Jornal Estado de Minas

Palácio da Liberdade tem problemas de infraestrutura e segurança

Documento elaborado por funcionários que trabalham no prédio transformado em museu aponta falhas na segurança e desconforto para visitantes. Estado nega risco e anuncia obras

Jorge Macedo - especial para o EM

Mateus Parreiras

- Foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press
Documento interno elaborado por funcionários que trabalham no Palácio da Liberdade, transformado em museu e aberto à visitação púbica desde agosto do ano passado, cita problemas na infraestrutura do prédio, tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), e alerta para problemas de segurança e conforto para as cerca de 4 mil pessoas que percorrem mensalmente seus históricos salões nos meses mais concorridosO Estado de Minas teve acesso ao relatório, visitou o palácio, integrante do Circuito Cultural da Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, e constatou os problemas citados no documento

Em 18 cômodos não há extintores de incêndio – em três deles, os suportes para aparatos de combate ao fogo estão vaziosResponsáveis pela equipe de guias denunciam que passadeiras não são seguras, o que pode causar tombosHá problemas também nos banheiros e no fornecimento de água, bem como no monitoramento de segurança e nos painéis de mídiaO governo de Minas reconheceu que há falta de extintores, mas disse que o problema é passageiro, informou que há projetos em andamento para a modernização do prédio histórico e manutenção dos equipamentos de multimídia, e contestou algumas informações contidas no relatório ao qual o jornal teve acesso.

O salão nobre, sala das medalhas, salão dourado, salão vermelho, salão de jantar, quarto dos governadores, quarto de vestir, gabinete do governador, sala de audiências, sala de espera, sala das secretárias e mais sete ambientes não dispõem de extintores de incêndioNo salão de jantar e em outros dois cômodos, suportes para o aparato de combate ao fogo estão vazios.

“Nosso equipamento de sinalização e combate a incêndio é precário, quase inexistente”, afirma um dos funcionários do museu, que pede para não ser identificadoNa carta que circulou entre mediadores de visitas e vigilantes, um dos responsáveis pela organização de exposições alerta para problemas de segurançaAdverte que o bem-estar dos turistas pode ficar comprometido por tapetes que forram o chão de madeira“No segundo piso, é necessária a substituição das passadeiras atuais, que apresentam sérios riscos de acidentes, além da expansão da área por elas cobertas”, afirma o textoA reportagem constatou também que boa parte do piso está exposta

De acordo com os guias, já há pontos em que a delicada madeira já se encontra arranhada, perfurada ou rachada.

Câmeras

A correspondência interna relata preocupação com a insegurança: “O palácio precisa da instalação de câmeras de segurançaO ideal seria termos em todos os cômodos (sic), mas, caso não seja possível, pelo menos na recepção”Outro trecho relata episódios recentes: “No sábado, 28/10, houve furto de dinheiro da mochila de três funcionários, e no domingo, 29/10, de um celular (também de trabalhador)”.

- Foto: Mateus Parreiras/EM/D.A Press No documento, o representante dos organizadores das visitas reclama da redução da equipe de segurança nos fins de semanaCom isso, restringe-se a visitação aos jardins – uma corrente impede a passagem para o quiosque no fundo do Liberdade“Não há proteção para a piscina, o que representa risco de queda de pessoas, principalmente de crianças”, adverte o texto, para completar: “No interior do palácio, o número de seguranças costuma variar, o que pode deixar o primeiro piso, onde a visita é livre, mais vulnerável algumas vezes”.

