Os pedaços de ferro retorcidos, latarias amassadas, estofados destruídos e cacos de vidro espalhados contam o que aconteceu com aqueles veículos cercados em um pátioAcidentes violentos, que muitas vezes encontram sinônimo na palavra tragédia, deixaram carros, caminhões, motos e ônibus inutilizados e, em consequência dos desastres, abandonadosOs exemplos são vistos por todos os motoristas que passam na BR-381 em frente ao posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Betim, na Grande BH, onde há mais de 100 veículos nessa situação, a maioria sucataO cenário de cemitério rodoviário se repete na unidade de fiscalização da PRF em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, às margens da BR-365, onde também há concentração de veículos acidentadosJuntos, os dois postos respondem por 80% dos 300 veículos que a PRF espera mandar a leilão em todo o estado em março, na primeira iniciativa desse tipo em Minas GeraisAlém dos carros, caminhões, ônibus e motocicletas acidentados, os pátios abrigam veículos apreendidos e não retirados pelos donos.
Em Betim, as sucatas e aqueles em melhor estado se espremem em um espaço entre as unidades da PRF e de atendimento da Autopista Fernão Dias, concessionária responsável pela BR-381 entre Belo Horizonte e São PauloAli, a maioria dos veículos tem uma história trágica, como a do caminhão Mercedes-Benz de 1978, totalmente destruídoNa cabine só poderiam estar três pessoas, mas cinco ocupavam o espaço em 9 de dezembro, quando o motorista Anilton Alves Pereira, de 43 anos, foi surpreendido por uma carreta bitrem carregada com bobinas de aço conduzida por um homem alcoolizado
Os dois veículos seguiam na Fernão Dias no sentido São Paulo, altura do km 496, quando a carreta, descontrolada na pista, começou a despejar as bobinas que destruíram a cabine do caminhão de Anilton, que perdeu a mulher e os dois filhosO terceiro filho, hoje com 11 anos, saiu ileso e o pai precisou colocar pinos e placas no corpo, se aposentando por invalidezO motorista da bitrem foi submetido ao teste do bafômetro e o resultado acusou 1,13 miligrama de álcool por litro de sangue, índice quase quatro vezes acima do limite para crime de trânsito
PRESO EM FLAGRANTE Outro caso emblemático é o do Ford Ka que era conduzido por Welberth Silva dos Santos no carnaval do ano passadoNo carro estavam sete pessoas e no km 485 da Fernão Dias, em Betim, ocorreu o acidenteWelberth bateu em uma placa de sinalização e na canaleta da pista, causando a morte de sua mãe, de um filho e de uma sobrinhaEle passou pelo teste do bafômetro e foi preso em flagrante por crime de trânsito, pois o teor de álcool superou 0,34 mg/lO veículo ficou completamente retorcido e o esqueleto está abandonado no pátio da PRFO último licenciamento quitado é de 2010.
Segundo o inspetor Adilson Souza, um dos agentes da PRF que trabalha no posto de Betim, somado ao fator emocional, o gasto que os proprietários teriam para reaver os veículos contribui para que eles sejam abandonados“Muitos desses veículos não têm seguro e têm muitos débitos em multas ou licenciamento atrasado”, explica o agenteEle também chama a atenção para o fato de que a maioria dos veículos tem baixo valor comercial, e que fica menos dispendioso deixá-los no pátio da PRF do que retirá-los e recuperá-los“Ainda há casos de veículos de outros estados acidentados em Minas Gerais, o que encarece muito o valor do reboque”, acrescenta Souza.
O inspetor Adilson afirma ainda que o fato de muitos veículos estarem abandonados em Betim pode ser explicado pela quantidade de acidentes no trecho de responsabilidade do posto da BR-381Dos 10 segmentos de 10 quilômetros considerados pela PRF os mais perigosos do país, dois estão em BetimUm deles é o segundo no ranking nacional e fica entre os kms 500 e 490, onde está a unidade de fiscalização da PRFEntre janeiro e outubro de 2013, foram 1.182 acidentes no trecho, com 379 feridos e 24 mortosEntre os kms 490 e 480, quinto trecho mais perigoso do país, foram 1.255 acidentes, com 337 feridos e 15 mortos.
Alcoolismo e multas
Os veículos destruídos por acidentes não são os únicos exemplos de carros, ônibus, caminhões e motos abandonados ou retidos nos postos da Polícia Rodoviária Federal em MinasPor causa do recente endurecimento da Lei Seca, há casos de quem não voltou para buscar seu automóvel por medo de sofrer as punições por dirigir alcoolizado, segundo afirmam os agentes da corporaçãoOutra causa de abandono dos veículos são os entraves judiciais, normalmente descobertos depois que o motorista é pego em alguma abordagem ou se envolve em acidenteHá situações de sequestros de bens definidos pela Justiça do Trabalho, além de outras pendências administrativasCasos de crimes, como furto e roubo, são encaminhados aos pátios credenciadosNo posto da PRF na BR-381 em Oliveira, na Região Centro-Oeste do estado, há dois ônibus flagrados pela PRF transportando passageiros irregularmente havia mais de 10 anos e que até hoje não foram retirados