Jornal Estado de Minas

O medo assombra o paraíso

Assassinato de casal aumenta o medo na Serra do Cipó

Região sofre com o avanço da violência nas cidades vizinhas. Pousadas da região ampliam investimento em segurança

Representante comercial Márcio Madeira e familiares foram ao mirante onde o casal foi atacado, e, por precaução, voltariam à pousada antes de escurecer - Foto: PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS


Serra do Cipó – Um paraíso ecológico que atrai até 30 mil turistas nos fins de semana e feriados para prática de esportes e lazer nas trilhas, cachoeiras e rios, em meio à fauna e à flora exuberantes, está assombrado pelo medoO distrito Serra do Cipó tem 2,2 mil habitantes e pertence a Santana do RiachoNão registrou assalto e teve um homicídio por questões familiares em 2013, mas a criminalidade avança nos municípios vizinhos, como Conceição do Mato Dentro e São José do Almeida (distrito de Jaboticatubas)O brutal assassinato do casal de namorados, cujos corpos jogados no Rio Santo Antônio pelos dois assaltantes foram resgatados ontem, aumentou o medo e já levou ao cancelamento de até cinco reservas em pousadas da região.

 

Moradores e turistas estão assustadosO vice-presidente do Conselho de Segurança Pública (Consep) do distrito Serra do Cipó, Marcos Alves Ferreira, de 62, é dono de pousada e convocou reunião de emergência para ontem à noite“A pauta é segurançaVamos orientar donos de hotéis e pousadas para reforçar as dicas de segurança aos hóspedes, com distribuição de folhetos, para que nunca saiam sozinhos para fazer trilhas, sempre em grupos, e que evitem locais isolados”, informou.

As pousadas indicarão guias turísticos oferecidos por duas empresas locaisA de Marcos Alves tem portão eletrônico e câmeras"Vou aumentar a segurança para a Copa do Mundo", garantiuEle acredita que a população local já ultrapassa os 6 mil habitantes, pois muita gente está se mudando para a regiãoPara Marcos, o assassinato do casal prejudica o turismo.

Ontem, duas famílias de São Domingos do Prata e Contagem viajaram juntas para conhecer a beleza da Serra do Cipó

Estiveram no mirante onde o casal foi abordado pelos criminosos e ficaram apreensivas“Estou aqui com a minha família porque somos um grupo de 10 pessoasSozinho, eu não ficariaVamos voltar para a pousada antes de escurecer", disse o representante comercial Márcio Madeira, de 40.

O engenheiro Leandro Durães, de 27, mora em BH e sempre vai à Serra do Cipó percorrer trilhas de bicicletaAgora, está preocupado: "Não vou pedalar mais com tranquilidadeO último reduto de paz em Minas foi quebradoA gente poderia ser as vítimas"Ele disse que na terça-feira descia a serra e uma cena chamou a sua atenção"Ao lado da estátua do Juquinha, símbolo de paz neste lugar, estava uma viatura da Polícia Civil, um sinal de violênciaEsse crime manchou a imagem da Serra do Cipó", lamentou.

Moradora da capital também, Lúcia Helena Bretz, de 51, passou alguns dias com a mãe na região
"Estou assustadaNinguém mais pode sair sozinhoMuitos jovens vêm para cá, inclusive meu filho com a namorada", disse.

DEMANDA GRANDE

O tenente Afonso do Nascimento, comandante do pelotão local, que pertence à 150 Ciada PM de Santa Luzia, na Grande BH, informou que são 20 militares para atender a sede de Santana do Riacho e os distritos Serra do Cipó e Lapinha da Serra, esse distante 42 quilômetros, com população total de 4,8 mil habitantes"Nosso efetivo é suficienteQuando o fluxo de turistas é muito grande, como nas temporadas, temos reforço de Santa Luzia", informou.
No ano passado não foi registrado assalto no distritoEm 2012 foram cincoOs furtos caíram de 59 em 2012 para 37 em 2013"Tivemos um homicídio em 2012 e um em 2013", afirmou o militarEm 2012, foram duas tentativas de homicídioNo ano passado, umaO grande problema é a violência em localidades vizinhas que ameaça a paz da Serra do Cipó, afirmou o tenente.

"As estatísticas de Jaboticatubas são altíssimasA Serra do Cipó fica entre Jaboticatubas e Conceição do Mato Dentro, onde a criminalidade avançou muito devido ao crescimento desordenado da população em função das mineradorasA nossa luta agora é manter a tranquilidade na serra", disse o tenente.

O distrito é cortado pela MG-010, que tem grande movimentação de veículos"São caminhões de minério e turistas indo para Diamantina, Serro e Guanhães”, revelouO policial recomenda aos turistas que não saiam sozinhos das pousadas, evitem trilhas desconhecidas, não deixem objetos de valor dentro dos carros e também não os ostenteEle afirmou ainda que o sinal de celular na região é ruim, o que dificulta socorro.

INSEGURANÇA

 

São José do Almeida pertence a Jaboticatubas e fica a 30 quilômetros da Serra do CipóSão 6 mil moradoresO tráfico e o uso de drogas é uma das maiores preocupações dos moradores e da polícia, além de furtos e roubosO vice-prefeito de Jaboticatubas, Umbelino Caetano Dias (PMN) trabalha na subprefeitura de São José do AlmeidaSomente o distrito tem 300 quilômetros quadrados, quase a dimensão territorial de BH, e conta com apenas nove policiais divididos em três turnos.

No início da tarde de ontem, o destacamento estava fechado"PM só aparece aqui de vez em quandoTemos assaltos, arrombamentos de casas e todo tipo de coisa ruim por aqui", reclamou uma vizinha"Donos de sítios não querem ficar mais aquiDroga, então, tomou conta da cidade", disse outra moradora"A unidade da PM fica fechada o tempo todo”, afirmou uma vizinha delaO comerciante Marcílio Miranda, de 46, contou que houve reunião com a PM de Santa Luzia no fim de semana para pedir mais policiamento"O número de policiais não é suficienteA nossa população é maior do que três municípios vizinhos juntos (Santo Antônio do Rio Abaixo, Passabem e São Sebastião do Rio Preto)", informou o vice-prefeito, preocupado com o tráfico e o consumo de drogas no lugar.

O vice-prefeito informou que fora do horário administrativo os PMs têm que viajar 70 quilômetros, dos quais 14 em estrada de terra, para registar boletim de ocorrência no Bairro Palmital, em Santa LuziaA prefeitura paga o aluguel do prédio da PM em São José do Almeida e o carro particular do vice-prefeito é emprestado aos militares e também serve de ambulância para socorrer a população.

"Ficam apenas dois policiais por turno no destacamento, com uma única viatura, e eles saem para atender ocorrências em toda a região", disse Umbelino.
O comandante do pelotão não foi encontrado ontem, pois na quarta-feira o expediente administrativo da PM é encerrado às 13hO cabo Rogério Rocha esteve mais tarde no destacamento e disse não ter acesso às estatísticas da criminalidadeSegundo ele, o distrito é refúgio de marginais que saem de BH, devido à extensão territorial e às matas, também usadas para desova de corposDisse ainda que existem 27 condomínios residenciais na região e muitos donos de sítios ficam até 30 dias sem visitar o local, o que facilita arrombamentosGerente de um posto de combustível às margens da MG-010, Ringo Star Sales Costa tem medo: "Já fomos roubados cinco vezesOs ladrões ameaçam matar os frentistas com armas na cabeça”

 

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