Serra do Cipó – O olhar permaneceu atento e as orações foram firmes. Muitas lágrimas derramadas. A angústia dos familiares parecia não ter fim. Somente depois de cinco dias de desespero e investigações e de 10 horas de buscas no Rio Santo Antônio, em Conceição do Mato Dentro, os corpos do assessor jurídico do Procon Assembleia Alexandre Werneck de Oliveira, de 46 anos, e da namorada, Lívia Viggiano Rocha Silveira, de 39, foram encontrados. Os dois estavam a cerca de dois quilômetros do local onde foram executados, às margens do rio e a aproximadamente sete quilômetros da cidade. Alexandre e Lívia foram vítimas de latrocínio (roubo seguido de morte) – na sexta-feira, quando saíram da pousada onde estavam hospedados, no Distrito Serra do Cipó, em Santana do Riacho, para passear no mirante da serra.
A localização dos corpos foi difícil. Pela manhã, depois de quatro horas percorrendo de barco e fazendo buscas submersas no leito do rio, o sargento descartou que eles estivessem nas proximidades e decidiu ampliar as buscas para áreas mais distantes. Chegou a fazer uma varredura terrestre do leito do rio, mas foi no início da tarde que os dois corpos foram vistos do alto, boiando, por policiais civis num helicóptero.
O primeiro corpo a ser retirado da água foi o Lívia, que foi levado de barco por bombeiros até a margem. Por causa do acesso difícil, o corpo de Alexandre foi removido do rio cerca de uma hora depois. Os dois foram levados para o Instituto Medico Legal (IML) de BH, onde seriam necropsiados e entregues aos familiares.
Foram levados para o IML também os dois acusados, que fizeram exame de corpo de delito. Marcos Magno Peixoto Faria, de 25 anos, e Helton Moreira de Castro, de 19, seriam levados ainda ontem para o Ceresp Gameleira. Os dois foram interrogados na madrugada de quarta-feira e deram detalhes do crime. Eles deverão ser apresentados hoje à imprensa.
Alexandre e Lívia ficariam hospedados de quinta a sábado na serra. O plano era comemorar o aniversário de Alexandre, no domingo, com a família na capital, mas eles foram surpreendidos no mirante da serra, de onde observavam o pôr do sol. Segundo a polícia, com um revólver, os dois renderam o casal, que estava fora do carro, e os levaram para o leito do Rio Santo Antônio, a sete quilômetros de Conceição do Mato Dentro, onde foram executados. No depoimento, os dois se contradisseram. Marcos assumiu ter matado Alexandre com três tiros e atribuiu a Helton o assassinato de Lívia com dois disparos. Mas o comparsa alegou que as duas execuções foram praticadas por Marcos. A polícia procura testemunhas para esclarecer detalhes. Uma delas seria uma pessoa que teria socorrido Helton após uma queda de moto no caminho entre o mirante e o local do crime.
FUGA E INCÊNDIO
Após o crime, na sexta-feira, Marcos e Helton tentaram fugir levando a Hilux. Mas como o veículo tinha sistema antifurto, não funcionou. Os dois teriam achado que o veículo estava com problemas na bateria, então foram embora levando R$ 174 e dois celulares. No sábado Marcos teria voltado de táxi ao local do crime para dar carga na bateria da Hilux. A intenção era vender o veículo por R$ 5 mil e dividir o dinheiro.
Como a tentativa de ligar o carro não deu certo, eles atearam fogo no veículo, na manhã de segunda-feira, com a ajuda de um menor. Para chegar aos bandidos, a polícia local contou com a ajuda de informantes que delataram um rapaz, dono de uma moto amarela, com o rosto queimado circulando pela cidade. Diante das características, Marcos, que tem uma motocicleta desta cor, foi detido. Na delegacia ele entregou o comparsa Helton e ambos contaram da participação do menor na destruição do carro.
Alexandre e Lívia: um colega querido e uma mãe dedicada
Esperança desfeita num golpe duro do destino. Mesmo com a confissão dos acusados, para os familiares do casal a história só chegou ao fim quando os corpos foram encontrados na tarde de ontem. “Mantivemos a esperança de encontrá-los vivos o tempo inteiro”, disse Daniel Viggiano, sobrinho de Lívia. Ele contou que ainda não sabe explicar o que lhe passou pela cabeça quando viu a tia e o namorado dela serem retirados do rio. Por enquanto, só restou forças para amparar a família: “Só pensava em ser forte para segurar minha tia e minha prima, para elas não desabarem”.
Com uma diferença de idade de pouco mais de seis anos, os advogados Alexandre Werneck de Oliveira, de 46, e Lívia Viggiano Rocha Silveira, de 39, tinham uma história de vida parecida. Ambos já foram casados uma vez e cada um tinha dois filhos da primeira união. Alexandre era servidor de carreira da Assembleia Legislativa de Minas havia mais de 25 anos. A instituição informou que ele começou a trabalhar em dezembro de 1988, e permaneceu até maio de 1993 na Polícia Legislativa.
Durante 10 anos, entre 1993 e 2003, o advogado ficou à disposição da Diretoria de Processo Legislativo, onde trabalhou em comissões da Assembleia. Entre setembro e outubro de 2003, integrou o gabinete do ex-deputado José Henrique. Alexandre também trabalhou na Diretoria de Administração e Pessoal, até março de 2006, quando foi transferido para o Procon, onde exercia o cargo de assessor jurídico.
Até o mês passado, Renato Dantés Macedo, de 48, que também é assessor jurídico do Procon, trabalhava na mesma sala de Alexandre. Ele contou que Alexandre era bem reservado e querida por todos. “A turma está estarrecida com barbaridade”.
Pai de dois adolescentes, de 17 e 15 anos, Alexandre nutria uma paixão pelo Atlético. Ele foi ao Marrocos acompanhar o Mundial de Clubes.
FILHOS
Lívia era a caçula de seis mulheres e dois homens, nascida em Itanhomi, no Vale do Rio Doce. Aos 21 anos, conheceu o futuro marido, com quem teve um relacionamento de 10 anos e um casal de filhos, hoje um rapaz de 16 e uma garota de 11. Os dois estão passando férias com o pai, o produtor musical e administrador Oldair da Silveira, de 35. “É uma pessoa que fará uma falta enorme. A gente não entende como alguém ode fazer isso com uma pessoa tão boa”, lamentou .
Oldair informou que os dois estudavam direito juntos. “Minha família tem escritório de advocacia e era uma forma de assumirmos a demanda”, explica. Mas o casamento chegou ao fim no meio do curso e apenas Lívia concluiu a graduação. O administrador foi o responsável por conversar com os filhos sobre a tragédia: “Ela sempre cuidou dos meninos perfeitamente. Ninguém consegue acreditar nisso tudo”.