Jornal Estado de Minas

Animais como cavalos e vacas invadem espaços habitados em BH

Moradores reclamam da presença deles nas ruas, por revirar lixo e pastar em canteiros e lotes vagos

Jorge Macedo - especial para o EM
Flávia Ayer
Estudante de odontologia, Ana Paula Lopes, de 23 anos, não esconde a satisfação de aproveitar o ambiente rural no meio da cidade - Foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press.

Nem bem amanhece na Vila Amizade, no Bairro Calafate, Região Oeste de Belo Horizonte, e Igor Ferreira, de 17 anos, vai buscar capim lá no Bairro Eldorado, em ContagemO cavalo Corisco, seu grande companheiro, tem fomeNesse horário, cavalos que perambulam pelo Bairro São Bento, na Região Centro-Sul, já estão enchendo a barriga com gramas bem cuidadas e sacos de lixo da elegante Avenida Bento SimãoAliás, por lá passam cavalos, vacas e a boiada inteiraHá também vacas – leiteiras – pastando em lotes vagos da Avenida Clóvis Salgado, no Bairro Bandeirantes, na PampulhaSemana passada, o menino Sérgio Gabriel Dias Vieiras, de 12, e seu cavalo Raio ficaram célebres ao cruzar avenidas movimentadas da cidade, mas os animais típicos do campo estão por toda parte na capital.

Apesar de darem ares bucólicos à metrópole de asfalto, nem sempre os bichos são recebidos com bons olhosNos bairros São Bento e Santa Lúcia, na Região Centro-Sul, falar do assunto é levantar polêmicaBois, vacas e cavalos pastam pela região, mexem nos lixos e não se intimidam com carrosOs animais são de moradores do Morro do Papagaio e, com os passeios diários, se integraram à paisagem dos bairros“É perigoso demaisIsso pode causar um acidente de trânsito

Outro dia, quase atropelei um animalEles comem lixo, não sabemos se podem atacar as pessoas”, afirma o morador do Santa Lúcia Adriano Andrade, de 44“Já conversei com o dono, que vende gás no bairro, mas ele não tomou providênciaSe alguém quiser ver animais, que vá ao zoológico”, dizOutro morador, o médico João Bosco Guimarães, de 64, não se incomoda com os bichos“Acho interessanteUma época, três bois ficavam pastando no lote ao lado da minha casaEles mugiam e parecia que estava numa fazenda”, conta, durante a caminhada “rural” na pista de cooperEnquanto o médico se exercita, dois cavalos pastam no passeio e um potrinho procura comida no lixo de uma das casas.

Cavalos na Rua José Osvaldo Araújo, no Bairro São Bento, Centro-Sul - Foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press.A prefeitura, por meio da Regional Centro-Sul, explica que a situação está sendo acompanhada e pretende recorrer a medidas judiciais para resolver a questão“O responsável já foi autuado pela Vigilância Sanitária por manter criatório de animais em residência
Além disso, notificações para providenciar o licenciamento da atividade de criação de animais e por perturbar os serviços de limpeza urbana foram emitidas pela fiscalização integrada”, informou, em notaApesar de os animais terem sido apreendidos, o responsável pagou as multas e pôde reavê-los.

 

LEITE
Entre as mansões do Bairro Bandeirantes, próximo à Avenida Clóvis Salgado, na Pampulha, vacas e bezerros pastam tranquilamente em um lote vagoNo fundo da paisagem, prédios e asfalto, mas o clima é de fazendaOs animais estão lá há seis meses e pertencem ao dono de um haras bem ao lado, Gleisson MonteiroQuem fala com carinho dos animais é a namorada dele, Ana Paula Lopes, de 23 anos, que ajuda a cuidar dos bichos e aprendeu até mesmo a ordenhá-las“Como Gleisson é do interior, não queria tomar leite de caixinhaAs vacas deram muito leite e a gente já fez muito queijo”, diz.

A estudante de odontologia, moradora do Bairro Caiçara, na Região Noroeste, não esconde a satisfação de aproveitar o ambiente rural no meio da cidade“É um refúgio”, define a moça, enquanto toca as vacas no pasto“To-to-to”, diz, feliz em ajudar, há cinco anos, o namorado nos afazeres do haras“Promovemos cavalgadas aqui na Pampulha”, dizUm dos clientes é o estudante de veterinária Marco Túlio Maziazeno, de 19Dono do agitado mangalarga Barão, ele não se conteve em criar animais apenas na fazenda“Venho aqui quase todos os dias e ando com o Barão na rua mesmo”, revela

Filho de carroceiro, Igor Ferreira, de 17 anos, e o seu cavalo Corisco - Foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press.Filho de carroceiro, Igor Ferreira, de 17, adotou a profissão há três anos e atrai olhares curiosos quando passa com o Corisco puxando a carroça ou servindo de montariaEle mora na Vila Amizade e trança para todos os lados com o bicho, até no Centro“Andar na cidade é ruim, porque o trânsito é muito movimentadoMeu sonho é ter uma roça”, dizEnquanto isso não acontece, ele vai improvisando o ambiente rural em meio urbano“Vou longe para buscar capimDou ração, troco ferradura e ponho Corisco para dormir dentro de casa”, conta.

 

 

 

Enquanto isso...

…Porco passeia na rua

Ontem de manhã, segundo o internauta Gleidson Barros, uma porca enorme atravessou a pista no cruzamento da Avenida Ivaí com Rua Deputado Cláudio Pinheiro de Lima, no Bairro Dom Bosco, Região Noroeste da capital.  O animal adulto, acompanhado de um leitão, usou a faixa de pedestres para passar de um lado para o outro da viaNinguém soube dizer quem é o dono dos porcos.