Frei Cláudio van Balen vai retornar, já neste domingo, como celebrante da tradicional missa das 11h na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, no Bairro do Carmo, na Região Centro-Sul de Belo HorizonteA decisão foi tomada, nessa segunda-feira, pela Província Carmelita de Santo Elias, responsável pela paróquia, depois de reunião com o religioso, de 80 anosDe acordo com os superiores da ordem, frei Cláudio presidirá a missa das 19h, realizada às sextas-feiras“A suspensão foi consequência de uma reação lamentável ocorrida durante a missa das 11h, de 26 de janeiroTivemos o encontro com o frei Cláudio e ficou acertado o retorno da celebração eucarística e a volta dele como sacerdoteSempre mantivemos o diálogoO cancelamento foi temporário”, disse, ontem, o pároco frei Evaldo Xavier Gomes, recém-eleito prior provincial (superior) da Ordem dos Carmelitas no Brasil para as regiões Sul e SudesteEle adiantou que comunicou a decisão às autoridades diocesanas.
Diante da “nota de esclarecimento” divulgada anteontem pela Arquidiocese de Belo Horizonte, “na qual se reconhece ser da responsabilidade dos freis a definição de horários de missas e seus celebrantes”, a Província Carmelita informou estar “em sintonia com esse conteúdo e concorda com a permanência do frei no altar”A decisão de cancelar os cultos dominicais foi decidida pelos superiores da província e da Arquidiocese de BH, no dia 27
“Prevaleceu o bom senso”, afirmou ontem, diante da Igreja do Carmo, o engenheiro ambiental Cláudio Guerra, paroquiano e amigo há mais de três décadas do frei holandêsOrganizador, em parceria com Mauro Passos, do livro Artesão de fé, Guerra ficou feliz com a decisão de manterem o religioso no altar
Admirador das ações do religioso, a quem conhece desde 1981, Guerra lembrou que frei Cláudio nunca foi personalista e não teve nada a ver com o que ocorreu na missa do dia 26“Não estou falando que ele é santo, pois todos nós temos defeitos”, ponderouPessoas ligadas a frei Cláudio informaram que ele ainda não vai se manifestar sobre a voltas às missasO Estado de Minas entrou em contato, por telefone, com o religioso, e ele disse que somente o prior provincial se manifestaria a respeito da decisão.
CONFUSÃO A relação entre a Paróquia do Carmo e frei Cláudio se tornou conturbada nos últimos quatro anos – em 2010, os frequentadores das missas chegaram a fazer abaixo-assinado para mantê-lo na Igreja do Carmo, tendo em vista a ameaça de ele ser afastado das celebraçõesA missa do dia 26, geralmente frequentada por mais de 1 mil católicos, foi a gota d’água nessa históriaUm grupo de fiéis impediu a realização do culto por não concordar com a ausência do frei no altarDe acordo com a ordem carmelita, o horário, por ter mais fiéis, em especial as famílias, foi escolhido para comunicar o nome do novo pároco, o padre Wilson da Mota Fernandes, de 31 anos, e que o frei Evaldo foi eleito prior provincial (superior) da Ordem dos Carmelitas no Brasil para as regiões Sul e Sudeste.
Um vídeo postado por um anônimo na internet mostra cenas que misturam gritos, vaias aos sacerdotes que iriam presidir a celebração, bate-boca, rostos amedrontados e lágrimas
Ações sociais e sermões engajados
Em mais de quatro décadas na Paróquia Nossa Senhora do Carmo, que começou em 8 de dezembro as comemorações do seu cinquentenário de fundação, frei Cláudio van Balen conquistou uma legião de fiéis admiradores com sermões engajados e, muitas vezes, controversosNo dia a dia, sempre estimulou a prática de ações sociais e desfiou assuntos polêmicos, tanto para a Igreja Católica quanto para a ciência, como aborto, eutanásia, homossexualismo, divórcio e até a transposição do Rio São Francisco, tema que virou presépio ocupando quase toda a nave da igreja.
Nascido na Holanda, coube ao garoto Jildert – nome de batismo – a escolha de vir para o Brasil, aos 16 anos, ainda na condição de seminarista, com um grupo de sete jovens holandeses, estudantes carmelitas da Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte CarmeloDos oito, quatro concluíram a formação sacerdotal e, desses, dois perseveraram no sacerdócioFrei Cláudio é o único sobrevivente no Brasil
Após dois anos de estudo ginasial em Itu (SP), um ano de estágio em Mogi das Cruzes (SP), três de filosofia e quatro de teologia em São Paulo, ele também se formou em letras clássicasFoi ordenado em dezembro de 1959De 1960 a 1964, quando se encontrava em Roma, preparando-se para o doutorado em teologia dogmática, conviveu com o clima de renovação que iria desembocar no Concílio Vaticano IIEle conta que, na ocasião, teve a oportunidade de presenciar “uma significativa – embora passageira – mudança na Igreja Católica, em doutrina e pastoral”No retorno ao Brasil, depois de três anos por São Paulo, foi transferido para Belo Horizonte, onde daria aulas de teologia e trabalharia na paróquia do Carmo