Jornal Estado de Minas

Frei Cláudio celebra primeira missa após afastamento e diz que sentiu-se num exílio

Religioso agradeceu os fiéis ao voltar a celebrar missa na Igreja do Carmo e diz que não vai mudar seu discurso

Landercy Hemerson

"O que passou, passou. E cada um deve assumir o que lhe cabe. Com engajamento, compromisso com a comunidade" - Frei Cláudio van Balen - Foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS


Frei Cláudio está de voltaO retorno ao altar da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, ontem à noite, não podia ser em melhor data“Exatamente em 7 de fevereiro de 1967 cheguei à paróquia”, contou Cláudio van Balen, de 81 anos, que em quase 50 anos à frente da igreja, que fica na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, já se viu envolvido em algumas polêmicas por sua pregação aberta de tendência socialEstilo que ao mesmo tempo conquistou centenas de fiéis, que se orgulham de serem chamados de “claudianos”Em seu último afastamento do altar, em 26 de janeiro, os claudianos reagiram com indignação e protestos, reivindicando sua volta as missas das sexta-feiras, às 19h, e aos domingos, às 11h, na paróquia.

A celebração de ontem não foi marcada por críticas ao afastamento do frei Cláudio, que logo no começo usou de seu bom humor, ao ter que trocar a bateria do microfone sem fio, que descarregou“Eu estava descarregado e você me carregaram”, disparouNa homilia, momento em que o celebrante comenta a liturgia da palavra, o tom crítico ficou por conta da falta de amor dos religiosos para com os fiéis“Esta é uma palavra de exílioSomos cheios de pecado e Deus sempre nos dá uma abraçoDevemos ser uma igreja acolhedora, que não transmita uma religiosidade fora do amor, da compaixão”.

Após o culto, Frei Cláudio admitiu que se viu exilado“Sim
Senti-me num exílio, não muito aceito por algumas pessoasSe as autoridades pudessem ficar livres de mim, iriam tocar o sinoMas elas sentaram, avaliaram, ouviram o povo, me deram mais uma chance e sou grato as autoridadesO religioso demonstra que não vai mudar seu discurso“Sou polêmicoVi meu pai, com 11 filhos em casa, dar abrigo aos perseguidos pelo regime nazistaCriança, ouvia o padre dizer aos fiéis para não seguir a ideologia nazistaMansinho, só mesmo quando eu morrer”.

Ao final da missa, o frei perguntou aos fiéis se eles queriam ouvir uma palavra sua“Muito obrigado”, disse ele”, que foi aplaudido de pé por 30 segundos“O que passou, passou
E cada um deve assumir o que lhe cabeCom engajamento, com compromisso com a comunidadeDe minha parte, foi bom, para assim poder refletirComo vocês, fico muito grato”

Entre os fiéis, o clima não era apenas de gratidão pelo retorno de Cláudio van Valen, mais muito mais de alegriaA socióloga Magda Vilela, de 50, que participou do movimento para o retorno do frei, comemorou“Estou muito felizA comunidade está felizVenceu o bom sensoFrei Cláudio é o nosso pastor, que está de volta”, disse a socióloga, que considerou todo episódio como uma “falta de comunicação” entre as partes.

A pensionista Maria Inês Mendes, de 91, a dona Nézia, só não estava mais feliz, pois a missa também marcou a intenção pela alma de seu marido, José Romualdo, falecido há um mês“Há 62 anos frequento as missas nesta paróquia e desde que o Frei Cláudio assumiu venho acompanhando suas celebrações, que me trazem muita alegria”O casal Leonardo Magalhães, de 43, e a namorada Bianca Ferreira, de 35, também foram à missa ontem, depois de confirmado o retorno do frei“Foi maravilhosa a homiliaA comunidade não podia ficar sem ele”, disse Bianca, que pela primeira vez assistiu uma celebração de Cláudio.