Pedro Ferreira
O estudante de engenharia de produção Matheus Salviano Botelho de Morais, de 21 anos, que ainda não havia superado o trauma de ter sido assaltado duas vezes, morreu baleado por dois ladrões que levaram seu veículo Punto, às 22h de anteontem, na esquina das ruas Almirante Tamandaré com Estácio de Sá, no Bairro Gutierrez, Região Oeste de Belo Horizonte. O crime ocorreu apenas 10 dias depois do assassinato do fisioterapeuta e funcionário da Câmara Municipal de Belo Horizonte Christiano D’Assunção Costa, de 34, morto em circunstâncias parecidas, dentro do seu carro, quando saía da academia, no Bairro Buritis, também na Região Oeste da capital. O comandante do 22º Batalhão da PM, tenente-coronel Eucles Figueiredo Honorato Júnior, reconhece que os roubos e furtos aumentaram na área, mas garante que há policiamento.
No assassinato de Matheus, duas testemunhas do prédio em frente viram o rapaz ser abordado pelos ladrões e contam que ele não reagiu. “Foi um ato de covardia. Dois homens jovens, bem vestidos e armados, já chegaram gritando ‘sai do carro, sai do carro’ e dispararam dois tiros na vítima. Ela saiu do carro, levou o terceiro tiro, saiu cambaleando e caiu na calçada. Os ladrões entraram no carro dele e fugiram em alta velocidade”, contou a testemunha, que coincidentemente é amigo do irmão da vítima.
O tio de Matheus, o empresário Benedito Rezende, de 58, mora em um prédio próximo e conta que chegava em casa e ficou curioso com a movimentação de pessoas na esquina. “Perguntei ao porteiro o que estava acontecendo e ele me disse que um rapaz havia sido baleado por assaltante. Entrei no apartamento e o telefone estava tocando. Era o pai dele dando a notícia”, contou Benedito.
MEDO Matheus foi morto depois de visitar um amigo que se recupera de uma cirurgia. “Ele parou o carro na esquina e quando voltou para apanhá-lo foi abordado pelos marginais. A família, amigos, colegas de escola, todos estão transtornados. A gente espera que esse crime seja apurado, que a justiça seja feita e que outros pais não passem pelo mesmo sofrimento que estamos passando”, lamentou o tio. “Sabemos que Matheus jamais reagiria a um assalto. Ele já tinha sido assaltado outras vezes e nunca reagiu”, acrescentou. “É preciso que se faça alguma coisa para acabar com essa violência. Era um menino tranquilo, cheio de vida, alto-astral, alegre, brincalhão. Tinha muitos sonhos”, concluiu. Matheus era o mais velho de dois filhos e morava com os pais, segundo Benedito.
Uma amiga conta que o estudante era tão traumatizado com assalto que a namorada dele voltava para casa de táxi para ele não precisar tirar o carro da garagem. “Até para ir a pé para a academia, que fica a um quarteirão da casa dele, Matheus pedia à mãe para acompanhá-lo”, disse a amiga.
Segundo moradores, os assaltos são frequentes no bairro. “Já fui assaltada várias vezes e presenciei muita gente sendo roubada. Motoqueiros passam e levam a bolsa das pessoas”, conta a estudante Laura Sá Fortes, de 22. “Roubam muito carro por aqui. A polícia aparece, mas depois desaparece e os bandidos voltam para atacar”, disse o porteiro de um prédio. “Chego em casa e olho para todos os lados antes de abrir a garagem. Já fui assaltado duas vezes e já fizeram arrastão no meu prédio”, disse outro morador. O corpo de Matheus será sepultado hoje, às 10h, no Cemitério Parque da Colina.