Jornal Estado de Minas

Extermínio de pombos na Savassi causa indignação e indiferença

Várias aves apareceram mortas em uma rua de grande movimento na Região Centro-Sul, dividindo opiniões

Jefferson da Fonseca Coutinho

Ienio Henrique Miranda Albino e Ana Carolina Bamberg Brandão abominaram a matança das aves - Foto: Beto Novaes/EM/D.A Press


Um misto de curiosidade, indignação e indiferença tomou conta das pessoas que passavam nessa sexta-feira pela esquina das ruas Rua Pernambuco e Inconfidentes, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, ao se depararem com seis pombos no chão e quatro em sopro de vida no alto da marquiseJunto a sacos de lixo, uma caixa de papelão com restos de pão e o suposto veneno“É chumbinhoConheçoColocaram para acabar com os bichinhosNão está certo”, diz o morador que não quer aparecerOutra voz rouba a cena: “Essa praga só traz doença!”, diz o barbudoUm depoimento, senhor? “NãoObrigadoNão quero problema com esse povo protetor de animais”, esquiva-seCuriosos se juntam ao movimento polêmico em torno dos corpos das aves na calçada.

Um jovem casal participa do debate

Ainda que sem se entenderIenio Henrique Miranda Albino, de 22 anos, não acha tão absurdo o extermínio dos pombos“É uma cena difícil, mas sou a favor porque transmitem doenças”, opinaA namorada, também estudante de engenharia, Ana Carolina Bamberg Brandão, de 21, é contra“Não concordo de jeito nenhumDeveriam tomar outra medida… Não essalevá-los para um novo lugar”, disseIenio tenta argumentar, mas não encontra brecha para mudar a opinião de Ana Carolina, que entende ser “um absurdo” o envenenamento dos pombos.

Reinaldo Fraga, de 42, pesquisa no celular e mostra o resultado: “LeptospiroseVeja só a calçada… olha a sujeira que eles fazemTem uma escola aqui em frente

Isso é muito nocivo para a saúde de crianças e adultosQuem fez isso, certamente, estava pensando na saúde das pessoas”, dizDe passagem, a cozinheira Conceição Aparecida Gomes, de 49, discorda“É uma maldadeQuem fez isso não tem coraçãoNão tenho palavrasÉ um absurdo”, lamentaPara Halsenclair Alves Moreira, de 45, trata-se de grande crueldade“O bichinho não tem nada a ver com issoÉ indefesoAssim, é sacanagem.”

INDIGNAÇÂO “No Brasil, quando não se dá conta, mata”, brada Maria Beatriz Constantino, dona do imóvel de esquina – onde vivem os pombosA advogada diz que “os assassinos” estão promovendo o extermínio para atingi-la“É minha única alegria: cuidar dos animaisSabem o quanto defendo a natureza, o quanto gosto dos bichos”, diz, transtornadaPara a advogada, o aumento do número de pombos na esquina é porque eles se comunicam e sabem que ali são respeitados e bem tratados por ela“Há uns 10 anos cuido dos pombos e de uns tempos para cá começaram a envenená-losIsso é um crime”, lamenta.

Não é a primeira vez que Maria Beatriz lida com esse tipo de absurdo no endereço em que nasceu nos anos 1940Antes dos pombos, a advogada viu seus gatos, “uma a um”, envenenados por “assassinos”“Mais de 10Quase todos mortos dessa forma covarde”, emociona-sePara a advogada, para entender a violência crescente, basta ver o que o homem tem feito com a natureza“É por isso…” – aponta os pombos mortos na calçada – “… é por isso que hoje temos tantos criminososTantos bandidos que não dão o menor valor à vidaQuem faz isso com os bichos, faz o mesmo com o semelhanteO homem é o lobo do homem”, diz, parafraseando o filósofo inglês Thomas Hobbes.