Jornal Estado de Minas

Carnaval antecipado com funk atormenta o Bairro Santa Tereza

Festas programadas pelas redes sociais resultam em perturbação do sossego e até atentado violento ao pudor

Garis recolheram um caminhão de lixo somente na Praça Ernesto Tassini - Foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press
O carnaval ainda não chegou, mas moradores da Praça Ernesto Tassini e das ruas Dores do Indaiá, Alvinópolis e Conselheiro Rocha, no Bairro Santa Tereza, Região Leste de Belo Horizonte, já sofrem as consequências da folia antecipada e movida a funk e música eletrônicaComo resultado, perturbação do sossego, transtornos no trânsito, atentado violento ao pudor, brigas, uso e tráfico de drogas, falta de estrutura como banheiros químicos e muita sujeiraDurante quatro madrugadas, de quinta-feira até domingo, moradores contam que não conseguiram dormir até as 5h por conta das festas programadas pelas redes sociaisA denúncia é que os eventos foram feitos sem autorização da prefeitura e dos órgãos de trânsito e segurança pública, informação confirmada pelo secretário da Regional Leste, Elso Matos

Na tarde de ontem, garis da prefeitura recolheram um caminhão de lixo na praçaA maior reclamação é com o barulho e a sujeira“Todos os dias tive que lavar a calçada da minha casa por causa do cheiro forte de urinaNinguém aguenta”, reclama a aposentada Marfisa Souza, de 74 anosOutras festas programadas pela internet preocupam os moradoresNa tarde de ontem, mais de 16,3 mil pessoas já haviam sido convidadas para um pré-carnaval no mesmo local, às 20h de quinta-feira, e 759 já tinham confirmado presença

Na quarta, a Associação dos Moradores do Santa Tereza se reúne com a Belotur para discutir o que o presidente Ibiraci do Carmo chama de “invasão desordenada e sem limites no Baixo Santa Tereza”
“Fazem uma convocação pela rede social, o pessoal chega e logo lotaNenhum morador do bairro está satisfeito”, reclamaO Movimento Salve Santa Tereza também marcou reunião para sexta-feira, em frente ao Mercado Distrital do bairro, para discutir o mesmo assunto e os preparativos para o carnavalTambém encaminhou pedido à BHTrans para limitar a entrada de veículos de fora no bairro durante o carnaval, como é feito em dias de jogos na Arena Independência, no HortoMoradores e comerciantes seriam credenciados e receberiam adesivos para seus carros.

O dono do Bar do Orlando decidiu fechar as suas portas no carnaval se a bagunça continuar“Estamos perdendo clientes incomodados”, disse Orlando Silva Siqueira, de 59A mesma decisão foi tomada pelos donos da Pizzaria do CardosoA dentista Clara Márcia de Oliveira, de 41, conta que voltava da academia às 22h quando se deparou com homens urinando na rua“Havia muito menor alcoolizado”, observou“Quebraram minha árvore, fizeram sexo explícito na rua, todo mundo alcoolizado”, disse a dona de casa Efigênia Martins, de 70
Segundo ela, a praça comporta no máximo 500 pessoas, mas chegou a ter 6 mil em algumas madrugadas“Nada é programadoNão tem estrutura para receber essa quantidade de pessoas, sequer um banheiro químico”, reclama.

A madrugada mais barulhenta foi de sexta-feira para sábado e não havia policiamento, segundo os moradores“Sábado para domingo não suportei tanto barulho e fui dormir na casa do meu namorado no Bairro Santa LúciaTelefonei para minha filha às 2h30 e ela estava acordadaParecia que o barulho estava dentro do quarto delaTanto é que eu briguei com ela achando que estava na rua”, disse a empresária Fabiana Sofia Carvalho, de 36, que mora na esquina da Alvinópolis com Dores de Indaiá

O barulho do fim de semana foi tão alto que pacientes com câncer da Casa de Apoio Beatriz Ferraz, distante um quarteirão da praça, não conseguiram dormir“Falta respeito com os doentesSão crianças e idosos debilitados com a radioterapia e a quimioterapiaEles precisam de descanso”, lamenta a irmã de caridade Heloísa Nunes, de 47“Vai chegando o carnaval e já é uma preocupação para nósO barulho é muito estridente”, disse a religiosa

POLICIAMENTO O chefe de comunicação social do 16º Batalhão da PM, tenente Francisco Barreto Neto, garantiu que a PM marcou presença e que não pode impedir o direito de ir e vir das pessoas“Estamos cientes do problema e a gente pode combatê-lo de imediato impedindo o som alto, o comércio ambulante, prendendo quem está com drogas, mas não podemos cercear o direito da pessoa de estar na rua”, informou o tenentePara o carnaval, o tenente disse que vai remanejar policiais de outras áreas.