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Estado de Minas

Pais de menina morta em piscina de clube fazem alerta para evitar outras mortes

Pais de Mariana de Oliveira, de 8 anos, que morreu 12 horas depois de ficar presa em equipamento de piscina em clube de Belo Horizonte, lembram do jeito doce da menina e buscam forças na fé e na Justiça para enfrentar o sofrimento


postado em 12/01/2014 07:00 / atualizado em 12/01/2014 10:04

'No dia em que se despediu de mim para ir ao clube, ela estava sentada neste canto do sofá. Disse que queria ir, aproveitar o sol e o calor para brincar com a prima', Marco Aurélio de Oliveira, ao lado da mulher, Ieda, mostra foto das filhas, Mariana e Júlia(foto: Marcos Michelin/EM/D.A. Press)
'No dia em que se despediu de mim para ir ao clube, ela estava sentada neste canto do sofá. Disse que queria ir, aproveitar o sol e o calor para brincar com a prima', Marco Aurélio de Oliveira, ao lado da mulher, Ieda, mostra foto das filhas, Mariana e Júlia (foto: Marcos Michelin/EM/D.A. Press)
Um anjo de asas douradas apareceu em sonho. Disse estar bem, brincando muito e feliz. Que já levou mais de 60 tombos e mesmo assim não se machucou. E revelou ainda, envolto em uma coroa de luz branca, que já havia comido muitas frutas diferentes, mas que não podia trazê-las para a irmã. O “encontro” com a irmã foi descrito por Júlia de Oliveira, de 12 anos, aos pais, Marco Aurélio e Ieda de Oliveira, depois de uma trágica experiência vivida pela família.


Júlia sonhou com Mariana de Oliveira, de 8, que se afogou em uma piscina do Jaraguá Country Club, na Pampulha, em Belo Horizonte. Ela ficou presa pelos cabelos no equipamento de sucção de água e morreu no Hospital Odilon Behrens na madrugada do dia 4, 12 horas depois de ser socorrida no clube. O tio e padrinho de Mariana, o empresário Fernando de Oliveira, de 60, e a irmã de uma funcionária da família contam que tiveram sonhos parecidos com a garota. Na vida real, é na fé em Deus e no apoio de parentes e amigos que os pais e a irmã da menina buscam forças para superar a tristeza.

Na sexta-feira, a família recebeu a reportagem do Estado de Minas em casa, no Bairro Ipiranga, na Região Nordeste da capital. Os pais desabafaram e falaram da saudade da pequena Mariana, que para eles parece estar em todos os cantos. “No dia em que se despediu de mim para ir ao clube, ela estava sentada neste lado do sofá. Disse que queria ir, aproveitar o sol e o calor para brincar com a prima”, lembrou Ieda.

O quarto de Mariana continua intacto, como se a presença dela ainda fosse real. Bem em frente à porta do cômodo no qual ela dormia e passava parte do dia se divertindo com suas bonecas, Júlia se entretia com um livro. “Elas gostavam de brincar juntas. Eram muito amigas”, contou Marco Aurélio. A mãe revelou ter sido doloroso retirar objetos pessoais de Mariana do quarto de Júlia. E que ainda não vê o momento como oportuno para desmontar o quarto da filha que se foi. “A hora certa vai chegar”.

Por ora, a família anda vive sem muita noção do passar do tempo. Falta ânimo para voltar ao trabalho e à vida normal. Eles acreditam ser necessário viver o luto e a dor. Mas, conscientes, dizem que não vão cultivar tristeza em casa. Um dos passos para superar o sofrimento já foi dado. A família aceitou o convite de parentes para viajar por uma semana. Vai estar distante, mas com a filha no coração.

 

Entrevista - Marco Aurélio e Ieda de Oliveira
Casal aponta falhas de segurança e pede que caso sirva de alerta para evitar mortes
'Se existem responsáveis, queremos que sejam punidos'

 

'No dia em que se despediu de mim para ir ao clube, ela estava sentada neste canto do sofá. Disse que queria ir, aproveitar o sol e o calor para brincar com a prima', Marco Aurélio de Oliveira, ao lado da mulher, Ieda, mostra foto das filhas, Mariana e Júlia(foto: Marcos Michelin/EM/D.A. Press)
'No dia em que se despediu de mim para ir ao clube, ela estava sentada neste canto do sofá. Disse que queria ir, aproveitar o sol e o calor para brincar com a prima', Marco Aurélio de Oliveira, ao lado da mulher, Ieda, mostra foto das filhas, Mariana e Júlia (foto: Marcos Michelin/EM/D.A. Press)
Como era a Mariana em casa, no dia a dia?
Marco Aurélio – Era uma menina muito evoluída e bondosa, queria resolver o problema de todos. Queria, por exemplo, arrumar casa para todo mundo morar. Amável, doce e educada, ela espalhava alegria por onde passava. Dizia todos os dias à nossa funcionária que a amava. “Eu te amo Teca, tá?”. Passava pelo porteiro do prédio, o senhor Elias, e o abraçava diariamente. Agora, ele nos pergunta: ‘Como vou ficar sem a Mariana?’ Ela fazia diferença. Enchia os lugares de alegria quando chegava. Em um restaurante que costumamos ir, ela conhecia os garçons e todos eles a chamavam pelo nome. Na escola, era inteligente e querida. Em família, um presente, uma menina meiga e especial.

