Isabella Souto e Valquiria Lopes
Programa comum para mineiros em férias ou de folga nos recessos prolongados, a viagem para o Espírito Santo neste fim de ano tem todos os ingredientes para se tornar uma aventura à parte, diante de rodovias total ou parcialmente interditadas, quedas de barreiras e ameaças de deslizamento de encostas. Por causa das chuvas que castigam o Leste de Minas e o estado vizinho, mais de 20 trechos de estradas que dão acesso ao litoral – como as BRs 381, 262, 116, 267 e 259 – estão interditados. Quem passou pelo trecho recentemente faz questão de alertar para a necessidade de se preparar para um trajeto perigoso, cheio de buracos e com visão dificultada pelas condições climáticas.
É o caso do empresário capixaba André Gaier, de 36 anos. Morador de Vitória, ele veio a Minas para passar o Natal com a família do irmão. Dois dias depois, iria enfrentar novamente uma estrada com trechos muito perigosos em razão de erosões, deslizamentos de terra e pistas escorregadias. Condições que o fizeram gastar duas horas a mais que as sete previstas para o percurso. “O negócio é ir devagar e tranquilo. Com calma, a gente sempre chega aonde quer”, aconselhou ele, que sempre viaja à noite, mas desta vez optou por dirigir durante o dia.
O empresário do setor de socorro de automóveis Roberto Pedrosa, de 53, fez o trajeto Vitória-Belo Horizonte no dia 24 e não gostou do que viu pelo caminho. “Há muitas crateras na estrada toda. Em alguns trechos tive que passar por estradas de terra”, disse. Ao longo dos 540 quilômetros entre as capitais mineira e capixaba, ele contou ter visto colisões e veículos derrapando na pista. “A estrada ruiu em vários pontos, mas também há muita correria e despreparo”, alertou ele, que em razão da profissão vai com frequência ao Espírito Santo.
Há 23 dias viajando por estradas brasileiras, o caminhoneiro Vilson Alves, de 61, esperava chegar hoje a Guarapari, onde mora. O trajeto foi longo: de Belém do Pará à cidade capixaba são quase 3,2 mil quilômetros, mas a reta final era que o deixava mais apreensivo. “Todo dia estou ligando para a minha mulher, para me informar da situação. O que sei é que o trecho mais perto do Espírito Santo exige mais cuidado”, contou. Com o histórico de nunca ter se envolvido em acidentes em 35 anos de profissão, o caminhoneiro disse que o segredo é ter muita cautela, manter uma velocidade média de 50 quilômetros e, em caso de chuva, procurar um lugar para parar.
Também motorista de profissão, mas de ônibus, o mineiro Edmar Luís, de 31, tem passado os últimos dias no trajeto entre Belo Horizonte e Guarapari. Apesar dos estragos causados pelas chuvas no Espírito Santo, para ele a pior parte da viagem ainda é em Minas Gerais, no trecho entre Belo Horizonte e João Monlevade. “É buraco demais. As medidas preventivas adotadas e os reparos de emergência no Espírito Santo fazem com que a estradas de lá ainda sejam melhores que as daqui”, contou, que percorre rodovias do Brasil há 10 anos.
Desvio Até o fim da tarde de ontem, havia interdições em 21 trechos de nove BRs que passam por Minas ou pelo Espírito Santo. Em um deles, o km 150 da BR-381, em Governador Valadares, o rompimento de um aterro na cabeceira de uma ponte causou a interdição total da pista. Os motoristas que passaram pelo local foram obrigados a desviar pelo perímetro urbano ou pelo contorno rodoviário de Valadares. Já na BR-259, no km 18, entre São Vítor e Aimorés, queda de barreiras causou interdição parcial da pista e vários pontos de estrangulamento.
No Espírito Santo, equipes do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) trabalhavam ontem para tapar buracos no trecho entre os kms 268 e 294 da BR-101. Por causa da obra emergencial, o trânsito era lento. No km 280, em Cariacica, foi registrada erosão no acostamento do lado direito da pista e do lado esquerdo no km 288.
OUTROS TRECHOS Para quem viaja pelo estado, é importante estar atento a outros pontos de interdição nas rodovias federais. Na BR-040, entre Belo Horizonte e Brasília, o rompimento de um aterro interdita a pista desde o dia 23 na altura de Três Marias, na Região Central. O tráfego de veículos leves é permitido por dentro da cidade, mas no sentido no sentido Brasília/BH, ônibus e caminhões precisam percorrer 225 quilômetros a mais, passando por um desvio que corta Pirapora, Corinto e Curvelo, até voltar à 040. Na direção contrária, a rota alternativa é desde o km 244, na entrada pela BR-135 para Curvelo, depois por Corinto e Pirapora, até retornar à 040. O desvio aumenta o percurso em 147 quilômetros. Na BR-356, em Ervália, na Zona da Mata, um alagamento na altura do km 244 fecha a pista totalmente desde segunda-feira. Equipes do Dnit monitoram a situação e aguardam a diminuição do nível da água para liberar o trecho.
Informações sobre as estradas podem ser obtidas pelo site www.dnit.gov.br ou pelo Twitter @PRF191MG e @PRF191ES