Mateus Parreiras
Documento interno elaborado por funcionários que trabalham no Palácio da Liberdade, transformado em museu e aberto à visitação púbica desde agosto do ano passado, cita problemas na infraestrutura do prédio, tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), e alerta para problemas de segurança e conforto para as cerca de 4 mil pessoas que percorrem mensalmente seus históricos salões nos meses mais concorridosO Estado de Minas teve acesso ao relatório, visitou o palácio, integrante do Circuito Cultural da Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, e constatou os problemas citados no documento
Em 18 cômodos não há extintores de incêndio – em três deles, os suportes para aparatos de combate ao fogo estão vaziosResponsáveis pela equipe de guias denunciam que passadeiras não são seguras, o que pode causar tombosHá problemas também nos banheiros e no fornecimento de água, bem como no monitoramento de segurança e nos painéis de mídiaO governo de Minas reconheceu que há falta de extintores, mas disse que o problema é passageiro, informou que há projetos em andamento para a modernização do prédio histórico e manutenção dos equipamentos de multimídia, e contestou algumas informações contidas no relatório ao qual o jornal teve acesso.
O salão nobre, sala das medalhas, salão dourado, salão vermelho, salão de jantar, quarto dos governadores, quarto de vestir, gabinete do governador, sala de audiências, sala de espera, sala das secretárias e mais sete ambientes não dispõem de extintores de incêndioNo salão de jantar e em outros dois cômodos, suportes para o aparato de combate ao fogo estão vazios.
“Nosso equipamento de sinalização e combate a incêndio é precário, quase inexistente”, afirma um dos funcionários do museu, que pede para não ser identificadoNa carta que circulou entre mediadores de visitas e vigilantes, um dos responsáveis pela organização de exposições alerta para problemas de segurançaAdverte que o bem-estar dos turistas pode ficar comprometido por tapetes que forram o chão de madeira“No segundo piso, é necessária a substituição das passadeiras atuais, que apresentam sérios riscos de acidentes, além da expansão da área por elas cobertas”, afirma o textoA reportagem constatou também que boa parte do piso está exposta
Câmeras
A correspondência interna relata preocupação com a insegurança: “O palácio precisa da instalação de câmeras de segurançaO ideal seria termos em todos os cômodos (sic), mas, caso não seja possível, pelo menos na recepção”Outro trecho relata episódios recentes: “No sábado, 28/10, houve furto de dinheiro da mochila de três funcionários, e no domingo, 29/10, de um celular (também de trabalhador)”.
Hoje, o prédio completa 39 anos de tombamento pelo IephaEm 1897, o palácio foi inaugurado junto com a nova capitalCoube a ele abrigar a estrutura administrativa transferida de Ouro Preto para Belo HorizonteEstão preservados o mobiliário e cômodos onde despacharam vários governadores
Visitantes querem mais conforto
Os visitantes do Palácio da Liberdade reclamam da falta de confortoO passeio dura 40 minutos, em média
O interior dos banheiros é acanhadoOs dois pequenos cômodos ficam num barracão no jardimOntem, faltava papel toalha para secar as mãos no toalete masculinoSobre a pia, o sabonete líquido fica dentro de uma garrafinha de água mineral reaproveitada, com um furo na tampa servindo como dosador.
“Muitas vezes, os banheiros externos estão sujos, sem papel higiênico e sem assento sanitário, assim como o dos servidores, localizado em um andar intermediário dentro do palácio”, destaca o documento que circula entre os funcionários.
Visitantes e mediadores reclamam dos painéis de mídiaAlguns apresentam defeito, outros são automáticos e, como não podem ser controlados por guias, acabam não cumprindo o objetivo de informar“Quando você entra na sala, o vídeo está no meioNão dá para entender nadaAí os guias saem com a gente antes de terminar o filme”, reclama a carioca, Vilma Alves de Lima e Silva, de 54.
Obras previstas este ano
Em nota enviada pela Superintendência Central de Imprensa, o governo de Minas informa que a modernização e a melhoria do atendimento ao público que visita o Palácio da Liberdade estão contempladas no projeto de valorização do patrimônio cultural de Minas e que as obras serão iniciadas até marçoEstá prevista a construção de instalações na parte de trás do prédio, para dar mais conforto aos visitantes.
Quanto à segurança, a nota informa que o projeto de combate a incêndio foi aprovado em 2006, depois da restauração, e segue todas as normas do Corpo de BombeirosA ausência de extintores, segundo o estado, se deve à necessidade de recarga dos mesmos, e que a situação será normalizada no máximo em cinco diasO número de extintores hoje em uso, segundo a nota, é suficienteO estado também informa que 14 pessoas, entre funcionários e monitores do Palácio da Liberdade, foram capacitados como brigadistas de incêndio.
No caso das passadeiras, o governo nega que elas estejam desgastadas e apresentem riscos para os visitantes"As passadeiras são novas e têm borracha de proteção embaixo que evita escorregões", diz a nota, acrescentando que nunca foi registrado qualquer acidente do tipo desde que o palácio foi reabertoA falta de câmeras de segurança é reconhecida na nota, que informa a existência de planos de implantação do sistema em breve
Sobre os banheiros, o estado afirma que em todos os prédios históricos tombados, por questão de conservação, os "banheiros internos não são abertos ao público, como ocorre em outros países", e considera que os banheiros externos "atendem os visitantes de forma apropriada"Também foi informado que haverá ampliação das instalações destinadas ao públicoAinda segundo estado, há água suficiente para o públicoO Iepha também pretende instalar sombrinhas para proteger os visitantes do sol
As filas existem, segundo o documento enviado ao jornal pela Superintendência de Imprensa, porque o Palácio da Liberdade tem um limite de visitantes, definido pelo Corpo de BombeirosO governo também afirma que não registro de qualquer tipo de furto no palácio e nega que o local não esteja funcionando às sextas-feiras por falta de pessoal"O palácio abre impreterivelmente todas as sextas-feiras para atender as demandas internas e agendas oficiais e conta com seu quadro de pessoal integral e o número de servidores é adequado".
Quanto aos problemas com a exibição do material multimídia, foi informado que "está em andamento um termo de referência para a contratação da empresa responsável pelos vídeos que necessitam de manutenção."