Jornal Estado de Minas

BH terá desafios de comunicação com turistas latino-americanos

Capital mineira irá receber milhares de torcedores de seleções latino-americanas que passarão pela região na Copa e de times adversários de Galo e Cruzeiro na Libertadores. Estrangeiros que vivem em Minas elogiam hospitalidade, mas preveem problemas de comunicação

Tiago de Holanda
Gustavo Ramón, argentino de 45 anos, na foto com o chileno Antinio Fan Bastia, de 61, e o uruguaio Jesus Orlando Lopez, de 58, na Praça da Liberdade. Moradores de BH, eles sofreram para ser compreendidos em visitas a museu e ao Centro de Atendimento ao Turista - Foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press

Argentinos, uruguaios, chilenos, colombianos..Em 2014, o futebol fará Belo Horizonte ser invadida por torcedores de vários países latino-americanosEles começam a chegar no próximo mês, quando Atlético e Cruzeiro iniciam a disputa da Copa LibertadoresE o número de estrangeiros aumentará em junho e julho, durante a Copa do Mundo: BH e cidades próximas foram escolhidas para ser locais de concentração das seleções de Argentina, Chile e Uruguai, e o Mineirão será palco de três partidas com equipes de língua espanholaCom tantas pessoas falando castelhano, autoridades admitem que será um desafio para a cidade fazer do espanhol uma espécie de segunda línguaSul-americanos que vivem em BH concordamPara eles, compatriotas vão apreciar a hospitalidade mineira, mas podem estranhar hábitos e ter dificuldade para se comunicar – mesmo em pontos turísticos, não é fácil achar atendentes fluentes no idioma e nem sempre o portunhol resolve.


Na primeira fase da Libertadores, o Atlético enfrentará Nacional (Paraguai) e Zamora (Venezuela)O terceiro adversário, ainda indefinido, será mexicano ou colombianoJá o Cruzeiro jogará contra Defensor (Uruguai), Real Garcilaso (Peru) e um concorrente chileno ou paraguaioMais adiante, no Mundial, a seleção comandada pelo atacante Lionel Messi se concentrará na Cidade do Galo, em Vespasiano, Região Metropolitana de BHO Uruguai ficará em Sete Lagoas, também na Grande BH, e o Chile treinará na Toca da Raposa II, na Pampulha

Na fase de grupos do torneio, em junho, o Mineirão terá três partidas com times latino-americanos: Colômbia x Grécia, no dia 14; Argentina x Irã (21); e Costa Rica contra Inglaterra (24).


Durante a Copa, a embaixada argentina no Brasil acredita que BH receba 20 mil visitantes do país, quase cinco vezes mais que o total de argentinos que pousaram em 2012, no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins: 4.158Segundo a Secretaria de Estado de Turismo (Setur), durante todo aquele ano desembarcaram em BH 10.119 turistas de vizinhos latino-americanosA nação de Maradona lidera o ranking, seguida por Venezuela (987), Colômbia (925), México (904), Uruguai (879), Equador (552), Peru (494) e Chile (483)“No Mundial, uruguaios e chilenos virão em menor número que argentinos, mas também haverá muitosBH será a cidade-sede latino-americana”, prevê o secretário municipal extraordinário para a Copa, Camillo Fraga.


Sul-americanos que vivem em BH estão animados com a perspectiva de ver de perto as seleções de seus países e encontrar vários compatriotas, mas alertam: há problemas por aquiO EM convidou três deles para falar sobre a capital mineira e testar o castelhano dos belo-horizontinosGustavo Román, de 45 anos, nasceu na cidade de Neuquen, na Patagônia argentinaMudou-se para o Brasil em 2000 e, depois de morar no litoral baiano e em São Paulo, fixou-se em BH em 2003Ele é dono da Pizza Sur e do Restaurante Parrilla Los HermanitosO uruguaio Jesus Orlando Ribero Lopez, de 58, nasceu em Rivera, na fronteira com o Rio Grande do Sul, e chegou a Minas em 2006

Hoje, é gerente do restaurante Parrilla Del PatioJá o professor de Karatê e defesa pessoal Antinio Fan Bastias, de 61, é natural de Santiago, capital chilena, e veio para Belo Horizonte em 1986.

Problemas
Em um passeio na tarde de quinta-feira, a primeira parada foi o Museu das Minas e do Metal, na Praça da Liberdade, Região Centro-SulJesus se aproximou da atendente e questionou: “Qué ofrece el museo para el turista?”(O que o museu oferece ao turista?)A moça não entendeu: “O quê?”O outro repetiu a perguntaInsegura, sem querer prolongar a conversa, a moça se limitou a dizer, em português: “São várias salas sobre Minas GeraisEstá tudo neste livreto”E entregou um panfleto com textos em espanholO uruguaio saiu frustrado: “Ela deveria ter tentado um diálogo em vez de se liberar dando o livreto”.


O endereço seguinte foi o Centro de Atendimento ao Turista (CAT), instalado ao lado do Parque Municipal Américo Renê Giannetti, no CentroAssim que se apresentaram, os estrangeiros foram informados da ausência do atendente que fala espanholAntinio não se desanimou e perguntou a um rapaz: “Si hablo rápido, no me entiendesPero si hablo despacio, me entiendes?”(Se eu falar rapidamente você não me entendeMas se eu falar devagar, me entende?)O outro disse que simEnquanto isso, Jesus recebeu informações de uma moça que tampouco sabia o idioma estrangeiro, mas conseguiu se virar diante da complacência do uruguaio, que falou pausadamenteA jovem teve o esforço elogiado por seu interlocutor: “Ela foi muito legalFalou com calma”.


Depois da caminhada, os companheiros sentiram fome e foram a uma pastelaria ali perto, na Avenida Afonso PenaO chileno pediu à atendente de caixa: “Quiero un juguito de piña y una cosa que tenga pollo”(Quero um suquinho de abacaxi e algo que tenha frango)A mulher contestou, franca: “Ih, não entendi nada”Foi a vez de o uruguaio tentar, usando outra palavra para abacaxi mais comum em seu país: “Yo quiero un jugo de ananá”(Quero um suco de abacaxi)A outra perguntou: “Guaraná?”Jesus repetiu o pedido e ela desistiu, contradizendo o cardápio: “Não tem”Para a salvação dos estrangeiros, eles foram acudidos pela empresária Sandra Vogel, de 40, que estava no balcão comendo pastel, percebeu o aperto e serviu de intérprete“Já tive aulas de espanhol”, explicou“Se não fosse ela, passaríamos fome”, constatou Antinio.