Hoje, o prédio completa 39 anos de tombamento pelo IephaEm 1897, o palácio foi inaugurado junto com a nova capitalCoube a ele abrigar a estrutura administrativa transferida de Ouro Preto para Belo HorizonteEstão preservados o mobiliário e cômodos onde despacharam vários governadores


Visitantes querem mais conforto
Os visitantes do Palácio da Liberdade reclamam da falta de confortoO passeio dura 40 minutos, em média

Nos dois pavimentos há seis toaletes sinalizados – dois para pessoas com problemas de locomoçãoEntretanto, todos os espaços estão interditados, obrigando o turista a se deslocar até as instalações nos jardins, a 60 metros da área interna“Realmente, isso tira a nossa comodidade, além da tranquilidade para poder admirar e conhecer a história do nosso estado, que é tão belaDescer do segundo andar até o jardim não é fácil para todo mundoÉ uma falta de consideraçãoPior: você ainda perde a exposição”, reclamou a aposentada Eloísa Gontijo, de 72 anos, que ontem foi conhecer o Palácio da Liberdade.

O interior dos banheiros é acanhadoOs dois pequenos cômodos ficam num barracão no jardimOntem, faltava papel toalha para secar as mãos no toalete masculinoSobre a pia, o sabonete líquido fica dentro de uma garrafinha de água mineral reaproveitada, com um furo na tampa servindo como dosador.

“Muitas vezes, os banheiros externos estão sujos, sem papel higiênico e sem assento sanitário, assim como o dos servidores, localizado em um andar intermediário dentro do palácio”, destaca o documento que circula entre os funcionários.

Visitantes e mediadores reclamam dos painéis de mídiaAlguns apresentam defeito, outros são automáticos e, como não podem ser controlados por guias, acabam não cumprindo o objetivo de informar“Quando você entra na sala, o vídeo está no meioNão dá para entender nadaAí os guias saem com a gente antes de terminar o filme”, reclama a carioca, Vilma Alves de Lima e Silva, de 54.


Obras previstas este ano
Em nota enviada pela Superintendência Central de Imprensa, o governo de Minas informa que a modernização e a melhoria do atendimento ao público que visita o Palácio da Liberdade estão contempladas no projeto de valorização do patrimônio cultural de Minas e que as obras serão iniciadas até marçoEstá prevista a construção de instalações na parte de trás do prédio, para dar mais conforto aos visitantes.

 Quanto à segurança, a nota informa que o projeto de combate a incêndio foi aprovado em 2006, depois da restauração, e segue todas as normas do Corpo de BombeirosA ausência de extintores, segundo o estado, se deve à necessidade de recarga dos mesmos, e que a situação será normalizada no máximo em cinco diasO número de extintores hoje em uso, segundo a nota, é suficienteO estado também informa que 14 pessoas, entre funcionários e monitores do Palácio da Liberdade, foram capacitados como brigadistas de incêndio.

No caso das passadeiras, o governo nega que elas estejam desgastadas e apresentem riscos para os visitantes"As passadeiras são novas e têm borracha de proteção embaixo que evita escorregões", diz a nota, acrescentando que nunca foi registrado qualquer acidente do tipo desde que o palácio foi reabertoA falta de câmeras de segurança é reconhecida na nota, que informa a existência de planos de implantação do sistema em breve

Sobre os banheiros, o estado afirma que em todos os prédios históricos tombados, por questão de conservação, os "banheiros internos não são abertos ao público, como ocorre em outros países", e considera que os banheiros externos "atendem os visitantes de forma apropriada"Também foi informado que haverá ampliação das instalações destinadas ao públicoAinda segundo estado, há água suficiente para o públicoO Iepha também pretende instalar sombrinhas para proteger os visitantes do sol

As filas existem, segundo o documento enviado ao jornal pela Superintendência de Imprensa, porque o Palácio da Liberdade tem um limite de visitantes, definido pelo Corpo de BombeirosO governo também afirma que não registro de qualquer tipo de furto no palácio e nega que o local não esteja funcionando às sextas-feiras por falta de pessoal"O palácio abre impreterivelmente todas as sextas-feiras para atender as demandas internas e agendas oficiais e conta com seu quadro de pessoal integral e o número de servidores é adequado".

Quanto aos problemas com a exibição do material multimídia, foi informado que "está em andamento um termo de referência para a contratação da empresa responsável pelos vídeos que necessitam de manutenção."