Guilherme Paranaiba e
Landercy Hemerson
Somente ontem no começo da noite, mais de 24 horas depois do atropelamento que matou a menina Júlia da Costa Pereira, de 12 anos, na tarde de quarta-feira na MG-10, em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o motorista responsável pelo acidente, o major da PM Wilson da Silva Lima, prestou depoimento na delegacia da Polícia Civil na cidade da Grande BH. O militar, ao ser ouvido na delegacia, informou que estava disposto a fazer exame de sangue para detectar traços de álcool em seu organismo. Mas, no momento do acidente, o oficial da PM se recusou a fazer o teste do bafômetro, segundo afirmou o coronel Antônio de Carvalho Pereira, comandante interino de Policiamento da Capital. Wilson vai ficar detido até que a Justiça decida se ele pode ou não responder ao processo em liberdade.
Além do fato de o motorista não se dispor a fazer o teste do bafômetro, a perícia encontrou uma garrafa debaixo do carro do PM. O recipiente foi recolhido para coleta de impressões digitais e para atestar o tipo de bebida que tinha em seu interior. De acordo com o coronel Carvalho, embora o major não tenha feito o teste do bafômetro, o procedimento no local do acidente “foi o mesmo aplicado em todos os casos com suspeita de ingestão de álcool pelo motorista. Foi oferecido o teste do bafômetro e ele recusou. Como ele ficou em estado de choque, não foram verificados sinais de embriaguez na hora da ocorrência”, diz Carvalho. O coronel afirma ainda que houve a necessidade de retirar o major do local, levando-o para o posto da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), a cerca de 400 metros do ponto do atropelamento. “Algumas pessoas queriam chegar às vias de fato com o policial, então, ele foi colocado junto com sua filha em um local seguro”, completa o militar.
O ACIDENTE
Júlia e mais quatro pessoas da mesma família foram atropeladas pelo Astra dirigido pelo major Wilson. Segundo o servente de pedreiro Wesley Marcelino Pinto, de 29, um dos sobreviventes, o que era para ser um dia feliz terminou de forma triste. “O almoço de ano novo acabou em tragédia”, contou a testemunha. Ele, a mulher, a dona de casa Darlene Santos Pereira, de 22, a cunhada Simone da Costa Neves, de 27, a sogra Laurinda Rodrigues da Costa Neves, de 47, a sobrinha Júlia da Costa Pereira, de 12, o enteado Vítor Gabriel da Costa Neves, de 4, e outra sobrinha, Larissa de 16 meses são moradores do Bairro Anjicos, em Vespasiano, e haviam ido até o Morro Alto, na mesma cidade, para um almoço em família.
Na volta, quando todos caminhavam no acostamento da MG-010 em direção ao ponto de ônibus, quase embaixo do viaduto da MG-424, Wesley era o primeiro da fila indiana que o grupo formou no acostamento. Ele carregava Larissa quando viu o Astra vermelho conduzido pelo major Wilson se aproximar. “Foi tudo muito rápido, pulei para o barranco do lado e quando olhei para trás vi que todos tinham sido atingidos”, contou. O servente lembrou que ficou em estado de choque com a situação e disse que o militar estava na mesma situação.
“Ele chorava bastante e abraçava a criança que estava no carro”, disse o servente. O helicóptero do Corpo de Bombeiros socorreu Júlia, mas ela não resistiu e morreu no hospital. A mãe da garota, Simone, sofreu uma fratura na clavícula, mas já teve alta do Hospital Risoleta Neves. Darlene e Laurinda continuam internadas no mesmo hospital. A mulher de Wesley fraturou uma das pernas e a sogra fraturou as duas. No hospital, a família parecia não acreditar. “Almoçamos juntos para comemorar o ano novo, não dá para acreditar nessa tragédia. Minha mãe está muito abalada com tudo isso”, disse a irmã de Laurinda e tia de Darlene e Simone, Nely Gomes da Costa, 38.
INTERNADO
O major Wilson, que estava em companhia de sua filha, de 9 anos, no momento do acidente, passou a noite e o dia internado no Hospital Militar, por estar “muito abalado e nervoso”. Ao coronel Carvalho, com quem conversou ainda na quarta-feira, ele contou que “foi forçado a ir para o acostamento por outro veículo, já que o local do acidente é uma curva fechada para a esquerda logo depois de outra curva para a direita.
O oficial foi ouvido pela delegada Francione Tavares, encarregada do caso, e chegou a Vespasiano acompanhado por um grupo de companheiros de farda, que permaneceram na sala de depoimentos a seu lado. A apresentação do militar à Polícia Civil só ocorreu depois de dois adiamentos. A princípio, ele seria ouvido ontem de manhã. Depois, foi anunciado que o depoimento seria colhido à tarde, mas apenas à noite o oficial compareceu à polícia.