Como foi receber a notícia da morte?
Ieda – Foi um choque. Sabíamos que tinha sido somente um acidente na piscina, não tínhamos noção da gravidade. Naquela noite, quando ela estava internada, um dos médicos disse que ela seria sedada, mas a neurologista resolveu fazer uma ressonância e adiantou que a lesão cerebral tinha sido muito grande e que o resultado havia sido péssimo.

Vocês tinham esperança de que ela ficasse bem?
Marco Aurélio – No hospital, tínhamos certeza de que ela iria se recuperar. Mariana nunca adoeceu, nunca teve uma gripe. Era uma menina forte. Mas, após o resultado da ressonância, a esperança diminuiu. A neurologista adiantou que ela tinha 99% de chance de viver em estado vegetativo. Tivemos medo do pior. Continuamos em casa em oração, mas às 5h20 do sábado fomos chamados ao hospital pela assistente social. Ela disse que não poderia adiantar nada por telefone, mas que precisávamos ir até lá. Foi quando recebemos a notícia da morte.

Como vocês reagiram?

Ieda – Queríamos que ela acordasse e foi muito duro saber que isso não aconteceria mais. Foi uma dor muito grande. Essa história não tem nada de bom, mas Deus foi muito justo com ela, porque não quis que ela vegetasse sobre uma cama, o que não combinaria com a alegria e a esperteza de Mariana. Apesar do sofrimento, estamos lutando para entender isso, já que nossa filha ficou sem opção. Estamos tentando nos reerguer. Desde o dia da morte dela, estamos recebendo um apoio descomunal de nossos parentes e amigos. Até mesmo pessoas desconhecidas nos procuram para prestar solidariedade.

Vocês acreditam que Mariana tinha uma missão?
Ieda – Acredito que todos nós temos uma missão na Terra. Mariana foi vítima de uma tragédia, de um descaso, de uma irresponsabilidade. Mas se ela tinha uma missão, acredito que a morte dela ocorreu para proteger outras pessoas, outras crianças. Serviu para evitar que outras pessoas se acidentem naquela piscina e em todas as outras que tenham uma armadilha como aquela.

Seria como se a morte dela acendesse um alerta para outros clubes?

Marco Aurélio – Sim, claro. Porque a morte da Mariana foi provocada por falhas de gestão e de infraestrutura. Ela sabia nadar muito bem. Já nadou comigo no mar e em cachoeiras. Temos piscina em casa e sempre achamos importante que nossas filhas soubessem nadar muito bem. Mas, naquele dia, ela foi sugada por um equipamento que não deveria estar ali, ou que deveria ter uma proteção para não provocar acidentes. Infelizmente, foi com nossa filha. Mas o caso dela serve de exemplo para que se observem as condições das piscinas de todo o país, bem como de qualquer instalação que nós, pais, pressupomos que sejam seguras por estarem em estabelecimentos especializados.

Quais as falhas que vocês apontam?
Marco Aurélio – Houve uma sequência de erros, desde a parte de infraestrutura até a gestão do clube. A primeira grande falha foi a instalação do equipamento de sucção naquele local, sem nenhuma proteção, o que deixa qualquer pessoa em risco. Diante de um acidente, outros problemas se revelaram, como a falta de salva-vidas próximo à piscina, o desconhecimento deles sobre o local da chave que desliga a bomba de sucção e o despreparo deles para o salvamento. De modo geral, também percebemos que falta fiscalização nesses lugares. Será que não existem regras para a construção de piscinas, e se existem, por que não foram fiscalizadas pelos órgãos públicos? E será que as pessoas que estão à frente da diretoria de piscinas do clube são preparadas para essa função? São perguntas que ainda estamos nos fazendo.

O que vocês pretendem fazer?
Marco Aurélio – Não temos revolta. Nosso sentimento é de indignação porque perdemos nossa filha por um total descaso. Vamos esperar o laudo da perícia e a conclusão do inquérito policial para decidir qual decisão tomar. Dinheiro algum vai fazer diferença nessa hora, porque perdemos nosso presente de Deus. Mas, se existem responsáveis na esfera criminal, queremos que eles sejam punidos. E que o caso da Mariana possa contribuir para que as exigências legais para construção e manutenção de piscinas sejam mais rígidas e, acima de tudo, cumpridas.


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