Frei Cláudio está de volta. O retorno ao altar da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, ontem à noite, não podia ser em melhor data. “Exatamente em 7 de fevereiro de 1967 cheguei à paróquia”, contou Cláudio van Balen, de 81 anos, que em quase 50 anos à frente da igreja, que fica na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, já se viu envolvido em algumas polêmicas por sua pregação aberta de tendência social. Estilo que ao mesmo tempo conquistou centenas de fiéis, que se orgulham de serem chamados de “claudianos”. Em seu último afastamento do altar, em 26 de janeiro, os claudianos reagiram com indignação e protestos, reivindicando sua volta as missas das sexta-feiras, às 19h, e aos domingos, às 11h, na paróquia.
A celebração de ontem não foi marcada por críticas ao afastamento do frei Cláudio, que logo no começo usou de seu bom humor, ao ter que trocar a bateria do microfone sem fio, que descarregou. “Eu estava descarregado e você me carregaram”, disparou. Na homilia, momento em que o celebrante comenta a liturgia da palavra, o tom crítico ficou por conta da falta de amor dos religiosos para com os fiéis. “Esta é uma palavra de exílio. Somos cheios de pecado e Deus sempre nos dá uma abraço. Devemos ser uma igreja acolhedora, que não transmita uma religiosidade fora do amor, da compaixão”.
Após o culto, Frei Cláudio admitiu que se viu exilado. “Sim. Senti-me num exílio, não muito aceito por algumas pessoas. Se as autoridades pudessem ficar livres de mim, iriam tocar o sino. Mas elas sentaram, avaliaram, ouviram o povo, me deram mais uma chance e sou grato as autoridades. O religioso demonstra que não vai mudar seu discurso. “Sou polêmico. Vi meu pai, com 11 filhos em casa, dar abrigo aos perseguidos pelo regime nazista. Criança, ouvia o padre dizer aos fiéis para não seguir a ideologia nazista. Mansinho, só mesmo quando eu morrer”.
Ao final da missa, o frei perguntou aos fiéis se eles queriam ouvir uma palavra sua. “Muito obrigado”, disse ele”, que foi aplaudido de pé por 30 segundos. “O que passou, passou. E cada um deve assumir o que lhe cabe. Com engajamento, com compromisso com a comunidade. De minha parte, foi bom, para assim poder refletir. Como vocês, fico muito grato”.
Entre os fiéis, o clima não era apenas de gratidão pelo retorno de Cláudio van Valen, mais muito mais de alegria. A socióloga Magda Vilela, de 50, que participou do movimento para o retorno do frei, comemorou. “Estou muito feliz. A comunidade está feliz. Venceu o bom senso. Frei Cláudio é o nosso pastor, que está de volta”, disse a socióloga, que considerou todo episódio como uma “falta de comunicação” entre as partes.
A pensionista Maria Inês Mendes, de 91, a dona Nézia, só não estava mais feliz, pois a missa também marcou a intenção pela alma de seu marido, José Romualdo, falecido há um mês. “Há 62 anos frequento as missas nesta paróquia e desde que o Frei Cláudio assumiu venho acompanhando suas celebrações, que me trazem muita alegria”. O casal Leonardo Magalhães, de 43, e a namorada Bianca Ferreira, de 35, também foram à missa ontem, depois de confirmado o retorno do frei. “Foi maravilhosa a homilia. A comunidade não podia ficar sem ele”, disse Bianca, que pela primeira vez assistiu uma celebração de Cláudio.