Juliana Ferreira
“Essa discussão não é somente com os patrões, mas com órgãos de segurança pública. Cobramos fiscalização nos veículos, mas há deficiência. A gente precisa de ação preventiva. Após a agressão ou o homicídio, não adianta”, diz o diretor de comunicação do sindicato, Carlos Henrique Marques. Segundo ele, a entidade se reúne constantemente com a Polícia Militar, mas as conversas não são suficientes. “Falta punição”, reclama.
A reportagem do EM embarcou na linha 9250 (Caetano Furquim-Nova Cintra via Savassi), a mais longa da cidade, com 112 pontos de parada, e ouviu as queixas. “É uma profissão horrível”, reclama a cobradora Luciana Pimentel, de 21 anos. Todos os dias, ela diz que ouve palavrões, insultos e cobranças sobre atrasos de horário. Sem contar os passageiros que têm segundas intenções: assaltar. A jovem já foi ameaçada por bandidos armados.
Colega de profissão, o motorista Ênio Lopes conta que a paciência é essencial para não perder a razão. “Aumentou também o vandalismo. Muitos surfam no carro, quebram janelas e fumam drogas aqui dentro. E não posso fazer nada”. É com muita tristeza que ele vê a situação da profissão, herdada do pai, aposentado como motorista de ônibus.
São poucos os que chegam lá. Alguns não aguentam a pressão e nunca mais voltam ao volante. A linha 9250 tem um histórico longo de motoristas que abandonam o veículo em meio à viagem. Um deles foi Rodrigo Coelho Gomes Jorge, de 35, após ter a passagem bloqueada por uma caminhonete na Avenida Getúlio Vargas. A solução foi pedir demissão. Já A.P.S., de 60, começou tratamento médico depois de fazer o mesmo na Avenida Mário Werneck, no Bairro Estoril, ao ser chamado de mentiroso por uma passageira.
SEGURANÇA A PM informou que faz operações periodicamente em coletivos. Em BH, segundo a coronel Cláudia Romualdo, comandante do Policiamento da Capital, militares atuam nos grandes corredores e fazem abordagens quando há suspeita. Alguns andam nos veículos em parte do trajeto para verificar o ambiente.
O Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) informou que faz reuniões com a polícia e aconselha os trabalhadores a não se envolverem em brigas. Já o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros da Região Metropolitana (Sintram) diz que investe em ações preventivas para amenizar o estresse causado pelo trânsito, como atividades recreativas. Depois de uma reunião na quarta-feria, o Ministério Público do Trabalho (MPT) convocou audiência com os sindicatos patronais e outras autoridades para discutir o problema em 31 de março.