Em um período de 20 dias, a loja de celulares de Joaquim Pires Figueiredo, de 47 anos, foi invadida duas vezes por homens armados, às 9h e às 15h30. “Estou aqui há dois anos e já vi vários assaltos no comércio ao lado. Numa sexta-feira foi a loja de água mineral, no sábado o salão de beleza, dois meses depois o restaurante ao lado”, reclama Joaquim. A 50 metros dele, uma loja de material de construção foi assaltada nove vezes em cinco anos. Recentemente, um ladrão foi morto pela polícia depois de atacar uma lanchonete e os clientes ficaram apavorados.
O dono da loja de celulares conta que dois adolescentes armados limparam a vitrine. “Fizeram terrorismo com os clientes. Tomaram o celular de uma mulher que estava chegando e um deles falou: ‘A senhora volta outra hora que a gente está assaltando’. Um dos ladrões subiu a escada comigo e o técnico. O outro ficou com um funcionário na parte de baixo. Falaram que se eu chamasse a polícia voltariam”, conta Joaquim, que instalou cinco câmeras de vigilância e não deixa mais celulares na vitrine. “O cliente compra um celular e volta um mês depois, dizendo que foi assaltado”, disse.
Eles atribuem a violência ao fato de o bairro estar perto do Anel Rodoviário, que é uma rota de fuga para os assaltantes. Há 15 dias, um casal armado tentou roubar o frentista Cléber Ferreira, de 29. “O homem apontou a arma depois de abastecer R$ 50 de gasolina. Saí correndo e eles fugiram no Punto preto deles”, disse. Em uma casa lotérica, a gerente Tatiane Rodrigues, de 31, contou que precisou instalar vidros blindados depois de um assalto. “Colocaram meu pai dentro do banheiro”, disse.
Semana passada, a vendedora Ana Amélia Rosa Pires, de 46, escapou de quatro homens que tentaram abordá-la em frente ao prédio onde mora. O modo de agir dos ladrões era o mesmo de dois irmãos gêmeos, de 24 anos, presos pela PM no último dia 5. Eles usavam o carro para encurralar suas vítimas e as ameaçavam com uma machadinha.
POR CONTA PRÓPRIA O administrador Marcelo Emediato, de 29, conta que os próprios moradores estão investindo em segurança. “Os assaltos têm sido frequentes e a preocupação é geral. Todo mundo está investindo em segurança nos prédios. Há policiamento, mas precisa ser mais ativo, com rondas noturnas e bicicletas”, disse.
Arrombamentos de carro também são frequentes, conta Gabriela de Oliveira, de 26, gerente de loja de móveis. “Há três universidades no bairro e os alunos deixam seus carros na rua. A gente chama a polícia e eles demoram 15 minutos para chegar”, disse ela.
O diretor de comunicação da Associação dos Moradores do Bairro Buritis, Paulo Gomide, conta que há alguns meses uma moça foi morta por ladrão depois de ser deixada em casa pelo namorado. “Antes, um empresário foi morto quando saía de um supermercado. Somos um número, uma estatística”, disse Paulo, reclamando da falta de policiamento principalmente à noite. “O discurso da PM é sempre o mesmo, de que os crimes estão diminuindo”, informou.
Comandante do 5º Batalhão da Polícia Militar, unidade responsável pelo policiamento no Bairro Buritis, o tenente-coronel Lupércio Peres garante que vai intensificar o policiamento depois da morte de Christiano, mas afirma que o Buritis já tem policiamento ostensivo. “Atualmente temos policiamento a pé, de bicicleta e de motocicleta, além da patrulha de operações, que faz rondas frequentes na região”, disse o tenente-coronel. Ele ainda cita o programa Polícia e Família, que está em curso no bairro, e as redes de vizinhos e comerciantes protegidos, que também estão em expansão no bairro, segundo ele.
O corpo de Christiano será sepultado hoje no Cemitério Parque da Colina, Região Oeste de BH. “Vamos cobrar por justiça. Lamentável essa violência”, disse o irmão dele, Gustavo. O bandido fugiu com um comparsa em um Fiesta prata e até a noite de ontem ninguém havia sido preso.
Depoimento/ André di Bernardi, jornalista
“Sou morador do Buritis há pelo menos 10 anos e, ao longo desta década, pude perceber o crescimento absurdo do bairro. Tudo isso, claro, trouxe benefícios e, também, muitos prejuízos. O maior deles: a violência. Na terça-feira, por volta das 22h40, estava no Bar Astron Beer, que fica na Avenida Mário Werneck, 1.070 (que, por sinal, na semana passada foi arrombado pela quinta vez), com minha mulher e minha filha, de apenas 3 anos. Foi quando ouvi três disparos. Assustadas, minha esposa e minha filha foram embora. Houve confusão e correria. Fui até o local e vi o Gol parado no canteiro central da Rua Senador Lima Guimarães e várias pessoas tentando socorrer o jovem Christiano D'Assunção, atingido por dois tiros. Passaram-se alguns minutos até a chegada dos médicos do Samu que, ainda no local, prestaram os primeiros atendimentos. Segundo testemunhas, Christiano teria sido vítima de um assalto, quando, ao tentar fugir, talvez assustado com a situação, acabou sendo alvejado. Os assassinos escaparam rapidamente em outro carro. Apesar do policiamento, é cada vez maior o clima de medo e tensão no bairro. O jovem Christiano tornou-se mais uma vítima.”