Jornal Estado de Minas

Polos regionais de BH enfrentam dificuldades iguais às do Hipercentro

As regiões do Barreiro, Venda Nova e o Bairro Alípio de Melo têm problemas com trânsito ruim, invasão de ambulantes e falta de segurança

Valquiria Lopes
Na Avenida Abílio Machado, no Alípio de Melo, o grande movimento de veículos abre espaço para os estacionamentos pagos. Não há vagas suficientes ao longo da via na Região Noroeste de Belo Horizonte - Foto: Beto Magalhães/EM/D.A.Press

Camelôs, veículos estacionados em locais proibidos, trânsito caótico, muita gente circulando pelas calçadasNão faz muitos anos, essas características eram exclusivas da Região Central de Belo Horizonte, numa época em que as pessoas usavam a expressão “ir à cidade” para se referir a uma incursão ao Hipercentro da capitalHoje, entretanto, com o crescimento de BH, algumas regiões mais afastadas se transformaram em polos regionalizados, onde a população tem a comodidade de encontrar tudo perto de casa, mas também já enfrenta desafios como assaltos, poluição sonora e visual, além da presença descontrolada de ambulantes e do tráfego congestionadoA Polícia Militar e os órgãos municipais tentam manter a normalidade nesses locais, a exemplo do Barreiro, Venda Nova e o Alípio de Melo, mas muita gente ainda se queixa da falta de segurança e de fiscalização.

Andando pela Avenida Abílio Machado, no Bairro Alípio de Melo, na Região Noroeste, fica fácil perceber o motivo pelo qual o corredor atrai tanta gentePor ali, as sacolas revelam variedade do comércioSão lojas de toda naturezaCalçados, roupas, acessórios, perfumes, telefonia celular, chocolates, eletrodomésticos, brinquedos, entre outros milhares de produtos, são encontrados em pequenos estabelecimentos ou em redes de departamentoHá também academias, clínicas odontológicas, lotéricas, enfim, toda a infraestrutura necessária para atender a demanda cotidiana da populaçãoPor tudo isso, a região é parada obrigatória para quem mora a poucos quarteirões, a exemplo da jovem Aline Freitas de Almeida, de 26 anos, como também para quem reside em bairros do entorno“Acho bom poder ter tudo perto de casa e, como sempre morei por aqui, me habituei a vir à Abílio MachadoMas já começo a identificar alguns problemas, como o crescimento da violência”, diz.

A vendedora Nilce Garcia, de 57 anos, está na lista dos que aprovam o polo regionalizado
Moradora do Bairro Ressaca, vizinho ao Alípio de Melo, ela conta que deixa de ir ao Centro de Belo Horizonte para fazer compras, mesmo trabalhando na Avenida Pedro II, no Bairro Bonfim, ao lado do Hipercentro, mas revela: “Gostaria que a região fosse mais segura e menos tumultuada, porque o polo comercial é bom e atende bem quem mora na região”, afirma Nilce, que reclama da falta de mais policiais no entorno.

O trânsito na Abílio Machado também recebe nota vermelhaAlém de ser o principal corredor do bairro e concentrar a maior parte de linhas de ônibus, recebe o peso do tráfego de automóveis de moradores, de quem usa o comércio e os serviços do polo ou de quem está somente de passagemCria ainda uma disputa com tantos pedestres cruzando a via de um lado para o outro em busca de uma loja, banco ou lanchonete.

Multidão na Rua Padre Pedro Pinto, em Venda Nova: igual ao Centro - Foto: Beto Magalhães/EM/D.A.PressVagas insuficientes

Em outro movimentado ponto regional da cidade, a Avenida Visconde de Ibituruna, no Barreiro, a disputa por uma vaga de estacionamento na via mais movimentada aumenta a lista de irregularidadesNo lugar destinado à parada de veículos credenciados, como vagas para idosos e pessoas com deficiência, há sempre carros e motos estacionadosMorador da região há 34 anos, quando deixou a Região da Savassi (Centro-Sul), o aposentado Nilton José, de 83, critica os desrespeitos“A sinalização de trânsito é boa nas ruas do bairroO problema é a população, que não respeita as regras”, dizO aposentado reclama ainda da falta de policiamento local, o que favorece a ocorrência de crimes, como furtos e roubos.

O lugar é propício a esse tipo de ocorrências, já que reúne grande movimentação financeira e uma multidão em busca de produtos e serviçosCalçadas ficam lotadas, principalmente aos sábadosVice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcos Innecco Corrêa explica que, assim como os centros regionalizados são um recorte do Centro de BH, eles sofrem com o policiamento em menor proporção
“O efetivo é sempre pouco para tantas lojas e clientesCabe aos comerciantes investirem em sistemas de segurança para substituir a falta de policiais”, dizAinda sobre o trânsito, Marco destaca a importância de um investimento maciço no transporte público, ou as pessoas vão pagar o alto preço da falta de mobilidade.

A Polícia Militar afirma ter planejamento específico para atuar estrategicamente nestes polos regionalizados, feito com base nas estatísticas e no levantamento de áreas de maior incidência de crimesO policiamento, segundo o chefe da sala de imprensa da PM, capitão Warley Almeida, é feito com bases comunitárias móveis, a pé, de bike e com patrulhas de prevenção do bairroPor outro lado, a polícia orienta os comerciantes a se protegerem por meio da rede de vizinhos protegidos e com a instalação de câmeras de vigilância, sistemas de alarme, entre outros recursos de prevenção“A Polícia Militar tem consciência da necessidade de um policiamento mais efetivo nesses grandes centros e temos feito o possível para alocar policias nessas áreas”, garante o capitão.

O superintendente de Operações da BHTrans, Fernando Pessoa, explica que os problemas de trânsito nestes corredores são decorrentes do maior número de travessias e da grande demanda por vagas de estacionamento, de carga e descarga e por infrações como parada em fila dupla ou desrespeito à sinalizaçãoSegundo ele, o órgão mantém agentes nesses pontos para monitorar o trânsito em ocasiões de maior movimento, como o Natal.

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NO PLANO DIRETOR

O fortalecimento de grandes corredores com lojas e serviços foi previsto em 1996 no Plano Diretor do Município (Lei nº 7.165/96) e mais recentemente pela Secretaria de Gestão Metropolitana do governo do estado, que identificou novas centralidades em direção aos municípios vizinhos de Belo HorizonteDe acordo com o vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcos Innecco Corrêa, esse movimento teve início nas décadas de 1960 e 1970, com a consolidação da Savassi, na Região Centro-SulDe lá para cá, outras áreas se caracterizaram como polos regionalizados, a exemplo de Venda Nova, Alípio de Melo, Floresta e Barreiro