínio ameaça cair. O bancário Rodrigo Morais, de 34, conta que a construtora responsável por uma obra em frente, no número 246, cortou parte de um barranco ao lado do seu prédio para montar um barracão para escritório e colocar um contêiner. “Quinta-feira, eles desocuparam o terreno e já havia uma erosão debaixo do muro do meu prédio. Chamamos a Defesa Civil e eles pediram para isolar o local. Hoje (ontem), eu acordei com uma árvore caída no meio da rua e mais um pedaço do terreno cedeu, expondo o alicerce do nosso muro”, disse.


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