Mateus Parreiras
Implantadas nos últimos oito anos para melhorar o tráfego de Belo Horizonte, as chamadas mãos-inglesas, circulação pelo lado esquerdo, ainda são desrespeitadas e confundem motoristas e pedestres, com risco de acidentes. Mesmo a via implantada há mais tempo registra abusos, flagrados pela reportagem do Estado de Minas. Motoristas e pedestres cobram mais fiscalização nas cinco áreas com circulação invertida. Este ano, a medida já foi adotada na Avenida Carandaí, na região hospitalar, e na Avenida Silviano Brandão, no Bairro Sagrada Família. Nesses trechos, a mão-inglesa foi criada para facilitar o tráfego do Move (BRT). A BHTrans informou que, por ora, não fará novas inversões. Enquanto se buscam alternativas para dar fluidez ao trânsito, BH recebeu 79,8 mil veículos a mais em 2013 em relação a 2012, uma média de 218 por dia, ou nove por hora. A frota chegou a 1.580.625 em 31 de dezembro.
Bastaram 10 minutos no cruzamento da mão-inglesa para que dois motociclistas fossem vistos entrando à direita, da Contorno para a Professor Moraes. O movimento é proibido e muito perigoso, porque, apesar de o acesso dos veículos do sentido contrário estar fechado, o sinal de pedestres fica aberto quando as motos passam. Como resultado, quem cruzava a Professor Moraes a pé e pelo passeio precisou se desviar dos dois veículos para não ser atropelado. “Já vi vários acidentes ocorrendo aqui por causa da imprudência na mão-inglesa. Uma vez um ônibus que ficou preso no trânsito acelerou quando o sinal estava fechado e atropelou uma mulher que vinha olhando para o outro lado. Isso quando os motociclistas que só olham para o semáforo de pedestres não aceleram e quase atropelam as pessoas, sem ver que o sinal dos carros ainda está vermelho”, reclama a vendedora Vanessa de Oliveira Lemos.
CARANDAÍ A confusão de carros e motos entrando em pistas que se tornaram contramão e dando de frente com veículos em sentido oposto mostra que, cinco dias depois de sua implantação, a mão-inglesa na Avenida Carandaí ainda confunde muita gente. Nos 10 minutos que a reportagem esteve no local pelo menos quatro motociclistas e três carros erraram a entrada na mão-inglesa que leva da Avenida Alfredo Balena para a Contorno e ingressaram na pista do meio, que é o caminho do Centro para os hospitais. Quase bateram de frente com automóveis que circulavam no sentido contrário. Mas quem mais parecia perdido eram pedestrse, já que, apesar das alterações, ainda não foram pintadas faixas de travessia. “Está tudo muito confuso. O sinal aqui não está a nosso favor. Andei para cima e para baixo procurando onde atravessar e ainda não estou seguro se passei pelo lugar certo”, disse o aposentado João Osório, de 77 anos.
Na Avenida Silviano Brandão a grade para pedestres colocada no cruzamento da mão-inglesa com a Avenida Cristiano Machado foi destruída e restos de metal retorcidos sobraram como marca do perigo.
Para o doutor em engenharia de transportes Frederico Rodrigues, a implantação de mãos-inglesas foi acertada. “Principalmente para os pedestres, que estão acostumados a atravessar olhando primeiro para a esquerda e depois para a direita, essas alterações são perigosas e precisam de ter sinalizações enfáticas para alertar quem anda a pé”, disse. Segundo ele, por outro lado, a mão-inglesa torna os corredores mais rápidos.
“A BHTrans informou que a mão-inglesa organizou os cinco cruzamentos onde foi implantada, resultando na redução de 12 para oito semáforos.
Napoleão inverteu direção
Estudos da Universidade de Cambridge (EUA) revelam que a circulação pelo lado esquerdo era comum no Ocidente na Antiguidade devido ao tráfego de cavalos e bigas. Isso ocorria para que os cavaleiros, ao cruzar com outros, pudessem cumprimentá-los e até lutar com a mão direita livre. No no fim do século 19, Napoleão Bonaparte, que era canhoto, mandou inverter essa lógica e ao dominar a Europa, à exceção do Reino Unido, que reagiu e até permanece com o tráfego pela esquerda. Nos EUA, a circulação pela esquerda foi abandonada devido ao uso de carroças com muitos cavalos que precisavam ter os cocheiros à esquerda, chicoteando os animais com a mão direita.
CIRCULAÇÃO INVERTIDA
Julho/2006
Rua Professor Moraes (Savassi)
Desafogou o trânsito na Avenida do Contorno, no sentido Savassi, ao proibir conversão à direita na Rua Professor Moraes e à esquerda na Rua Grão Mogol.
Novembro/2008
Avenida Bernardo Monteiro (região hospitalar)
Adotada para receber o sistema metropolitano de ônibus e permitir desembarque de linhas nos hospitais, passando pela Avenida dos Andradas.
Março/2012
Rua Conselheiro Rocha (Horto)
Aliviou o trânsito para veículos que descem
a Rua Conselheiro Rocha entrar na
Avenida Silviano Brandão sem fechar o semáforo da avenida.
Janeiro/2014
Avenida Silviano Brandão (Sagrada Família)
Reduziu semáforos de três para dois ao permitir acesso direto dos veículos que trafegam entre as avenidas Cristiano Machado e Silviano Brandão
Janeiro/2014
Avenida Carandaí (região hospitalar)
Melhorou o fluxo na Avenida Alfredo Balena, com eliminação de um semáforo, e na Avenida Afonso Pena naquela direção, que não demandará mais interrupção do fluxo contrário
Fonte: BHTrans