A demora em definir as especificações do BRT – o transporte rápido por ônibus de Belo Horizonte, batizado de Move – obrigou as montadoras de chassis e carrocerias dos 432 ônibus tipo padron (100 lugares) e articulados (144 lugares) a trabalhar a pleno vapor. Precisam garantir que em 37 dias haja um número mínimo de unidades prontas para que a inauguração do primeiro corredor do sistema possa operar satisfatoriamente. Porém, de pelo menos 89 coletivos esperados no corredor da Avenida Cristiano Machado e Região Central da capital, em 15 de fevereiro, a melhor expectativa dos fabricantes é de que 42 sejam entregues, número 53% menor. As informações são de um levantamento feito pelo Estado de Minas a partir de dados repassados por empresas de carrocerias e chassis.
De acordo com especialistas, a frota reduzida e o prazo apertado de treinamento podem comprometer testes adequados para o Move, que precisará de mais dias e veículos para o desempenho esperado. As empresas apontam demora da BHTrans na definição técnica dos ônibus para justificar o prazo apertado. Os cinco fornecedores de carrocerias do Move – Caio, Comil, Marcopolo, Mascarello e Neobus – esperam entregar 42 ônibus articulados e cinco do tipo padron para a abertura inaugural do Corredor Cristiano Machado. A frota de 432 BRTs, que depende ainda do fornecimento de chassis da Mercedes-Benz, Scania e Volvo, ganhará as ruas de forma gradual, até abril.
Representante de um dos fornecedores, que pediu para não ser identificado, admite que só conseguirá cumprir no fim de fevereiro o lote inicial de 32 ônibus articulados para os consórcios operadores do transporte em BH. As alterações nas especificações dos ônibus – listadas no Decreto 15.019/2012 – foram confirmadas pela BHTrans em 17 de dezembro, a poucos dias do início das férias coletivas das fábricas. Alguns dos fornecedores só retomarão os trabalhos no início da próxima semana. “A BHTrans só definiu a configuração interna dos veículos em dezembro. Não se pode encomendar o ônibus sem saber a posição das portas e distribuição de assentos”, disse o representante de outra empresa. “Nossos ônibus estão entrando em linha somente agora por causa dos atrasos da BHTrans”, acrescentou.
CRÍTICAS
O mestre em engenharia de transportes e professor da Universidade Fumec Márcio Aguiar critica o desrespeito aos prazos do BRT. “A data inicial era a Copa das Confederações, em julho do ano passado, e foi prorrogada por duas vezes. Com o atraso na entrega dos ônibus, pode ficar inviável iniciar a operação em 15 de fevereiro”, alerta. De acordo com o especialista, faltam ainda muitas intervenções para testar o sistema de forma adequada. “Assusta-me saber que os ônibus só vão começar a ser produzidos agora. De fato a operação parece que só vai ocorrer próximo da Copa do Mundo”, considera.
Por sua vez, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) diz que se houver atrasos não poderão ser atribuídos às empresas, pois os veículos foram comprados e as entregas acertadas para fevereiro, março e abril, como previsto oficialmente. No entanto, os próprios consórcios chegaram a adiar a compra do pacotão dos BRTs por duas vezes em 2013, como mostrou reportagem do EM. A BHTrans se limitou a informar que os corredores da Cristiano Machado e Região Central serão abertos em 15 de fevereiro, não informando quais linhas e quantos ônibus estarão em funcionamento no BRT.